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Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 25/01/1982
Autor/Repórter: Cleusa Maria

NO AR, QUANDO SETEMBRO VIER, UM NOVO CANAL ''COM PADRÃO EUROPEU''

Se as duas antenas (uma para o Rio, outra para São Paulo) de alta potência e polarização circular, capa zes de emitir seus sinais na horizonte também na vertical, abrangendo 360 graus, forem entregues no prazo previsto de oito meses após a encomenda e se não apresentarem problemas na instalação, a Rede Manchete de Televisão entrará no ar em meados de setembro. Caso contrário, as transmissões começam no princípio de novembro.

Cento e vinte dias depois de ganhar a concorrência para os canais 6 do Rio, 13 de São Paulo, 4 de Belo Horizonte, 6 de Recife e 2 de Fortaleza, a nova rede já encomendou cerca de 35 milhões de dólares em equipamentos (americanos japoneses e ingleses), mais da metade do orçamento total estimado em 50 milhões de dólares. Todas as instalações físicas da emissora local estão prontas à espera dos equipamentos. Enquanto isso, o arquiteto Oscar Niemeyer trabalha no projeto do centro de produção nacional que funcionará num terreno de 100 mil metros quadrados, na Barra da Tijuca.

Se por um lado a direção da emissora parece não fazer muito segredo em tomo de equipamentos, instalações e técnicas, o mesmo não acontece com a programação da futura rede. Sabe-se apenas que se dirigirá a ,um público inteligente que assiste ou não à televisão ("classe A e B'') e que, com certeza, estará voltada para temas brasileiros, dentro de um padrão que mais se aproxima do europeu. "Mais sério, menos apelativo e menos eletrônico".

Nos corredores do "antigo" prédio da Bloch Editores, na praia do Russel, ressoam as ferramentas dos operários que trabalham nos arremates das instalações. A esses ruídos se alia o barulho das máquinas que preparam os alicerces de um terceiro prédio da empresa, ao lado do recém-construído também na praia do Russel.

Instalações - Em três andares interligados destes três prédios funcionará o novo canal 6 do Rio (a parte administrativa ocupará outros dois andares). O estúdio de jornalismo local, com 200 metros quadrados, três câmaras e cenários, fica no quarto andar ao lado de uma redação com espaço semelhante. Segue-se a sala de controle, onde estarão os suiters, monitores, geradores de caracteres e tudo o que se precisa para o sistema de jornalismo.

Caminhando para a direita há oito salas, cada uma com duas "ilhas de edição", o que permitirá que 16 jornalistas produzam suas matérias ao mesmo tempo. Atravessando-se uma porta de segurança, regulada por computador, por onde só passará quem tiver um ingresso (espécie de chave de segurança), entra-se na estação geradora central, isso já no segundo prédio da empresa.

Esta parte se divide em três áreas. A engineering ("estação do Rio no ar"), onde haverá, num espaço de 600 metros quadrados, telecines, vídeos-tapes, racks de recepção e transmissão, salas de VT. Em frente, numa sala de 300 metros quadrados, fica o coração da emissora: o master control. Aí, segundo a direção da rede, será instalado o que existe de mais moderno em eletrônica.

Ao lado do master control, estão duas grandes salas com 18 vídeo-tapes de uma polegada que trabalham por sistema de computador, cada um cuidando de seis máquinas. Paralelamente, funcionarão duas mesas de efeitos digitais que permitem todos os recursos de imagem pensáveis ("diminui, aumenta, multiplica, roda, gira").

No terceiro prédio, atualmente em construção, se localizará o control room para o estúdio 2, que tem 240 metros quadrados e ocupa o espaço de dois andares, destinado ao jornalismo nacional. O estúdio 3 funcionará no prédio do meio, no térreo - 240 metros quadrados - e se prestará a produção de shows e musicais. Um quarto estúdio utilizará o espaço e as instalações do atual Teatro Adolfo Bloch, englobando a piscina que fica ao fundo do palco móvel. Será usado também na linha de shows.

No 12º andar do prédio do meio haverá um quinto estúdio para a produção de musicais, entrevistas. Do master control, um operador poderá jogar imagens, simultânea mente, para a sala de emissão. Mais os três carros móveis que poderão estar na rua, serão oito os pontos de transmissão simultânea.

Para a instalação do centro de produção da rede ("ainda sem orçamento, mas com certeza acima de 50 milhões de dólares"), o presidente da empresa, Adolfo Bloch, adquiriu um terreno de 100 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. O centro, que está sendo projetado por Oscar Niemeyer, terá, no conceito arquiteto, uma cúpula de 60 metros de raio. Ela deverá dividir-se em duas partes.

Numa arte coberta estarão três grandes estúdios somando, no total, 2 mil 800 metros quadrados, cada um com capacidade para 300 pessoas.

A parte semi-coberta funcionará como teatro, anfiteatro e concha acústica e receberá 3 mil pessoas sentadas. Ao fundo da cúpula, haverá a marcenaria ("para a construção de cenários") e camarins. Numa lâmina anexa, funcionará a administração central de rede.

Tudo isso será circundado por espelhos d'água, cenários naturais e nos traços iniciais e Oscar Niemeyer (mostrados, mas impossíveis de serem fotografados) percebe-se a preocupação com o espaço para o descanso do artista. O centro deverá estar funcionando daqui a dois anos.

Nos Estados Unidos já foram comprados pela direção da Rede Manchete de Televisão quatro transmissores RCA (dois para o Rio, dois para São Paulo) e duas antenas ainda inexistentes no Brasil, pois "as usadas aqui emitem na horizontal, essas emitem também na vertical".

Para as estações de Recife, Belo Horizonte, Fortaleza foram adquiridos seis transmissores Pye - Philips, da Inglaterra. Os vídeo-tapes e câmaras (já comprados) virão do Japão, assim como os computadores de edição. Mesa e efeitos digitais foram comprados também nos Estados Unidos.

Todos os equipamentos, como diz a direção da empresa, são, sem dúvida, o que existe de melhor na avançada indústria desses países. Começam a chegar em abril e as últimas entregas (as antenas), em agosto.

A direção da rede calcula também que 1 mil 500 pessoas serão necessárias para movimentar o sistema. Com isso, "a Bloch vai chegar a 7 mil funcionários".

Programação - O grande mistério da nova rede de televisão fica por conta do que será mostrado através desses equipamentos fantásticos. A direção revela, por alto, que a rede Manchete de Televisão estará preocupada com o Jornalismo, os shows de alto nível, a criança, e que haverá um grande enfoque na área da Educação e Cultura.

E justifica: "O Sílvio Santos já está com as classes C e D, a Globo tenta fazer uma televisão eclética, mas parece que está puxando o cobertor para os pés ao contratara equipe de Reapertura e fala-se até em Chacrinha. A Bandeirantes, pretensamente, ocuparia a faixa A e B, mas ainda não ocupa".

O modelo, segundo garantem, será integramente nacional, pois entendem que a TV brasileira se voltou demais para o padrão americano. A idéia da direção da TV Manchete é fazer uma emissora que dê muito espaço para a música, agricultura, área rural, medicina, comportamento brasileiros. ''Com um padrão europeu".

Ainda para a direção da emissora, não se pode acreditar que não exista no Brasil espaço entre anunciantes e público para este tipo de televisão, "menos apelativa, sem concessões". Assim, pretende fazer um trabalho de bom nível com os custos compatíveis com a realidade brasileira.

Outra idéia é a de produzir o máximo possível e, já no início, a rede poderá entrar no ar com 50% da programação de produção própria. Há uns 40 nomes pensados (mas jamais revelados) para o elenco da TV Manchete. Somente em julho, quando a programação estiver pronta, se saberá concretamente o que será a nova rede,

A direção explica: "em televisão tudo é muito veloz. O que se planeja muda muito rápido. Quem sabe se até lá a TVS não será a campeã de audiência?". E, a muito custo, adianta: "a Rede Manchete de Televisão será alegre, extrovertida, jovial, mas também séria e o menos eletrônica possível.''

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 4438