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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo Data de Publicação: 03/10/2004 Autor/Repórter: Carol Knoploch
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NOVA 'ESCRAVA ISAURA' TAMBÉM CANTA CAYMMI
Embora o diretor Herval Rossano goste de dizer que não se lembra da primeira versão da novela, dirigida por ele mesmo na Globo, as gravações que o Estado acompanhou indicam semelhanças propositais com a versão de 1976
Cena 4, capítulo 11: Leôncio (Leopoldo Pacheco) discute com o escravo André (Déo Garcês), ameaça matá-lo, mas Isaura (Bianca Rinaldi) o salva. A reportagem do Estado acompanhou a gravação desta cena, de A Escrava Isaura (com A, igual ao livro de Bernardo Guimarães), da Record, em um sábado, nos novos estúdios da emissora, na Barra Funda.
Com direção de Herval Rossano, que também comandou a primeira versão, na Globo (1976), o folhetim da Record tem estréia prevista para 18 de outubro, às 18h45. A adaptação é de Tiago Santiago e Anamaria Nunes. Durante a visita do Estado foram gravadas 19 cenas. A produção chegou bem cedo e os atores, 17 (são 33 os nomes fixos), por volta das 11 horas. Entraram em estúdio às 13 horas. Gabriel Gracindo (Henrique, filho de Sebastião, vivido por Paulo Figueiredo, cunhado do Leôncio) foi o recordista do dia: gravou 14 cenas.
Leopoldo, Bianca e Déo fizeram a mesma cena, a primeira do dia, dezenas de vezes. Aperfeiçoaram detalhes, mudaram diálogos. Uma coronhada em André, que cai sangrando no chão, não estava prevista. “Pode dar mais forte no braço?”, pergunta Leopoldo a Herval.
“E o cara do sangue? Mais suor, mais suor...”: as ordens do assistente de direção Paulo Soares eram para o responsável pela caracterização do elenco, Claudinei Hidalgo, que manda comprar sangue cenográfico na Alemanha. E lá vai ele manchar o ator com a tinta e borrifar água na camisa para dar a impressão de que o escravo transpira. A cena se passa na sala da casa do comendador Almeida (Rubens de Falco), cenário que é fixo no estúdio M, onde a sala de jantar também fica sempre montada. O quarto de Leôncio e os de hóspedes são montados quando necessários. No estúdio L, os cenários fixos são os das salas da casa do conde Campos (Carlo Briani) e da casa do coronel Sebastião (Paulo Figueiredo).
Um grupo de figurantes esperou horas para gravar a cena seguinte, a do velório de Gertrudes (Norma Blumm). Nas cenas externas, na fazenda Santa Gertrudes – a mesma usada por Lúcia Veríssimo em Esperança –, essas mesmas pessoas estavam com o figurino bem mais alegre para o casamento de Leôncio e de Malvina (Maria Ribeiro). Chegaram às 11h30. Passaram pela maquiagem, colocaram roupas pretas, fechadas, e esperaram até as 16 horas, quando entraram no estúdio para o ensaio. Voltaram para Rio Claro às 20 horas. “Já entrei chorando, de tanto que esperei”, brincou Elaine Klain Florindo, de 40 anos. A filha Graziela, de 17 anos, também é figurante da novela.
Toda a produção ocupa um corredor inteiro ao lado dos novos estúdios, que somam 1 mil metros quadrados. É lá que estão os vestiários feminino e masculino, o camarim (comum a todos), as salas da produção, a do cafezinho... Todo o figurino fica em uma única sala. Foi feito especialmente para a novela, já que a emissora não tinha núcleo de dramaturgia. São cerca de 2 mil peças (incluindo 200 chapéus).
Roupa pesada – Ao custo anunciado de R$ 250 mil por capítulo – o mesmo de uma novela das 9 da Globo –, a produção se desdobra para não fazer feio diante da versão original. Bianca Rinaldi, a Isaura da vez, chega com as lentes de contato pretas já colocadas nos olhos. No camarim, ganha aplique no cabelo – e muito laquê –, colar com cruz de madeira, saias e saiotes, meia calça, meia curta, calçolas... “Ainda bem que no estúdio o ar-condicionado é forte”, brinca a atriz.
São 11 maquiadores e cabeleireiros. Responsável pela caracterização do elenco, Claudinei começou a pesquisa três meses antes do início das gravações. Tem um caderninho com desenhos feitos à mão da transformação de cada personagem. Belchior (Ewerton de Castro), jardineiro do comendador Almeida, demora 40 minutos para a caracterização. Ganha dentadura, corcunda e maquiagem para a pele branca.
Belchior, segundo Herval, não existia na primeira versão, assim como a Tomázia (Mayara Magri), casada com o conde Campos. “A Malvina morria e agora não vai mais. Esta é uma nova versão”, comenta o diretor, que ao ser perguntado se Isaura irá apanhar tanto quanto na versão de Gilberto Braga, responde, ironicamente: “Não lembro da primeira versão.”
Claudinei chegou a conversar com Lucélia Santos, Isaura na primeira versão, sobre a personagem. Eles se encontraram por acaso na gravação do programa É Show. “Ela comentou que o crucifixo e o cabelo preso, com aqueles cachos caindo, eram marcas registradas”, disse Claudinei, que, a pedido da direção, imitou o figurino da Isaura original.
“A história de Isaura, vítima do poder, será a única coincidência”, diz Herval, embora ele mesmo tenha encomendado à emissora a compra dos direitos da música Retirante, de Dorival Caymmi e Jorge Amado – quem não lembra do lerê-lerê? –, para usar na novela. E a abertura terá imagens das gravuras do francês Jean-Baptiste Debret, exatamente como na versão da Globo.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 102727