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Jornal/Revista: VEJA
Data de Publicação: 31/10/1990
Autor/Repórter:

SOM E ALEGRIA NO AR

Houve percalços, problemas que fazem o mais experiente diretor de TV arrancar os cabelos e todo o tipo de surpresa que acompanha uma aventura pioneira. Mas a expectativa que há meses rondava os telespectadores jovens do Rio de Janeiro e de São Paulo chegou ao fim - e com a promessa de um pacote de novidades como nunca se viu na televisão brasileira. Ao meio-dia do sábado dia 20, com a apresentação de um videoclipe da cantora Marina interpretando Garota de Ipanema, iniciando-se as transmissões da MTV (Music Television), através da TV Abril. A emissora é a versão nacional da MTV americana, quarta maior rede de TV a cabo dos Estados Unidos, e apresenta uma programação vibrante em que reinam a música pop, brasileira e internacional, e as atualidades do universo jovem. A MTV é captada no Rio de Janeiro através da TV Corcovado, canal 9, em VHF - a mesma freqüência das grandes redes - e em São Paulo no canal 32 da freqüência UHF.

Quem acompanhou a MTV em sua semana de estréia viveu uma experiência inédita nos quarenta anos da televisão brasileira. Ao longo das catorze horas diárias em que fica no ar nessa primeira fase - os planos são para, já no próximo ano, transmitir durante 24 horas -, a MTV oferece dezenove programas. Quinze deles são dedicados à música pop, MTV no Ar e Buzz são jornalísticos, Cine MTV fala de cinema e Saturday Night Live é um antológico programa de humor Todas as atrações são apresentadas por videojóqueis, ou VJs, a versão televisiva da consagrada figura do disc-jóquei de rádio. O formato comum dos programas musicais é o dos videoclipes, que apresentam do novo sucesso do cantor americano Prince aos últimos arroubos da vanguarda do rock inglês, passando pelas melhores bandas brasileiras. Em média, a emissora veicula 150 clipes por dia, a maioria deles americanos e europeus. Os clipes de atrações nacionais são produzidos pela própria MTV. "A qualidade dos poucos clipes produzidos no Brasil é ainda muito ruim. Por isso decidimos partir para a produção própria", diz Victor Civita Neto, de 25 anos, diretor de programação da emissora. "Nosso projeto é, dentro de cinco anos, exibir 70% de clipes protagonizados por astros nacionais", prevê.

AJUSTES NO ROBÔ - Para a MTV brasileira, produzir um videoclipe não é filmar uma banda ou um cantor em play-back ou um cantor em play-back com uma paisagem paradisíaca ao fundo. ''O clipe é um curtíssima-metragem, um mínifilme, em que vários artistas participam ativamente", diz Rogério Gallo, 23 anos, diretor musical da emissora. Os primeiros clipes nacionais, como o de Marina ou de Lobão, consumiram em média 25 000 dólares, quatro vezes menos do que o custo mínimo de uma produção americana. Gallo diz que os próximos clipes já terão um orçamento maior, e a emissora anuncia para breve o início de uma verdadeira caça a novos talentos na música. "Vamos ouvir fitas de bandas e cantores novos e se gostarmos do trabalho vamos gravar clipes para lançar esses artistas. Queremos sempre estar na vanguarda'', promete Gallo. "Não podemos ter uma postura conservadora como a das rádios ou das outras emissoras de televisão. Vamos ousar.

A TV Abril investiu até agora cerca de 15 milhões de dólares em equipamentos e instalações para trazer a MTV ao país. O som que chega aos televisores é transmitido em estéreo. Entre os equipamentos mais sofisticados encontra-se uma engenhoca que, manejada por um robô, executa o trabalho mecânico de colocar no ar as fitas dos videoclipes. Uma falha no ajuste desse aparato promoveu os deslizes do fim de semana de estréia. A emissora saiu do ar por alguns instantes, anunciaram-se determinados clipes e entraram outros e o nível de volume às vezes sofria variações. "A necessidade de ajustes era previsível por se tratar de uma experiência inédita", diz Zeca Camargo, de 27 anos, diretor de jornalismo da emissora e apresentador do MTV no Ar.

''EU Sou EU" - O rosto da MTV é inconfundível. Quem aparece no vídeo é uma turma jovem e animada, recrutada entre mais de 2.000 candidatos. "Os apresentadores sempre foram estáticos e aqui é diferente. Eu, por exemplo, sou toda movimento", proclama Astrid Fontenelle, apresentadora dos programas Disk MTV e Top 20 Brasil. Assim como Astrid, os demais VJs apostam na movimentação em estado puro e na espontaneidade da postura para conquistar o público. Luís Thunderbird, por exemplo, de 29 anos, formado em Odontologia e com um tipo físico idêntico ao personagem Wally dos livros infantis, tem a irreverência sob medida para a MTV. "Aqui eu sou eu. As piadas, os gestos, tudo é como se eu estivesse conversando com os meus amigos", garante Thunderbird, apresentador do programa Lado B. Maria Paula Xavier, de 19 anos, apresentadora de Rock Blocks, também nunca tinha feito televisão antes de ingressar na MTV - é estudante de Psicologia. "Não existia nada na TV que falasse a nossa linguagem. Hoje, o que o público tem não é um programa de jovens - é uma TV de jovens. E com qualidade", orgulha-se.

No naipe feminino da MTV, duas outras candidatas a estrela chamam a atenção por reunir graça e beleza na medida certa: Cuca Lazzarotto, de 22 anos, ex-modelo fotográfico, que apresenta Video Music, e Daniela Barbieri, de 21 anos, ex-apresentadora do programa infantil Revistinha, da TV Cultura de São Paulo, agora à frente do Clássicos MTV. "A partir de hoje a televisão fala a nossa língua", comemora Daniela. Entre os rapazes que dividem com elas o vídeo da MTV, além de Thunderbird e Camargo, estão Gastão de Andrade Moreira, de 24 anos, advogado e guitarrista do gênero heavy metal, apresentador do Fúria Metal, e Rodrigo Leão, de 21 anos, estudante de Direito, responsável pelo Yo! MTV Raps. "Os apresentadores de TV sempre pareceram bonecos de plástico, nós acabamos com isso", proclama Rodrigo. Com essas novas figuras no vídeo, os telespectadores cariocas e paulistas - e, no futuro, de outros Estados - ganham uma opção diferenciada, com um tipo de programação que é sucesso nos quatro cantos do mundo.

COMO SINTONIZAR

- Grande parte dos televisores dispõe de um seletor UHF. Nesse caso, basta sintonizar o canal 32.

- Quem não possui um televisor com seletor UHF, mas tem um videocassete, deve sintonizar a freqüência 32 através de um botão do próprio aparelho.

- O telespectador que não tem televisor com seletor UHF nem videocassete não está em maus lençóis. Basta comprar um aparelho conversor de sinal UHF. Os inúmeros modelos e marcas existentes no mercado custam de 1.200 a 2.400 cruzeiros.

Para qualquer uma dessas alternativas - televisor com seletor, videocassete ou conversor -, uma providência é necessária: a instalação de uma pequena antena de UHF. Seu preço está oscilando entre 400 e 800 cruzeiros. Na falta da antena, até mesmo um fio de metal retorcido em formato circular consegue um bom resultado.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 13819