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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 26/11/1995
Autor/Repórter: Sônia Apolinário

EX-MODELO DIZ QUE PAGA CARO PARA SER ATRIZ

Ela deixa 'Malhação' reclamando que nunca recebeu incentivo da crítica, mas determinada a seguir em frente e provar que tem talento

Aos 37 anos, Sílvia Pfeifer, uma das ex-modelos mais famosas do País, não esconde a mágoa quando afirma que nunca recebeu elogio ou incentivo por parte da crítica. Mesmo assim, nem passa pela sua cabeça desistir da carreira de atriz. Desde o início do ano, ela interpreta Paula, a dona da academia de Malhação. Há três meses, pediu para deixar o programa.

Sílvia sai ressentida: acha que sua personagem foi mal explorada. Depois de emendar este trabalho com Tropicaliente, quer férias longas. Quer também arrumar coragem para estrear no teatro, pois acha que vai receber uma saraivada de críticas - como aconteceu quando entrou na TV.

Enquanto a cora-gem não vem, sonha com uma minissérie ou novela das oito. Mãe de Emanuelle, de 10 anos, e Nicolas, de 3, casada com o economista Nelson Chama, Sílvia diz que o marido é seu grande incentivador na profissão.

Telejornal - Por que você pediu para sair de Malhação?

Sílvia Pfeifer - Eu ainda vou estar no ar no início do próximo ano. As gravações vão até a próxima quinta, depois gravo só mais algumas cenas em que vou passar a academia para outra pessoa. Entrei para o programa porque recebi o convite do Roberto Talma. Gosto muito de trabalhar com ele, é um tremendo diretor. Nem precisaria ter aceito porque havia acabado de gravar Tropicaliente dois meses antes. Mas topei porque achei a proposta diferente e porque os diretores seriam o Talma e o Flávio Colatrello. Aí, em pouco tempo, os dois se afastaram da Globo. Os meninos que estão na direção são ótimos mas a saída dos dois me deixou frustrada.

Telejornal - Você se sentia mais segura com eles?

Sílvia - Eles têm mais experiência e, isso é importante para o ator aprender. Além disso, estou cansada porque emendei a novela com o seriado. Quero férias para relaxar, um tempo para fazer outra coisa. Queria fazer um trabalho mais elaborado, uma minissérie ou uma novela das oito.

Telejornal - Você gostou da sua personagem, a Paula?

Sílvia - Ela dá estrutura ao programa, mas ele é dos adolescentes. Então, naturalmente, fiquei meio jogada. Passei meses falando nada. Isso não acontecerá com Wolf Maya, que agora assumiu a direção-geral.

Telejornal - Por que?

Sílvia - Ele vai dar uma outra linguagem, vai cuidar mais de cada personagem. Gostaria que Wolf tivesse entrado antes para eu trabalhar um pouco com ele.

Telejornal - Parece que Paula pouco acrescentou à sua carreira.

Sílvia - Não, acho que acrescentou muito. Ela mudou a imagem que eu estava tendo por conta dos últimos trabalhos.

Telejornal - Que imagem?

Sílvia - Quando fiz Meu Bem, Meu Mal, as críticas diziam que eu não era boa. Em Perigosas Peruas, fiz cenas mais engraçadas e as pessoas calaram um pouco a boca. Em Tropicaliente, fiz uma mulher sofrida, rica, que andava chiquérrima o dia inteiro. Já em Malhação, passei a ser vista como uma mulher mais esportiva, atual, real e alegre.

Telejornal - A maior crítica a seu respeito é que você faria sempre a mesma personagem: a Sílvia Pfeifer.

Sílvia - Elegância é uma característica minha. Bem, essa elegância eu provavelmente nunca vou perder até pelo meu tipo, meio clássico. Gianfrancesco Guarnieri é um grande ator e está sempre com a mesma cara. Sinceramente, não acho que tenha feito os personagens iguais. Poderia ter feito melhor, não tinha bagagem suficiente para fazer certas coisas. Mas sei que aprendi muito nesse período, mesmo sabendo que terei muito chão pela frente.

Telejornal - Você se imagina em uma novela como O Rei do Gado?

Sílvia - Adoraria fazer algo do tipo peão de fazenda. É engraçado porque, no dia-a-dia, sou muito diferente do que as pessoas imaginam. Estou sempre vestida despojadamente, sento, levanto as pernas - agora, tenho de tomar cuidado com as calcinhas (risos). Telejornal - Aparentemente, você encara as críticas negativas com elegância. É isso ou em casa você fica furiosa?

Sílvia - É sempre desgastante. Recentemente, uma reportagem falava do Victor Fasano e, de repente, me botaram no meio. A verdade é a seguinte: nunca fizeram uma critica boa a meu respeito. Nem para dizer "ela melhorou", "ela está aprendendo". É o preço que pago pela oportunidade de começar com bons papéis. Acho que existe uma predisposição de não me aceitarem. As pessoas têm má vontade para me aceitar como atriz. Ainda me tratam como modelo, coisa que não sou mais. Só desfilo raramente, para amigos.

Telejornal - Como se sente nessa situação?

Sílvia - Estou acostumada. No primeiro trabalho que fiz como modelo fui mandada embora pelo fotógrafo. Ele disse que eu não era boa. Vai ver minha sina é essa.

Telejornal - Em algum momento você fraquejou?

Sílvia - A superexposição é o que mais me incomoda: começam a se preocupar com sua vida pessoal, acaba a privacidade. Mas meu marido sempre me incentivou, me mostrou que as coisas não eram tão terríveis. Penso que o fato de estar há cinco anos na TV, como protagonista, prova que sou, pelo menos, um pouco boa. Não pode ser pura plasticidade.

Telejornal - Foi difícil estrear como protagonista?

Sílvia - Claro. Recebi uma chuva de críticas negativas na época em que fiz A Boca do Lixo. E como meu horizonte era menor... Só tive um dia para decidir se aceitaria o papel e 48 horas depois estava em São Paulo, gravando. O Talma me falava o que era para fazer eu não tinha noção.

Telejornal - O que a levou a dizer sim?

Sílvia - Fui chamada em 1988 para fazer A Grande Arte, filme do Waltinho Saltes. Me preparei com a diretora Bia Lessa durante quatro meses. Mas acabei não fazendo. E sabe por que? Porque tinha muito dinheiro envolvido na produção e os patrocinadores ficaram em dúvida se uma modelo funcionaria. Foi doloroso, me senti emocionalmente debilitada. Aí, comecei a ensaiar uma peça com a Bia Lessa, que estrearia depois de 20 dias. Mas fiquei nervosa e, quando pintou o convite para fazer Boca do Lixo, decidi arriscar uma virada na TV. Me senti protegida com a idéia de que poderia errar. E foi difícil, mas fiz bem.

Telejornal - Já está com coragem para fazer teatro?

Sílvia - Não, apesar de ter recebido várias propostas. Tenho medo. Quero me sentir preparada porque sei que vão falar tudo de mim. Mas ando de olho num texto interessante, uma tragicomédia do Ewerton Capri, irmão do Herson, que trabalharia comigo. Pensamos em fazer no início do ano. Vai depender de como eu estiver porque, em dois meses, peguei verme no intestino duas vezes. Estou estressada.

Telejornal -Malhação tem fôlego para mais dois anos?

Sílvia - Existe uma idéia do Wolf Maya de colocar atores e personagens novos e fazer a linguagem ficar mais rápida ainda para diferenciar o programa das outras novelas. Ainda rende o ano que vem.

Telejornal - Como avalia o resultado do seriado?

Sílvia - É bom e cumpriu grande parte da sua proposta. Para mim é que pensei que aconteceriam mais coisas. Disseram que Paula ia ter um relacionamento complicado com o ex-marido, com o filho. Mas não souberam administrar isso.

Telejornal - Qual é a sua malhação?

Sílvia - Há dois anos, não consigo cuidar bem do meu corpo. Estou sempre começando uma ginástica e parando. Agora, um amigo elaborou um treinamento para eu ir retomando devagar, assim que terminarem as gravações. Vai dar porque pretendo ficar de férias da TV até o segundo semestre.

Telejornal - Você tem 1,80 m. Isso causa transtorno na hora de fazer cenas românticas?

Sílvia - Os atores não gostam muito de contracenar comigo. Eles não reclamam, mas dá para perceber um desconforto. Para amenizar, não uso salto alto, só com o Victor Fasano. Há um artifício que usei com o José Mayer. Como a câmera só pega do busto para cima, fico com as pernas abertas. Assim, fico mais baixa e a diferença diminui.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 30438