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Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 18/04/1996
Autor/Repórter: Marili Ribeiro

TALMA CONVERSA COM A GLOBO

Diretor rompe silêncio, diz que tem encontro com Boni e analisa sua nova atividade

SÃO PAULO - Mais gordinho do que o habitual, mais agitado e ainda guardando a síndrome de total rejeição à presença de jornalistas nos bastidores de gravação, o diretor de televisão Roberto Talma cedeu e falou. Após atuar durante anos no primeiro time do escalão global, Talma não esconde sua empolgação com a produtora Fábrica dê TV, que montou recentemente com o amigo e empresário José Paulo Vallone para desenvolver projetos independentes e negociá-los com emissoras. Num enorme galpão encravado numa das áreas nobres da cidade de São Paulo, o assumido work-aholic grava a trama de Colégio Brasil, ou talvez, Garotos do barulho, ou ainda Ferveção. O pique de trabalho ainda não deu para acertar muitas coisas, como o nome definitivo da novela, em que ele também estréia como autor ao lado de Yoya Wursch. Embora aposte suas fichas nos novos projetos, Talma não descarta uma volta à Globo. Tem até conversa agendada, para 16 de julho, com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Bom, vice-presidente de operações da emissora do Jardim Botânico. Até lá, arregaça as mangas e se entrega ao trabalho que tem estréia prevista para a primeira quinzena de maio no SBT.

- Está na hora de os empresários da TV repensarem seus negócios ?

- A TV Globo investiu muito em produção. O Sílvio Santos investiu em produção. A Bandeirantes não quer investir em produção, mas quer--um resultado imediato. O que existe entre os empresários da comunicação é que eles acham que o investimento deve retornar em seis meses. Não existe isso em lugar nenhum do mundo. Esse tipo de investimento só tem retorno em dois ou três anos, até porque você tem que criar o seu próprio público.

- Essa visão foi o que causou problemas na sua passagem pela Bandeirantes?

- Não houve problemas. Só que não posso ficar num lugar onde permaneço cinco meses esperando para produzir e não realizo nada.

- O que você está fazendo do jeito que queria e o que é diferente do que fazia na Globo?

- Aqui tenho menos ingerências.

- Por falar em Globo, sua volta à emissora está descartada?

- Eu não descarto nada. Tudo depende do que estou fazendo agora. Se der certo, se abrirem - como parece que está se pretendendo abrir o mercado, como começa a acontecer aqui em São Paulo, com o SBT realmente acreditando que é possível fazer esse tipo de investimento -, aí é muito difícil eu voltar. Eu saí de lá justamente para fazer o que estou fazendo agora.

- Fala-se de uma proposta em tomo de dois milhões de dólares por ano. É verdade?

- Não posso dizer isso. Eu tenho uma conversa com o Boni no dia 16 de julho. Comecei a construir algo e não quero parar no alicerce. Se houver possibilidade de fazermos 200 horas de produção por ano acho que Isso é um grande caminho para a Fábrica de TV. A televisão, não é brincadeira. E a única indústria nos últimos 40 anos que deu muito certo no Brasil. É uma indústria absolutamente brasileira. As pessoas podem até não concordar, mas a verdade é essa. Nós demos muito certo e eu participei dessa construção. A turma que não acreditou, agora acredita, porque nós ganhamos na pancada.

- Qual a possibilidade de no dia 16 o Boni aceitar uma proposta de sua produtora?

- Eu não tenho a mínima idéia. Eles investem até 60 milhões de dólares em produção, não há espaço. Se os empresários de televisão compram material da Fox, da Paramount, da Universal, eu não sei por que não podem comprar de produtor brasileiro. Aí é que está o absurdo. Não acho engraçado o Jack Valenti (presidente da Motion Pictures, entrevistado terça-feira pelo JORNAL DO BRASIL) vir para cá com essa pregação:''vamos investir no cinema brasileiro". Nunca fez isso! Por que está fazendo agora, por que é bonzinho? Os grandes absurdos que aconteceram com o cinema nacional foram por causa dele.

- Sobre a novela que você está fazendo agora dizem que é uma mistura de Malhação (último trabalho do diretor na Globo) com Carrossel (novela mexicana que o SBT pôs no ar com sucesso). O que você acha?

- Eu participo de produção de novela há pelo menos 27 anos. A novela existe no Brasil há uns 32. Acho que uma sempre parece com a outra. Se as pessoas acham que vou ficar com pudor de fazer algo parecido com Malhação ou Carrossel, é bom saber que eu vivo disso. Não tenho vergonha disso. O que existe de mais importante com relação à novela no Brasil é que se trata de algo que sabemos fazer bem. Eu não descarto a possibilidade de fazer isso. Se for parecido com urna outra novela de boa qualidade, ótimo. Não estou disputado com o mesmo público. Eu não vejo tão cedo a gente conseguir roubar audiência da TV Globo. Mas há nichos sobre os quais ninguém fala. A TV Cultura está investindo, no horário das 18h às 21h, em cima de criança e isso dá 12% de audiência.

- A produção independente pode se reforçar num mercado mais competitivo?

- Produzir mesmo, construindo e investindo em estádios, é raro. A única pessoa que conheci com esse tipo de cabeça foi o Sílvio Santos. Ele está consciente de que tanto nós quanto ele podemos perder dinheiro com essa produção. Mesmo na Bandeirantes, que pretende enveredar pela produção independente. ainda temos que consolidar algumas discussões. Eu saí de lá por causa disso. Não há possibilidade de não se investir.

- As dificuldades fora do esquema global não dão vontade de voltar para lá?

- Eu quero dar certo aqui. Eu sou paulista e vejo que São Paulo é árido nesse negócio de TV. O Rio está pronto. Se eu der certo aqui, vou lá falar para o Boni: "qual a novela que você quer que eu faça pela minha produtora?". O duro é investir nesse negócio. O tipo de cabeça do empresário brasileiro não ajuda. Aliás, é a cabeça do Fernando Henrique Cardoso. Ele fez Sorbone para ajudar banqueiro e não bancário. O problema é que todos estão seduzidos pela Sorbone. A imprensa é a maior seduzida. Aliás, gostei do depoimento do Geraldinho Carneiro (publicado pelo JB). Ele foi um dos poucos que falaram umas verdades. Aquele encontro no Rio (entre presidente e artistas) foi uma ópera bufa das boas...

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 31958