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Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 14/05/2005
Autor/Repórter: Thomas Villena

EU ODEIO TV: QUESTÃO DE PERSPECTIVA

Estreou em abril a nova novela da Band, Floribella, uma comédia de erros sem graça alguma. Mas, se considerada sob a perspectiva de que é uma novela para o público infanto-juvenil, pode agradar. As produções não precisam ser caríssimas para o público gostar, basta ver os programas exibidos na TVE e na Cultura. Mas Floribella sofre de todos os lados. Os cenários são pobres, o roteiro não ajuda (é infantil e banal), os atores, em sua maioria, não sabem atuar, a direção é insegura e o resultado não podia ser pior.

Os bons atores não iam querer participar depois de ler o roteiro. A opção é usar iniciantes, que estão atuando mal ou estão sendo mal dirigidos. O galã é interpretado por Roger Gobeth, ex-Malhação, que já deveria ter aprendido alguma coisa de atuação. Mas a coisa piora com a namorada dele, Delfi-na (Maria Carolina Ribeiro). A atriz estaria mais bem escalada na novela mexicana do SBT, Rubi, cheia de caras e bocas.

A produção poderia ter escolhido melhores atores no teatro, de onde vem Vic Milittelo, que já teve participações memoráveis na TV. Agora se chama Vic Amor, provavelmente por numerologia, o que dificilmente vai salvar seu papel de governanta alemã, alusão infantil a Noviça rebelde. Está exagerada e sem graça. Zezé Motta, inteiraça em seus 60 anos, faz um papel simpático de cabeleireira, que pode tirar alguma coisa de seu talento. Suzy Rego até se esforça, mas seu cabelo de Malvina Cruel, comprido como o de Morticia Addams, parece indicar ainda mais que o alvo da novela são as crianças. E ela não tem idade para ser mãe de Delfina. Poderia ser irmã.

Talvez o maior erro da novela tenha sido não fazer uma pesquisa para saber quem é o público-alvo. Parece ser o mesmo de Malhação, que já está em seus estertores de queda na audiência. Mas no horário em que é exibida, às 20h10, seus concorrentes serão o Jornal Nacional e o Jornal da Record. Se as novelas mexicanas dão certo neste horário no SBT, pode até ser que Floribella consiga alguns pontinhos de audiência.

Mas audiência não depende apenas do horário, e sim de um bom texto. Até agora, a história é óbvia, roubando detalhes de outras histórias, sem acrescentar nada de novo e ainda por cima com diálogos irreais e mal redigidos. A parte do merchandising, então, foi das mais forçadas que já vi na história da TV e absolutamente sem sentido, como ao fazer a personagem Sofia (que não pára de chorar, chatíssima, numa atuação sofrível) falar bem dos chocolates da Kopenhagen. Numa alusão à fábula de Cinderela, Floribella é a filha perdida do pai de Delfina e será levada, num final feliz, a ficar com a herança e roubar o príncipe encantado da meia-irmã Delfina.

Quanto à direção, falta timing e talento para tirar alguma coisa dos atores. A cena em que a cantora da banda de rock (Jas- mim) dá um ataque com Floribella, por ela ter criado uma rou- pa apertada, é deprimente. Tive vergonha de dizer que era uma produção brasileira. Como toda resposta fácil de um roteiro fra-co, é óbvio que Floribella assume o vocal da banda. Que clichê!

Mas tudo tem um lado positivo. As emissoras voltam a investir em novelas nacionais, criando espaço para novos talentos que certamente vão aparecer e gerando oferta de traba- lho para todos os envolvidos nestas produções. Se melhorarem os roteiros e os atores forem realmente atores, veremos produções de valor. E bons atores não precisam necessariamente de salários astronômicos, como os exigidos pelo elenco da boa refilmagem de Escrava Isaurapara renovar seus contratos.

A Band apostou no horário das 20h10 para não concorrer com outras novelas. Como fábula infantil, Floribella deve conquistar crianças e adolescentes. Mas, como novela, não tem texto nem atores para concorrer com as outras.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 109392