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Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 24/12/1993
Autor/Repórter: Arthur Santos Reis

O FIM DO CICLO MEXICANO

Termina esta semana uma das fases mais perniciosas da história recente da televisão no Brasil. Com o último capítulo de Marielena, o SBT sai desta lama, e sem choro nem velas (até porque a história já esgotou todos o seu estoque de lágrimas), encerra sua fase de mexicanização, que não vai deixar nenhuma saudade. Para a emissora até que não foi mau, porque estes subprodutos da indústria cultural ajudaram na composição de seu caixa, abalado pelo fracasso de sua última incursão pela teledramaturgia nacional, com Brasileiros e brasileiras. Mas para a inteligência nacional, esta sucessão de dramalhões vulgares pode ser vista até como um retrocesso na produção de telenovelas no pais. As histórias mexicanas não chegaram a abalar o estilo mais sofisticado das novelas brasileiras (leia-se Globo), mas a boa receptividade que teve entre o público das periferias, especialmente em São Paulo, trouxe de volta velhos conceitos de histórias populares para a televisão e desaguou na atual safra das novelas da Globo. Que, com raras exceções, pouco estão contribuindo para o avanço do gênero.

As telenovelas têm sido assim, uma fórmula repetida exaustivamente e sem critica. Parece que ninguém se preocupa em pensar até quando se vai fazer a mesma coisa, nem há algum tipo de compromisso em propor alguma coisa que mexa nesta engrenagem e a faca caminhar pra frente. Até o público se conformou com isto e consome estas novelas como uma fatalidade.

As produções mexicanas são de má qualidade, nem chegam a ser ingênuas. São apenas desprezíveis. E agora o próprio SBT se dá conta disto, ou concluiu que o público se cansou de chorar. Até o CNT, que andava insistindo também nesta linha, desistiu. Enfim, deixam de escorrer lágrimas na tela da televisão brasileira. Não exatamente pelas lágrimas, que podem até representar sentimentos nobres, mas porque tentam pegar o espectador pelas emoções mais banais. O SBT, agora, anuncia seu retorno às novelas nacionais e prepara o remake de Éramos seis. Não muda muito o estilo, mas vale o crédito do esforço de produção. Pelo menos não se paga royalties.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 50602