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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Folha de S. Paulo Data de Publicação: 20/02/2000 Autor/Repórter: Erika Sallum
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AUTORA ESCREVE A PRÓXIMA NOVELA DA RECORD
No dia 8 de maio, a Record planeja pôr no ar sua próxima novela, "Laços de Família". Por trás da trama, está a escritora Solange de Castro Neves, 48, ex-colaboradora de Cassiano Gabus Mendes e Ivani Ribeiro. Sua nova novela contará a saga de um homem rico e sozinho e terá locações na Bahia. Apesar de ter o mesmo título que a próxima novela das oito da Globo, Solange não quer alterá-lo. "Por que eu é que tenho de mudar?", indaga.
- Sobre o que será "Laços de Família"?
- A novela vai contar a história de um homem que construiu um império, mas envelheceu sozinho. Antes de morrer, descobre que havia sido traído por duas pessoas de sua extrema confiança e muda seu testamento, deixando como herdeiras duas filhas até então desconhecidas. Criadas por mães diferentes, em ambientes opostos, as irmãs acabam se unindo contra um inimigo misterioso. Mas acontece o inesperado: ambas se apaixonam pelo mesmo homem. Poderá esse amor acabar com a união das duas? Ou serão os "Laços de Família" mais fortes que a trama da paixão?
- Já estão definidos alguns nomes para o elenco?
- Muitos atores já têm em mãos a sinopse da novela e os três primeiros capítulos. Não citarei nomes pelo receio de atrapalhar as negociações com a Record.
- Haverá mesmo locações na Bahia e no Embu (São Paulo)? E serão gravadas cenas na fazenda do bispo Marcelo Crivella?
- As locações serão na Bahia por causa de um dos núcleos da novela ser ambientado no Nordeste. Mostraremos a saga de um migrante nordestino para São Paulo e o contraste das terras áridas (Nordeste) com a fertilidade das terras paulistas (no Embu). Não haverá locações na fazenda do bispo Crivella, pois enfocaremos a realidade do Nordeste, que, mais que os efeitos devastadores da falta de chuva, sofrem as consequências da "indústria da seca". Somente no final da novela é que será enfocado que o Nordeste tem solução, sim.
- E o título "Laços de Família" será mantido, já que a próxima novela das oito da Globo também tem, provisoriamente, esse nome?
- O nome da minha novela está registrado. Por que eu é que tenho de mudar? Durante muito tempo, sugeri na Globo títulos como esse, mas eles diziam que era piegas...
- Você já trabalhou na Globo, onde há uma superprodução quando se trata de telenovela. Como é trabalhar agora na Record, uma emissora muito menor?
- Será que a Rede Record é menor? A responsabilidade de todos os envolvidos nesse projeto é muito grande, mas estamos imbuídos de esperança e vontade de que dê tudo certo. Principalmente pela abertura de novos campos de trabalho a excelentes profissionais que se encontram desempregados. Há quatro meses foram entregues, a pedido, duas sinopses inéditas que foram aprovadas, e "Laços de Família" vai inaugurar os novos estúdios da casa.
- Você guarda mágoa da Globo por ter saído da novela "Quem É Você"? Foi esse o motivo de sua saída da emissora?
- Não guardo nem poderia ter mágoa da Globo, pois sempre fui muito respeitada pelo Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, atual consultor da Globo) e pelo Mario Lucio Vaz (atual diretor da Central Globo de Qualidade), que me conheciam melhor e valorizavam meu trabalho. Minha saída aconteceu porque precisava enfrentar novos desafios e, para isso, deveria estar disponível.
- Você foi assistente de Ivani Ribeiro, autora de novelas como "Cavalo Amarelo" (80) e "Final Feliz" (85). Como foi essa experiência?
- Foi um presente de Deus trabalhar com ela. Com Ivani, aprendi muito, inclusive um fator primordial para um roteirista de TV, que é a disciplina necessária para desenvolver um capítulo por dia, de, em média, 30 páginas. É um trabalho que não permite quebra, por mais grave que seja o motivo.
- Quais novelas você escreveu, incluindo as como colaboradora?
- De Cassiano Gabus Mendes: "Brega & Chique", "Que Rei Sou Eu?" e "Meu Bem, Meu Mal". De Ivani Ribeiro: "Amor com Amor se Paga", "O Sexo dos Anjos", "Mulheres de Areia", "A Viagem", "Quem É Você?" e "O Sarau".
- Como você começou a escrever telenovelas?
- Eu trabalhava com Carlos Queiróz Teles na TV Cultura e, incentivada por ele, entreguei uma sinopse ao Paulo Ubiratan, que me apresentou ao Cassiano Gabus Mendes. Com ele, comecei a aprender a carpintaria da TV. Em seguida, Ivani Ribeiro me chamou para trabalhar com ela. Dessa forma acabei tendo o privilégio de ter como mestres dois grandes nomes da teledramaturgia brasileira.
- Afinal, telenovela é ou não é um gênero em extinção?
- Não é, não. Nosso país tem imensas diferenças sociais, onde teatro e cinema são inacessíveis à grande maioria. É por meio da telenovela que a população tem acesso a sua parcela de sonho e fantasia.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 54413