PUBLICIDADE É CAMINHO DE SUCESSO PARA ATORES ALTERNATIVOS
Há mais de uma década, o compositor, violonista e guitarrista Wandi Doratiotto, 39 anos, provoca risos nas platéias dos seus shows. À frente do grupo Premeditando o Breque, atual Premê, apelido que os paulistanos transformaram em novo nome, Wandi faz um trabalho teatral usando como motivo o way of life da classe média. O ator Artur Kohl, de 36 anos, durante oito anos trabalhou como cenotécnico e restaurador de móveis, com direito a pequenas intervenções nos shows do Premê. Restritos aos meios alternativos, os dois não imaginavam que um comercial pudesse difundir suas imagens em tempo muito menor que os anos dedicados a outras atividades. Wandi e Artur são os protagonistas daquele comercial que está fazendo o Brasil inteiro repetir o mote "não é nenhuma Brastemp". Estrategicamente colocado nos intervalos dos noticiários noturnos, a campanha está conseguindo provar que, para um bom ator, a consagração não chega apenas através das telenovelas.
Wandi e Artur não são os únicos paulistas do meio teatral a voar em direção à fama depois de tipos hilariantes em comerciais. As atrizes Christiane Couto, 32 anos, e Míriam Rinaldi, 26, também chamaram a atenção das agências de publicidade. Cristiane interpreta a dona de casa às voltas com a reforma infindável da sua casa, preocupada por não saber quando instalará as sonhadas louças e metais Deca. Míriam fala de gulodices preparadas com o Moça Fiesta. O trabalho dos quatro alcançou tanta repercussão que, além de vender os produtos anunciados, fez comercial dos próprios atores.
Nos três casos a intenção das agências e produtoras coincide. Mauro Peres, diretor de criação da Talent, responsável pelo comercial da Brastemp, pensou em atores que pudessem extrair o máximo de seus personagens. ''Queríamos pessoas inteiradas no mundo das artes, de preferência do circuito alternativo", explica Peres, que acompanhou o trabalho da dupla Ricardo Freire e Paschoal Fabra Neto, criadora do mote "não é nenhum Brastemp". A série dedicada à Deca esteve nas mãos de quatro profissionais da DPZ: os redatores Sylvio Lima e Ricardo Pereira e os diretores de arte Fernando Lion e Lando Balacci. "Se pegássemos cada produto Deca para individualizar em comerciais não daria para fazer em um ano", diz Lima. "A decisão de falar dos produtos em capítulos foi para dar a idéia da novela que é uma reforma", completa Lion.
A seleção dos atores, no caso de Wandi e Artur e também de Cristiane, contou com a ajuda do diretor de comerciais Fernando Meirelles, o novo darling das agências de São Paulo. Para o comercial da Brastemp, Meirelles testou dezenas de pessoas. Como já conhecia a veia humorística de Wandi e Artur, colocou os dois entre as quatro opções finais. O trabalho deles, a princípio, foi veiculado apenas nos cinemas. Só depois do sucesso na tela grande o filme chegou reformulado à televisão. Sozinho Artur ainda protagoniza outro comercial ganhador do Leão de bronze no 390 Festival Internacional do Filme Publicitário de Cannes. "O freezer que eu dei para minha mulher não é nenhum Brastemp, mas eu também não sou nenhum Alain Delon", diz o personagem.
No caso da Deca, a primeira idéia recaiu sobre Regina Casé, logo descartada por,ser uma figura muito conhecida. Mariza Orth entrou na seleção final de seis. A vencedora foi Christiane, que embolsou US$ 1.500 para fazer o comercial. A dupla masculina e Míriam Rinaldi levaram à mesma quantia. Christiane Couto ainda acalenta planos no cinema e teatro, mas diante do cachê relativamente bom ela não descarta opção mais objetiva. "Publicidade é um caminho a seguir".
