PUC-Rio

Jornal/Revista: Folha de S. Paulo
Data de Publicação: 28/10/1990
Autor/Repórter: Sônia Apolinário

GLOBO VOLTA AO MODELO TRADICIONAL DE NOVELAS

Uma novela tradicional, "sem loucurinhas". Assim o escritor Cassiano Gabus Mendes definiu "Meu Bem Meu Mal", que estréia amanhã, às 20h30, na Globo. A história pretende resgatar o "jeito Janete Clair de ser": personagem definido como vilão ou mocinho e muita intriga, tendo o amor e o ódio como motores.

Foi o público que pediu. "Rainha da Sucata", de Sílvio de Abreu, deveria ser uma chanchada. Terminou como dramalhão. A mudança começou em junho. Até este mês, a novela tinha uma média entre 52% (Rio) e 59% (SP). Em outubro, a média ficou entre 56% (Rio) e 63% (SP).

"O público desse horário gosta de coisas mais sérias", disse Cassiano, 63. Ele e Sílvio de Abreu são os "reis" do horário das 19h e das comédias com "loucurinhas". É para esse horário que Cassiano prefere criar. Ele, porém, disse não se sentir "amarrado" ao ter que escrever para às 20h30. "Estou na minha 11 a novela. Sei trabalhar", disse.

"Meu Bem Meu Mal" foi escrita às pressas. A substituta de "Sucata" seria "Araponga", que passou para as 21h30. Cassiano começou a escrever há dois meses. A Globo encomendou uma história de amor. "Não tive muito tempo para pensar. Vou me basear mais no folhetim e atacar o problema do amor que está meio fora das telas", disse Cassiano.

A história, dirigida por Paulo Ubiratan, Reinaldo Boury e Ricardo Waddington, gira em torno da disputa pelo poder da empresa Venturini Designers, cujo proprietário é Lázaro (Lima Duarte). 30% das ações, porém, pertencem a Ricardo (José Mayer), uni viúvo vidrado pela filha Jessica (Mila Christie). Entre os dois está Isadora (Sílvia Pfeifer), uma mulher ambiciosa que tem planos para assumir a direção da empresa.

Se, ao escrever comédia, Cassiano se preocupava com a verossimilhança de personagens e situações, no drama, a preocupação do escritor é com o ridículo. Para o diretor Reinaldo Boury, 58, o limite entre o "ridículo e o aceitável" está na interpretação dos atores.

PRODUÇÃO ESTÁ ATRASADA 20 CAPÍTULOS - Como "Rainha da Sucata", "Meu Bem, Meu Mal" é uma novela urbana, ambientada em São-Paulo. Seu trio de diretores é o mesmo de "Tieta". Na opinião do diretor Reinaldo Boury, houve na Globo "um certo deslumbre" com as farsas. "Havia um sentimento de que as coisas deveriam 'mudar. Mudaram tanto que tivemos que voltar ao passado", disse.

Para ele, o tom farsesco de "Tieta" agradou o público por causa do seu lado "picante", que brincava com a malandragem do brasileiro. "O fato de 'Sucata' ser mais moderna não agradou. Ela virou um novelão, no final. Acho que o povo gosta de sofrer um pouco", disse Boury.

"Meu Bem Meu Mal" está sendo escrita e dirigida às pressas. Cassiano Gabus Mendes costuma iniciar uma novela com 40 capítulos escritos. Dessa vez, vai começar com 20. As gravações em estúdio começaram há 15 dias. "Estão suando frio para colocar a novela no ar'', disse Cassiano.

Segundo Boury, o desafio deste trabalho está sendo o de não deixar a correria comprometer a qualidade da novela. Ele disse que não houve "tempo hábil" para se estudar os personagens. Na hora de montar o elenco, o que prevaleceu foi a caça aos atores que não estivessem comprometidos nem com a Manchete nem com o SBT.

Foi por causa da "escassez de atores" que alguns personagens-chave ficaram na mão de iniciantes como 'Adriana Esteves (Patrícia), Lysandra Souto (Vitória), Mila Christie (Jessica) e Fábio Assunção (Marco Antonio). "Ainda não foi o caso da Globo optar por caras novas. O que houve foi mesmo necessidade", disse.

Na história, a mimada Jéssica tenta se livrar do domínio do pai Ricardo. Ele será seduzido pela vingativa Patrícia, que almeja recuperar um status social perdido. Vitória é rebelde, ao contrário do irmão Marco Antonio, que se submete aos caprichos da mãe, Isadora. "As garotas são três pimentinhas, sempre do contra. Todo esse pessoal jovem tem um grande potencial", disse Boury.

CONHEÇA OS PERSONAGENS DA NOVELA

- Lázaro (Lima Duarte) - Patriarca da família Venturini e principal acionista da empresa de design. Autoritário e amargo, tenta controlar a vida de todos da família. A morte do filho Cláudio (Herson Capri) abre uma disputa pelo poder na empresa.

- Isadora (Sílvia Pfeifer) - Viúva de Cláudio. Mulher elegante, dissimulada, dominadora e ambiciosa. Tenta ocupar o lugar do marido na empresa, mas é impedida pelo sogro. Faz de tudo para manipular seus filhos contra o avô.

- Marco Antonio (Fábio Assunção) -Filho de Isadora e Cláudio. É completamente dominado pela mãe. Submete-se à vontade dos outros. Isso o torna uma pessoa insegura. Sente-se oprimido. A mãe o afasta da namorada.

- Vitória (Lysandra Souto) - Não aceita ser dominada pela mãe Isadora. Rebelde, de personalidade forte, só faz o que tem vontade. Sem saber, envolve-se numa vingança ao namorar Doca (Cássio Gabus Mendes).

- Ricardo (José Mayer) - Homem ambicioso e inescrupuloso. É viúvo de um casamento que não deu certo. Adora a filha Jessica (Mila Christie), que lhe dá vários problemas. Por deter 30% das ações da empresa, é um "calo'' para Lázaro.

- Berenice (Nívea Maria) - Viúva, de personalidade forte. Trabalha como Manicure um salão de beleza luxuoso. Mãe de Fernanda (Lídia Brandi). Para vingar a filha, vai aprontar com Isadora armando uma cilada para Vitória.

- Fernanda (Lídia Brandi) - Filha de Berenice. No início da história, é namorada de Marco Antonio. Sofre com o fim do romance. Mulher simples e meiga, não vai concordar com os planos que a mãe arma contra Vitória.

- André (Marcos Paulo) - Tem uma pequena cota de ações da empresa de design. De origem pobre, é assessor de Valentina (Yoná Magalhães), irmã de Lázaro que volta da Europa para assumir o lugar do sobrinho na empresa.

- Ana Maria (Luma de Oliveira) - Modelo fotográfico em final de carreira. Sem caráter, será usada por Isadora para tentar derrubar Ricardo (José Mayer) da empresa de design. É parasitária e só se garante pela beleza.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 13776