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Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 16/05/1994
Autor/Repórter: Virgínia Viveiros

'LA PFEIFER', RICA, BONITA E FRUSTRADA

Letícia de ''Tropicaliente'' faz a atriz sofrer

Sílvia Pfeifer corria o risco de chorar nos 180 capítulos de "Tropicaliente", que estréia hoje, às 18h, na Rede Globo. Letícia é uma mulher rica, bonita e frustrada. Em tudo: na profissão, na família e no amor. Para que sua personagem não deixasse de derramar lágrimas apenas no último capítulo, como costuma acontecer com as protagonistas sofredoras de novelas, Sílvia decidiu cortar os excessos. Só pega o lenço se a cena, realmente exigir.

E a terceira novela da atriz ("Meu bem, meu mal" e "Perigosas peruas" foram as antecessoras) e a terceira personagem rica e bonita. Por enquanto, Sílvia não reclama, mas gostaria de fazer uma mulher de classe média, pelo menos, já que fica difícil imaginar a ex-modelo interpretando uma mendiga ou algo parecido.

- Um amigo meu diz que de jeans e camiseta eu já estou muito arrumada - conta.

O mais difícil para Sílvia está sendo conciliar as viagens a Fortaleza com os cuidados com o filho Nicholas, de sete meses. Enquanto o elenco fica 15 dias por lá, Sílvia prefere enfrentar uma maratona exaustiva de gravação em três dias e voltar correndo para o Rio.

O GLOBO - Qual foi a sua reação ao ser chamada para interpretar mais uma mulher rica e elegante?

SÍLVIA - Eu não gostaria de fazer só isso. O que enriquece o ator é poder experimentar, mas também não posso desvalorizar esse meu lado "nobre". Eu tenho esse estereótipo e vejo isso pelo lado positivo.

O GLOBO - Qual é o lado positivo?

SÍLVIA - Pela profissão que eu exerci, eu aprendi a andar, a ter uma postura correta. Eu tenho facilidade para fazer isso. Não posso supervalorizar, mas tenho que pensar que não é qualquer pessoa que consegue ser naturalmente elegante. Não posso ir contra a maré. John Wayne foi bem-sucedido fazendo sempre o mesmo papel. Mas gostaria de fazer uma personagem de poder aquisitivo mais baixo, com poucas roupas no armário.

O GLOBO - Você acha que a televisão lhe daria esta oportunidade?

SÍLVIA - A TV é muito estanque. Ela pega fórmulas que deram certo e repete. Pode ser que um dia eu venda a idéia de fazer uma outro papel, mas estou na minha terceira novela e ainda não estou pensando nisso. Tenho muito chão.

O GLOBO - Sua personagem teve, no passado, um forte romance que não ficou bem resolvido, vai se envolver com outro homem, que será disputado pela filha, e provoca um ódio enorme no filho. Letícia é a sua personagem mais rica?

SÍLVIA - Eu fiquei insegura e nervosa por ter que passar todos estes sentimentos. As outras duas mulheres que fiz eram mais fáceis porque eram vilãs, fortes. A Letícia é diferente porque internaliza as emoções, é mais tímida. Ela se sente uma profissional ruim, não se realiza como mulher e se acha uma péssima mãe. Ela é boazinha, se intimida, mas começei a ver que ela não é tão descolorida como eu pensava. Nas rubricas, ela deve falar baixinho e chorar muito. Eu não vou fazer isso o tempo todo. Não dá para sofrer oito meses.

O GLOBO - Ela só vai se realizar quando se envolver com o pescador Ramiro (Herson Capri)?

SÍLVIA - E uma paixão mal-resolvida que vem à tona quando eles se encontram. Ela não consegue dominar a atração que sente por ele. O François (Victor Fasano) tem o que falta em Ramiro. Ele é um homem culto, tem uma visão do que quer e a relação é mais segura. São duas pessoas exatamente opostas. Para ter alguma coisa, a gente precisa abrir mão de outra.

O GLOBO - Do que você abriu mão?

SÍLVIA - A gente está abrindo mão das coisas o tempo todo. Quando tudo deu certo para mim na Europa, como modelo, eu resolvi ficar no Brasil, com meu marido. Agora, com um neném de sete meses, eu tenho que me dividir entre as gravações e ficar com ele, que agora está mais com a babá do que comigo. Equilibrar as duas coisas, vida profissional e pessoal, é difícil. Não sei se eu seria feliz se me dedicasse a apenas uma delas. Acho que eu admitiria mais a frustração profissional. Mas não sei se eu ia ficar bem se fosse só mãe. Gosto de jogar nos dois times.

O GLOBO - Você sempre quis ter filhos?

SÍLVIA - Eu engravidei da Emanuela sem planejar, mas acho que uma parte de você concede a gravidez. Você esquece de pôr o diafragma ou faz os cálculos errados. Até hoje eu não sei o que eu deixei de fazer. O Nicholas foi programado. Eu não queria esperar tanto tempo para ter outro filho, mas quando pensei em ficar grávida de novo, aconteceu a virada de atriz. Eu sou mãezona daquelas que morre de preocupação com os filhos.

O GLOBO - Na novela, sua filha Amanda (Paloma Duarte) vai disputar o François com você. Como você agiria numa situação dessas?

SÍLVIA - Não faço a menor idéia. Acho que ou a relação de mãe e filha se fortaleceria, com uma das duas saindo de campo, ou seria o fim. O risco de perda é muito grande. Eu não sei como isso se desenvolverá na história.

O GLOBO - O que você planeja para o teatro?

SÍLVIA - Estava quase tudo certo para eu montar um texto de Maria Adelaide Amaral no início do ano passado, mas eu soube que estava grávida. Eu ia fazer uma mulher que poderia ser homossexual. Não desisti de montar esse espetáculo. O começo da minha carreira seria no teatro, fazendo "Orlando", de Bia Lessa, mas eu não me sentia segura para enfrentar o palco e aí o Roberto Talma me chamou para fazer a minissérie "Boca no lixo".

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 25109