PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 03/04/2005
Autor/Repórter: Keila Jimenez

CINDERELA QUE CANTA, DANÇA... E VENDE

A Band lança amanhã o seu mais ambicioso projeto: ''Floribella'', trama que pretende fisgar o público infantil

Coloque em uma panela uma órfã mix de Cinderela com Mary Poppins; crianças que cantam e dançam e uma história açucarada, temperada com maniqueísmo. Acrescente uma pitada de atores conhecidos e músicas com refrães e coreografias grudentas. Mescle know-how cucaracho a uma estrutura de rede de TV nacional; adicione alguns milhões de dólares; bons contratos comerciais e despeje tudo em uma forma de bolo já testada. Seria essa apenas a receita de mais uma novelinha infanto-juvenil se não fosse a mais ambiciosa aposta da Band dos últimos tempos: Floribella, trama de 170 capítulos que estréia amanhã na rede, às 20h10.

Adaptação do programa mais assistido na argentina em 2004 (Floricienta), Floribella marca a volta da Band à teledramaturgia após sete anos sem investidas no gênero, a última foi Meu Pé de Laranja Lima (1998). Com uma injeção de US$ 5 milhões, a produção é uma parceria da emissora com a Cris Morena Group criadora do sucesso Chiquititas e a RGB Entertaiment, dona do formato Popstars, que lançou no Brasil o grupo Rouge. Some a esse know-how em criar fenômenos instantâneos da cultura pop infanto-juvenil o apoio do mercado anunciante. Floribella entrará no ar com boa parte dos seus espaços publicitário já vendidos - cada uma das cinco cotas de patrocínio custa R$ 8 milhões - e parcerias comerciais com Alpargatas, Niasi, Petrobrás, Casas Bahia e Kopenhagen. Esses, entre outros fatores, fazem do folhetim a aposta da Band para crescer em faturamento e retomar audiência em 2005.

"Não inventaram um gênero que o brasileiro goste tanto quanto a novela, por isso procuramos um produto diferente dentro desse gênero", fala o vice-presidente da Band, Marcelo Parada. "Floribella tem uma linguagem pouco usual em TV e um forte apelo infanto-juvenil. Não tenho dúvidas que esse público acaba fazendo uma pressão contundente no que a família toda vai assistir, manda, de certa forma, no controle remoto." A TV já percebeu isso há tempos.

Tênis encantado - A fórmula do folhetim é a mesma já adotada pelo SBT em Chiquititas: fisgar o público infantil oferecendo uma opção no horário nobre, que retrate os conflitos e problemas parecidos com os das crianças comuns.

Recheada de clichês - afinal, a produção tem lá sua pinta de mexicana -, Floribella é uma espécie de Cinderela adaptada aos dias atuais, que trocará o sapatinho de cristal por um "tênis mágico". A sofredora da vez será Flor, papel que cabe a Juliana Silveira, atriz que passou pelas novelas da Globo, mas traz no currículo uma experiência que a ajudou de fato a conseguir o papel: foi angeliquete (assistente de palco de Angélica). Segundo Juliana, foi ao lado da apresentadora infantil que ela aprendeu a cantar, dançar e a lidar com as crianças. Dá para imaginar o que vem por aí?

"Quase todo o elenco passou por provas de canto e dança além da atuação, quem tinha experiência em teatro saiu ganhando", fala Juliana.,

Órfã, Flor tem de se virar para sobreviver, por isso faz bico de cantora em uma banda e acaba arranjando uma vaga de babá na casa da família Fritzenwalden, 6 irmãos com idades entre 8 e 25 anos que também são órfãos. Mais uma coincidência com Chiquititas: outra vez uma novela tenta pegar as crianças pelo seu principal medo: o abandono.

Entre as aventuras de Flor e essa turma - eles vão cantar e dançar todos os dias na trama - haverá também romance. A bela se apaixonará pelo príncipe da casa, o irmão mais velho da família Fritzenwalden, Fred, vivido pelo ator Roger Gobeth. "Recusei um bom papel na Globo para poder encarar esse desafio", diz o ator.

Com crianças abandonadas, príncipes encantados, não pode faltar a eterna luta entre o bem o mal em Floribella. O maniqueísmo na trama é desenfreado e as bruxas da vez serão: Malva (Suzy Rêgo) - que até uma mecha branca inspirada em Cruela (dos 101 Dálmatas) tem no cabelo e sua filha Delfina (Maria Carolina Ribeiro), namorada de Fred. O elenco ainda traz nomes como Igor Coltrim, que fez o personagem Boca no senado Sandy & Junior e Zezé Motta, que será uma espécie de tia postiça de Flor.

O diagnóstico - "A ficção é o jeito mais fácil de atingir a criança, principalmente se houver uma identificação com o mundo delas. Novelinhas assim, em geral, atingem direto o emocional desse público", fala a presidente da TVE, Beth Carmona, especialista em programação infantil e urna das idealizadoras do sucesso Castelo Rá-Tim-Bum, da Cultura. "Mas a TV comercial não consegue resistir à tentação de ter o consumo inserido na programação infantil, as crianças consomem sem perceber", explica. "A TV tem interferência na formação de valores, na orientação das crianças, é uma grande responsabilidade. Eles deveriam pensar nessa contribuição, em vez de empurrar sandalinhas, para esse público.

Caça-niquel - Sandalinhas, não. Tênis. Essa é a porta de entrada para o mundo de Floribella. Um dos contratos comerciais já fechados pela Band é com a Alpargatas, que irá lançar no mercado o tênis inseparável da protagonista e uma linha especial de calçados inspirada na novela, o Bamba Floribella. A Kopenhagen também vai tirar sua lasquinha. A marca terá uma loja dentro da trama, aproveitando o fato de uma das personagens ser chocólatra. Coincidência? Com certeza não. Assim como também foi totalmente planejado o fato de a novelinha ter vários musicais: um CD com 12 músicas já foi gravado e servirá de base para a apresentação da banda da protagonista da novela em shows fora da tela, que acontecerão por todo o País ao longo da exibição da trama e assim que ela terminar. A Universal Music é parceira do negócio. Um salão de beleza também será cenário fixo do folhetim: outra forte possibilidade de merchandisings.

"Na Argentina há mais de 100 produtos da marca da novelinha, há até quiosques com produtos específicos de Floricienta espalhados em shoppings", fala o diretor-comercial da Band, Marcelo Mainardi. "Podem ser lançadas. lancheiras, material escolar, perfumes, possibilidades é que não faltam, a novela está mais do que paga", garante ele.

Quem paga isso são os pais das crianças. Quem ganha? Band, RGB e Cris Morena dividem os lucros de licenciamentos de produtos e da possível venda de Floribella para países de língua portuguesa.

Números de ibope são ainda assunto proibido no negócio, mas há quem trabalhe na rede com a possibilidade de Floribella alcançar inicialmente entre 5 e 8 pontos de audiência. Projeto ambicioso em se tratando de um público sincero (crianças) que arria ou odeia logo de cara o que lhe é oferecido. É esperar para ver.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 108164