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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 28/11/1993 Autor/Repórter:
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FERA FERIDA NÃO TEM FIRULAS DE CÂMERA
As duas primeiras semanas de "Fera ferida" foram cercadas de boatos sobre o afastamento dos diretores gerais Denis Carvalho e Marcos Paulo. Nos bastidores, comentava-se que os autores Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares não estavam satisfeitos com a novela. Para reforçar a boataria, o diretor Gonzaga Blota, tradicional "apagador de incêndios" de novelas — ele já foi chamado diversas vezes para recuperar tramas, agilizar histórias ou mesmo substituir diretores — começou a dirigir as cenas da cidade cenográfica do Projac, juntamente com o diretor artístico e supervisor das novelas da Globo, Paulo Ubiratan.
Blota ficou apenas uma semana — já disseram que ele não quer ser subordinado de Denis. A partir de amanhã, o diretor Carlos Araújo (que trabalhou com Luiz Fernando Carvalho em "Renascer") passa a integrar a equipe, que já contava com Carlos Magalhães. Segundo números do Ibope, a primeira semana de "Fera ferida" perdeu por uma diferença de cerca de oito pontos na média de audiência para a que foi registrada na semana de estréia de "Renascer". Na última quarta, o diretor Denis Carvalho falou ao GLOBO.
O GLOBO — Há crise na novela?
DENIS CARVALHO — Não. O que aconteceu foi o seguinte: em função da chuva e do atraso na entrega da cidade cenográfica, que ficou pronta só na última semana antes da estréia, restavam 62% de cenas para serem gravadas lá. Era matematicamente impossível para que eu, o Marcos Paulo e o Paulo Ubiratan fizéssemos. Então o Paulo chamou o Blota para desafogar.
O GLOBO — Como é trabalhar sob a pressão da comparação com "Renascer"?
DENIS — Já sabia que ia haver comparação. Mas são dois tipos de novelas completamente diferentes. "Fera ferida" é uma linguagem em cima de atores, sem firulas de câmera, sem linguagem cinematográfica nenhuma. E proposital, não é falta de capacidade de ninguém. Continuo elogiando o trabalho do Luiz Fernando em "Renascer". Mas essa é uma crônica social calcada em cima da reação de atores, em cima do diálogo. "Renascer" não, era uma coisa mais blasé, mais passiva. Nesta, se eu fizer uma firula de imagem, dança a intenção do personagem.
O GLOBO — E a entrada do diretor Carlos Araújo?
DENIS — Ele já ia entrar, assim que acabasse "Renascer". Essa semana nós estamos definindo a divisão das frentes. Sou contra ter muitos diretores, porque são muitas cabeças pensando e isso é perigoso. Mas nessa novela é necessário porque a produção é muito grande.
O GLOBO — Você vai dirigir a próxima das oito, do Gilberto Braga? DENIS — Será decidido essa semana. Se eu fizer, deixo "Fera ferida" em dezembro.
O GLOBO — O que você está achando deste trabalho?
DENIS — Gosto muito. E outro tipo de novela, estamos no começo...Leva um tempo ate o público se habituar com os personagens novos. "Renascer" foi uma história, essa é outra. Acho a comparação muito pequena. Aí a novela fica taxada como produto industrial mesmo. Não parece, mas novela é um produto artístico acima de tudo.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 53388