PUC-Rio

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 22/08/1982
Autor/Repórter:

(SEM TÍTULO)

Entre Belisa Ribeiro, Renato Machado e Luciana Villas Boas há, além da profissão, um forte ponto em comum: estão todos absolutamente apaixonados pelo que fazem agora e se confessam deslumbrados com a força, a beleza e o poder da imagem. Acostumados a trabalhar usando apenas a linguagem escrita, de repente sentem-se dominados e desafiados pela linguagem visual que a televisão oferece e exige. Luciana, que já havia enfrentado as câmaras anteriormente, na TV Educativa, mas ainda está um pouco assustada com a mudança que sua vida sofreu nos últimos meses, comenta:

- O trabalho que fazemos atualmente é tão estimulante e absorve tanto nosso tempo, que eu, por exemplo, não consigo adormecer antes dos duas e meia da madrugada. Belisa diz que sua maior preocupação e mostrar-se compreensiva com os convidados do programa:

- Sei muito bem que como é o nervosismo que eles sentem, porque já passei por isso. A gente pode estar inteiramente segura de que do que está fazendo, do que vai falar, mas a câmara realmente assusta um pouco. Eu ainda não me acostumei e estou desde novembro na Globo e no vídeo. Como sou muito exigente comigo mesma, sempre acho que o que fiz poderia ser melhor.

O jornalismo parece não ter segredos para Renato Machado, que iniciou sua carreira há 15 anos, na Rádio BBC de Londres.

- Comecei numa época muito especial. Entre 67 e 68, aconteceram coisas importantíssimas no mundo: os primeiros movimentos de contestação nos Estados Unidos, o assassinato de John Kennedy, a guerra do Vietnã, os Beatles, a minissaia. Eu estava em Londres e isso me influenciou muito na escolha da política internacional como setor de especialização, onde trabalhei muitos anos. Aprendi muito, mas também descobri coisas novas, essenciais até, com a televisão. Ela tem a imagem, o tempo, o minuto. Este imediatismo da TV faz com que a gente viva sempre num clima de envolvimento total, dentro da alta temperatura das matérias, do que está acontecendo e a imagem está mostrando. Belisa, Renato e Luciana estão ligadas no ''Jornal da Globo'', embora, oficialmente, comecem a trabalhar às 13 horas, quando se reúnem para discutir as matérias que vão apresentar à noite. Depois, saem para as reportagens de rua e, no final da tarde, voltam para escrever e editar o material colhido. Em seguida, uma rápida passadinha em casa para troca de roupa e a volta à redação para os preparativos finais, antes de o programa entrar no ar. Enquanto vai em casa, Belisa aproveita para conversar com os filhos, Gabriel e Thiago, de 9 e 4 anos, sobre os acontecimentos do dia:

- Quando vim para a Rede Globo, sabia que o trabalho, com o qual tenho sempre uma relação de entrega total, ia me absorver multo. Expliquei aos meus filhos que ia ter menos tempo para estar com eles e prometi compensar nos fins de semana, quando salmos para longos passeios. Solteira, Luciana mora com os pais, enquanto decora um apartamento para se mudar no fim do ano, e está concluindo o curso de Comunicação pela manhã. Formada em História, até pouco tempo pensava em ser apenas professora universitária:

- Resisti ao jornalismo porque minha família toda é ou foi jornalista e eu queria ter uma vida acadêmica, dedicada somente aos estudos. Mas, curiosamente, meu primeiro emprego foi na Rádio BBC, em Londres, onde fui morar aos 18 anos. Trabalhei lá dois anos. Na volta ao Brasil, me formei e não pensava em jornalismo. Fui para a TV Educativa como roteirista e acabei apresentando pequenos programas, até o convite para o ''Jornal da Globo". Ainda não deu para me adaptar à nova vida e sinto falta de tempo para correr oito quilômetros diariamente, como fazia antes.

Renato Machado foi contratado inicialmente pela Rede Globo para fazer o ''Globo Repórter''. Com a guerra das Malvinas passou a fazer comentários nos telejornais. Participou também de quatro programas da série "Sem censura" e, durante a Copa do Mundo, passou um mês trabalhando no escritório da emissora em Londres. Solteiro, morando sozinho, Renato conta que ouvir música - "de preferência erudita, de preferência moderna" - é o que mais gosta de fazer. Mas também não esconde que adora preparar um bom prato e garante que a comida, quando é feita por quem gosta de cozinhar, tem um gosto diferente. Como quem gosta de comer bem gosta de beber bem, sua paixão são os vinhos:

- Tenho uma grande biblioteca especializada no assunto, mas infelizmente não tenho dinheiro para ter a adega que gostaria. Não bebo sempre os melhores vinhos, mas sei tudo sobre eles.

Fora do trabalho, Belisa, Renato e Luciana se ocupam de coisas diferentes, mas têm ainda um outro ponto em comum: gostam muito de ler, estudar e, principalmente, de se manter informados sobre todos os acontecimentos.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 91227