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Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 12/05/1991
Autor/Repórter: Eliane Martins

BOAS AULAS COM A MULHER MÁ

Silvia Pfeifer já está pronto para um novo trabalho em novelas. "Aprendi muito fazendo a vilã do horário nobre", diz ela

Há sete meses Silvia Pfeifer arriscou alto, quando aceitou interpretar a maquiavélica Isadora Venturini de "Meu bem, meu mal". Ela deixava para trás 13 anos de uma sólida carreira de modelo internacional para trilhar um novo caminho diante das câmeras da Rede Globo. Num balanço desse primeiro trabalho em novelas, a atriz fala das angústias por que passou, da sensação de dever cumprido e da vontade de seguir em frente com o apoio de seus maiores fãs: o marido e a filha.

Quando começou a gravar, Silvia sabia que o compromisso que estava assumindo era imenso, já que cabia a ela interpretar a vilã da história de Cassiano Gabus Mendes no horário nobre. Ela já tinha feito sua estréia na TV na minissérie "Boca do Lixo", ao lado de Reginaldo Faria e Alexandre Frota participando de 430 das 470 cenas gravadas. E sabia que seria um trabalho desgastante fazer uma novela inteira, mas não esperava que o ritmo fosse acelerado também:

— Peguei a personagem mais pesada da novela, além de toda a dificuldade de me encontrar e me sentir mais segura fazendo televisão. Gravava uma média de 30 cenas por semana e, como não estava acostumada, minha concentração tinha que ser enorme.

A atriz lembra que, nas primeiras semanas, o diretor Paulo Ubiratan pedia para que ela soltasse mais a voz. Só que Silvia não conseguia, devido ao nervosismo e à tensão. "Com o tempo, fui ficando segura e a voz começou a sair", diz. Agora que a novela está chegando ao fim e as gravações já acabaram, ela avalia o seu comportamento:

— Estou certa de que, no próximo trabalho que fizer, terei uma postura totalmente diferente, porque já entendi o mecanismo da TV e vou conseguir me disciplinar melhor, porque, dessa vez, não consegui fazer absolutamente mais nada na minha vida a não ser a novela. Quando pegava um capítulo e lia o que a Isadora tinha que fazer, já começava a sofrer. Acho que o momento menos doloroso era o da gravação, porque eu estava tendo o prazer de representar e viver a personagem.

Nos poucos momentos de folga, ela só queria mesmo estar ao lado da filha Emanuella, que completou 6 anos na quinta-feira, e do marido, o empresário Nelson Chamma Filho, que conheceu no colégio, em 1976. "Quando podia chegar mais tarde aos estúdios, sempre levava a minha filha ao colégio para ficar mais um pouco com ela", conta Silvia, que se acha uma mãe autoritária em certas ocasiões:

— Mas não tenho nada da Isadora, viu? Apenas gosto de ordem e procuro contrabalançar a atitude do pai, que faz quase todas as vontades da Emanuella. De vez em quando dou uma palmadinha sem força. Ela é muito meiga, calma, mas de personalidade forte.

Emanuella diz que a mãe só é brava de vez em quando. E Silvia conta:

— Ela é a preguiça em pessoa. É só "por favor, faz isso pra mim?", "me veste?", "não sei calçar o sapato"... Entendo que ela não queira errar, mas às vezes perco a paciência.

Nos últimos meses, porém, Silvia teve pouco tempo para ajudar a filha, principalmente depois que Isadora acentuou o que ela qualifica de "estado arisco", já que estava sempre pronta para se defender e agredir, provocando desgaste físico e emocional na atriz. E não foi só a personagem que contribuiu para isso. As críticas foram duras com essa pisciana de 24 de fevereiro de 1958, que diz que nunca deixará de lutar para atingir seus objetivos e lembra que quando chegou ao Rio, há 14 anos, passou por uma experiência que a marcou profundamente:

— Tenho um excesso de responsabilidade nas coisas que faço. Numa das primeiras sessões de fotos da minha vida, acabei demitida pelo fotógrafo Luiz Garrido, que disse que não estava ali para ensinar ninguém. Depois me tornei uma de suas modelos preferidas, ficamos amigos e ele diz aquele incidente nunca aconteceu.

Após um início difícil, Silvia conquistou o lugar de melhor modelo do País e uma das melhores da Europa, onde desfilou seus 1,80m e 58 quilos para Giorgio Armani, Christian Dior, Chanel e outras grifes famosas:

— Pode ser que não me aconteça isso como atriz, mas há grandes possibilidades, por toda a minha dedicação. Foi comprovado que eu tive talento para ser modelo e, como atriz, tudo ainda está acontecendo.

Com relação ao final que Cassiano Gabus Mendes reservou para a vilã de sua trama, Silvia acha perfeito. "Vai mostrar que, se a pessoa não cuida da vida pessoal, o poder acaba levando à solidão mesmo", analisa a atriz, dizendo que talvez Isadora nem mereça o poder e que torcia por um final feliz com Ricardo (José Mayer):

— Ele sempre foi o amor da vida dela e os dois poderiam dividir o poder na Venturini, apesar de saber que o público não reagiria bem se o final fosse esse. Então, ela ficaria com o Ricardo e sem o poder, porque, até pouco tempo atrás, eu sentia que as pessoas achavam que o Ricardo era o homem ideal para a Isadora e vice-versa, porque eles tinham uma enorme cumplicidade. Afinal, ele era muito ambicioso no início. Depois, deixou de ser.

Silvia conta que só nessa reta final da novela recebeu uma manifestação contra a sua personagem:

— Talvez por acharem que eu posso reagir como a Isadora, as pessoas não costumavam me abordar nas ruas. Mas na semana passada, quando saía do cabeleireiro, uma moça me viu e perguntou: "Você ainda não morreu?" Achei graça, porque no mesmo dia um rapaz tinha me dado os parabéns e dito que adorava a Isadora. E as crianças também demonstram gostar de mim.

Quando chegou em casa após o último dia de gravação, Silvia recebeu flores do marido, que sempre incentivou sua carreira. "Achei que ela foi muito corajosa de aceitar fazer essa personagem forte logo na primeira novela e admiro a cobrança que ela tem consigo mesma", diz Nelson.

Agora, Silvia pretende descansar num spa no Rio Grande do Sul e aproveitar para rever a família. Contratada da Rede Globo por mais um ano, ela conta que deverá integrar o elenco de outra novela ou minissérie. O teatro também está em seus planos, mas não pretende ser a protagonista de um espetáculo só porque estrelou uma novela do horário nobre. "Comigo não tem essa história de ser a estrela", enfatiza.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 51010