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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo Data de Publicação: 20/10/2004 Autor/Repórter: Cristina Padiglione
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‘ESCRAVA ISAURA’ DA RECORD É COMPETENTE
Ibope respondeu com 12 pontos de média em São Paulo
Como diretor da primeira versão de Escrava Isaura para a TV (1976-77, na Globo), Herval Rossano, diretor da Escrava que estreou anteontem na Record, tem todo o direito de plagiar a si mesmo. Mas a nova produção promete ir além: consegue aliar os elementos que deram certo na produção da Globo aos recursos técnicos de que se dispõe hoje – e não são poucos. A distância é perceptível até para quem só viu a Isaura de 76 naquelas breves cenas de Vídeo Show. Luz, áudio, textura de imagem, maquiagem – os pancakes evoluíram, sim, mas há um excesso de peles esticadas na atual versão – tudo ressurge muito melhor plasticamente.
Quanto aos elementos que valem a pena ver de novo, francamente, seria um desperdício esquecer as gravuras de Debret na abertura e a célebre Retirantes (Lerê-lerê, lerê lerê lerê...), música de Dorival Caymmi, com letra de Jorge Amado, que virou um hino evocado até hoje para simbolizar, ironicamente, o excesso de trabalho dessa gente brasileira, branca ou negra. Composta originalmente para a adaptação de Terras do Sem Fim para o teatro em 1946, a canção, originalmente batizada como Canto de trabalho, não chega a embalar a abertura da atual Escrava, mas já domina os fundos musicais das cenas.
Fazer novela fora da Globo, como diria a letra de Retirante, “é difícil como o quê”. É nesse contexto que a atual Escrava Isaura deve ser avaliada. E mesmo um remake do romance de Bernardo Guimarães na tela do plim-plim não seria muito melhor. Como reinventar a roda diante de um tema que já escreveu sua história séculos atrás?
Consumado o desastre de Metamorphoses, novela produzida pela Casablanca para a Record, e que se anunciava vanguardista por misturar cirurgia plástica e máfia japonesa, a emissora resolveu voltar suas baterias para o que há de mais clássico em folhetim. Mas Metamorphoses deixa lá sua marca na história: é uma referência de que dinheiro não basta para produzir novela.
Adaptada por Gilberto Braga em 76, a Escrava atual tem Thiago Santiago e Anamaria Nunes assinando o roteiro. E, a julgar pelo primeiro capítulo, o texto é redondinho, como se diz no jargão dramatúrgico, com diálogos plausíveis.
O elenco também não faz feio. Rubens de Falco, eternamente visto como Leôncio, mudou de nome – agora é o comendador Almeida, pai de Leôncio – mas o papel é idêntico. Até porque, copiando as falas da personagem de Mayara Magri, “tal pai, tal filho”. Com boa atuação, Leopoldo Pachedo, o Leôncio da vez, promete fazer jus à genética. Só não se pode ainda avaliar o ponto que causa mais apreensão neste remake: conseguiria Bianca Rinaldi superar a performance de Lucélia Santos? Difícil de crer.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 103303