PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 24/08/1983
Autor/Repórter: Alberto Beuttenmuller

J.SILVESTRE ACUSA E SE EXPLICA

J. Silvestre concedeu ontem, pela primeira vez em sua carreira profissional de 42 anos, uma entrevista coletiva para explicar os motivos pelos quais deixou a TVS, há 20 dias. A imprensa, disse ele, especulou à vontade, mas "só agora resolvi falar".

Fui roubado. Depois de muitos outros acontecimentos desagradáveis, descobri de repente que já não era nem o dono do meu próprio programa. O SBT havia registrado como seu o Show sem Limites, uma criação minha e de Carlos Manga, ainda na extinta TV Tupi. Mas fique claro: tenho pelo Sílvio Santos, que construiu um império com seu próprio trabalho, o maior respeito - declara.

Sílvio Santos foi locutor da Tupi quando J. Silvestre era produtor e diretor de programação e foi ele que levou o apresentador, em novembro de 1981, para a televisão, de onde estava afastado há 10 anos por cansaço do veículo. O que fez J. Silvestre abandonar a TVS, entre outros motivos, foi "uma porção de diretores, enciumados com a audiência do Show sem Limites".

Minha equipe sempre foi mal remunerada. Várias vezes pedi que revissem os salários desses companheiros, mas nada foi feito. Meu programa, líder em audiência e o maior sucesso comercial da empresa, tinha o pessoal mais mal pago da TV. Precisei sair para eles resolverem triplicar os salários da equipe, com medo de que ela viesse comigo para a Bandeirantes. Se o Sérgio Chapelin vai ganhar Cr$ 5 milhões, ótimo para ele, pois é um excelente profissional e já deveria estar ganhando isso. Fico feliz por todos.

J. Silvestre chegou a sentir a sua credibilidade ameaçada por causa do desrespeito da TVS com o telespectador e com os convidados do programa. E dá exemplos.

- No quadro Esta é a Sua Vida, onde se homenageava uma personalidade, vinham sempre convidados de fora. A TVS limitava-se a pagar a passagem e o hotel. Os convidados, às vezes pobres, que se arranjassem para comer. Como somos nós, os apresentadores, que ficamos com o ônus da imagem, nossa credibilidade, e não a da TV, passa a ser questionada em casos como esse.

Outro episódio que o deixou "perplexo" aconteceu no quadro A Mulher é um Show, no qual o programa dava dois prêmios em jóias, no valor de Cr$ 30 mil cada, às duas candidatas que cumprissem melhor suas tarefas.

- Um dia chegaram duas ganhadoras indignadas porque haviam avaliado as jóias e o valor não chegava a Cr$ 5 mil. Ou seja, as jóias não valiam os Cr$ 30 mil anunciados pelo programa. Cheguei a tirar o quadro do ar.

Dentro do SBT, o Show Sem Limite era considerado um programa caro. Por isso muitas vezes o próprio J. Silvestre comprava os prêmios com dinheiro do bolso dele. Como no caso de Tomé, um menino de seis anos que respondia sobre geografia no quadro Show Sem Limite e queria um piano como prêmio. A TVS quis dar um piano usado e Silvestre acabou comprando um novo para o garoto. A uma outra senhora, que dançava no carnaval paulista numa cadeira de rodas, o programa prometeu uma perna mecânica. Como a TVS não quis dar, J. Silvestre foi obrigado a assumir a despesa.

Já não tinha mais nada a fazer naquela casa. Através de cartório, mandei avisar ao SBT que não mais trabalharia na empresa. Se não avisaram ao pessoal da produção do show sem limites é porque não quiseram. Sai em paz com minha consciência. Eu quero responder judicialmente, pois tenho provas de tudo o que estou falando. Quero mesmo que isso aconteça. É na justiça que eu vou abrir por inteiro o meu baú - conclui.

Ele estréia terça-feira, às, 21h, na Bandeirantes, com o Programa J. Silvestre.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 4839