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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 17/02/2013 Autor/Repórter: Maria da Luz Miranda
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LOUCOS POR DRAMA
Fãs de novelas mexicanas como 'A usurpadora', atualmente em reprise no SBT, multiplicam-se unidos pelas redes sociais
Eles adoram um chororô. De preferência provocado por uma maldade daquelas dignas de gargalhada, como só se vê nos melhores dramalhões mexicanos. Há quem torça o nariz para as mocinhas e vilões de sotaque hispânico, mas a audiência é cativa e bancada por fãs assumidos - uma legião que cresce e vem se espalhando com a ajuda da internet, amplificada pela reprise de "A usurpadora", atualmente no ar no SBT, de segunda a sexta, às 16h15m.
Quando voltou a ser exibida no Brasil pela quarta vez, em janeiro deste ano, "A usurpadora" abocanhou cinco pontos de audiência. Para o SBT, a performance da novela no Ibope foi considerada boa. No Twitter, os seguidores de Paulina e Paola (as gêmeas interpretadas por Gabriela Spanic), que disputam o amor de Carlos Daniel Bracho (vivido por Fernando Colunga), não economizaram hashtags .
Justíssimo, defende a blogueira e fã de carteirinha Marina Mello. Segundo ela, todo alarde é pouco quando se trata de exaltar a carga dramática que a trama condensa:
- O drama é exagerado, e esse é o ponto forte. É como se a novela fosse uma piada dela mesma. É o drama do drama, e é justamente isso o que cativa. Para quem escreve, não tem inspiração melhor - afirma ela, que diz ter perdido a conta de quantas vezes já assistiu às brigas das duas irmãs.
A paixão do estudante Marcelo Pereira Barra, de apenas 16 anos, também é antiga. Criador de uma página na internet em que agrega outros fãs ardorosos, ele guarda, em casa, um arsenal formado por pôsteres, revistas, reportagens, livros, broches, DVDs e CDs que vão de "A usurpadora" à musa Thalia, estrela de outros clássicos do gênero. A primeira novela mexicana, ele diz, ninguém esquece.
- Eu vejo estas tramas desde os 7 anos. A criatividade dos escritores é algo inexplicável. E "A usurpadora" é insuperável - acredita o rapaz.
Junto com a trilogia das Marias ("Maria Mercedes", "Marimar" e "Maria do Bairro", todas estreladas por Thalia), "A usurpadora" divide a preferência do público. Mas nem só de Gabriela Spanic, Thalia e Fernando Colunga é feito o elenco de estrelas que amolece o coração do telespectador. Outra fã, a historiadora Priscila Gonçalves dos Santos, faz questão de listar nomes como Jacqueline Andere, Jaime Camil e Angélica Vale. No Facebook, Priscila criou uma página para fãs de todos os folhetins mexicanos. Lá, a interação vai bem além do virtual.
- Apesar de não terem tanta tecnologia ou muitos atores, essas novelas encantam pela simplicidade, tanto na produção quanto em seu enredo. É drama com humor e cultura local - explica ela, que reuniu um grupo de fãs para receber no aeroporto de Guarulhos, no ano passado, a atriz Angélica Vale (de "Amigas e rivais" e da versão mexicana da colombiana "Betty, a feia").
Além de servir de ponto de encontro para os fãs, a internet também é fonte. Muitas das tramas estão disponíveis na íntegra na Netflix, serviço de vídeo on-line para assinantes. No YouTube, há muitos trechos destas novelas, no idioma original. A enfermeira Fernanda Gomes Amorim usa suas horas vagas para vasculhar novidades e assistir a produções que ainda não chegaram por aqui:
- Assisto a novelas mexicanas diariamente. No idioma original, o drama fica mais intenso ainda.
Doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela Universidade de São Paulo (USP), Mauro Alencar diz que a a euforia tem justificativa. A história, com um núcleo central forte, atrai a ação para os protagonistas. Sem contar que o embate entre irmãos gêmeos, o mote da trama de "A usurpadora", personifica a luta entre o bem e o mal.
- A trama reúne em sua estrutura todas as premissas básicas do melodrama - afirma Alencar, destacando o uso de personagens com perfis "bem delineados" no folhetim. - Sabemos em poucos minutos quem são os vilões, os heróis, onde estão os personagens cômicos, enfim, conseguimos mapear a trama assistindo a apenas algumas cenas da novela.
A estudante Renata Mattos diz que sempre vence a briga pela única TV da casa:
- Tenho amigos tão viciados em "A usurpadora" quanto eu. A questão é que poucos assumem. Espero que os fãs enrustidos saiam do armário.
O sucesso fora do México não é privilégio do território brasileiro. Tramas mexicanas agradam da Alemanha aos Estados Unidos, passando pela China, afirma o antropólogo Gonçalo Santos, do Instituto Max Planck:
- Tudo é afeto em novela mexicana. O mundo que esses folhetins retratam é um mundo no qual todos falam a linguagem das emoções.
Teorias e gostos à parte, a estudante de História Amanda Scott resume a questão:
- "A usurpadora" é a melhor novela mexicana que existe.
MEXICANA E FAMOSA
. ORIGINAL - Estrelada por Gabriela Spanic e Fernando Colunga, "A usurpadora" (de 1998) é, na verdade, um remake. A trama original foi exibida em 1972, na Venezuela. Em 1981, o canal mexicano Televisa chegou a produzir uma versão, batizada de "El hogar que yo robe".
. GÉMEAS - Daniela Spanic, gêmea de Gabriela, foi dublê da irmã nas cenas em que Paola e Paulina aparecem juntas. Não foi a primeira vez: na novela "Como tú, ninguna", as irmãs também gravaram uma complicada cena de luta. Sim, Gabriela interpretava gêmeas nesta trama.
. EPÍLOGO - Um especial, batizado de "Más allá de la usurpadora" (exibido no Brasil em 1999) mostrou o que aconteceu um ano depois do desfecho da trama. Acreditando estar doente, Paulina prepara uma substituta. Mas a moça não é o que parece, e ameaça sua felicidade.
. REPRISE - Também estrelada por Thalia, a novela "Rosalinda" volta ao ar no SBT amanhã, às 14h30m.
. ON-LINE - Na Netflix, serviço de vídeo por streaming mediante assinatura, as novelas mexicanas são sucesso. Além de "A usurpadora", estão no catálogo tramas como "Maria do bairro", "Rubi", "Rebelde" e "Amigas e rivais", entre outras. A lista está em constante atualização.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 190875