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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 24/02/1996 Autor/Repórter: Mônica Soares
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O MUNDO CÃO NO HORÁRIO NOBRE
O drama dos meninos de rua brasileiros invade roteiros o gera polêmica
Eles estão sob os viadutos, nas favelas ou perdidos por aí, mas em breve vão invadir o horário nobre. Personagens que ao mesmo tempo sensibilizam e provocam rejeição, os meninos de rua são o novo apelo dos folhetins. Pivetes ou pedintes, os abandonados pelo sistema geram boa polêmica. Afinal, são vítimas ou cúmplices da marginalidade? O assunto não cansa e vai ser abordado em três novelas: O campeão, com estréia prevista para março, na Bandeirantes; Razão de viver, próxima atração do SBT e Explode coração, da Globo.
O tema carrega o estigma de não agradar à classe média, mas não intimidou novelistas como Ricardo Linhares, que deixou de lado a auto-censura em O campeão. São duas gangues que assaltam a serviço de Mãezinha (Nathália Timberg) e o Porfirio (Sérgio Mamberti).
A grande preocupação é evitar o julgamento. "Esses meninos moram num sobrado abandonado que abriga as duas gangues rivais, e não serão tratados nem como anjinhos, nem como demônios". Para dar realismo, os trombadinhas serão representados por integrantes do grupo de teatro Nós do morro, da favela do Vidigal.
Razão de viver, próxima novela do SBT, aborda o universo dos meninos de rua de uma maneira mais branda. "Ninguém suportaria nada próximo ao real", reconhece a autora Regina Braga, que fez a adaptação do livro Meus filhos, minha vida, de Ismael Fernandes, que teve uma primeira versão para a TV em 1985. Na trama, Domingos (Gianfrancesco Guarnieri), um advogado solitário, se encanta por Nino, um menino de rua de sete anos que não se envolve em assaltos, apesar de morar num beco com dois trombadinhas. Domingos tenta se aproximar de Nino e adotá-lo. "Ele representa a lei, pois é um advogado. E Nino é um menino que resiste à marginalidade, mas não acredita na lei brasileira", diz Regina Braga.
Em Explode coração, Glória Perez assume a campanha sobre crianças desaparecidas. Ela tem três objetivos: "encontrar crianças com a divulgação das fotos; encorajar testemunhas dos casos de crianças usadas na prostituição e ver o que a sociedade pode fazer de concreto".
Cansados de uma ficção que não diz nada, os novelistas querem tocar nas feridas sociais. O escritor Ismael Fernandes aposta na liberdade de criação do autor, mas lembra que muitos exageraram. "O povo não gostou da abordagem sobre os moradores de rua em Brasileiros e brasileiras (no ar entre 90 e 91, no SBT). A Globo também expurgou a miséria em Pátria minha e tirou do ar os moleques de A próxima vítima".
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 31380