PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 24/03/1992
Autor/Repórter: Patrícia Andrade

FICÇÃO EM RITMO DE RELATO HISTÓRICO

Sílvio Tendler participa e minissérie

Sílvio Tendler está vivendo em clima de estréia. Só que, desta vez, longe das salas escuras e das grandes telas. A exemplo de Roberto Farias, Tizuka Yamasaki e outros órfãos da sétima, arte, o cineasta se prepara agora para experimentar uma nova função: a de diretor de televisão. Ao lado dos veteranos Dênis Carvalho e Ivan Zettel, o criador de "Jango" e "Os anos JK" vai pontuar a ficção com painéis históricos na minissérie "Anos rebeldes", escrita por Gilberto Braga e Sérgio Marques, e com estréia prevista para junho na Rede Globo.

- Achei o convite do Gilberto Braga curioso e, ao mesmo tempo, genial. Afinal, tenho o maior interesse em recuperar fotograma por fotograma da história do Brasil, seja na televisão ou no cinema. E "Anos rebeldes" vai possibilitar isso, já que é uma minissérie ambientada no Rio de Janeiro, entre 1965 e 1978 - diz Sílvio Tendler.

De musicais a desfiles de moda, passando pelo momento político brasileiro dos anos 60, todas as imagens documentais vão ser selecionadas pelo diretor nos arquivos da Rede Globo e em outros particulares para reforçar o enredo da trama. Através da montagem dos painéis, que serão exibidos originalmente em preto-e-branco, Sílvio Tendler pretende vencer um desafio, que consiste em privilegiar a emoção, se distanciando do dos fatos. O resultado desta investida, no entanto, não vai entrar no ar, obrigatoriamente, em todos os capítulos da produção, mas, sempre que se tornar necessário.

- O Gilberto não quis ser rigoroso quanto aos painéis históricos, o que eu, particularmente, achei sensacional. Em alguns capítulos, estas imagens vão estar registradas mais de uma vez. Em outros, nenhuma. Tudo vai depender do momento. Acredito que, de uma forma ou de outra, estamos inovando ao misturar ficção com realidade em uma obra para televisão. A proposta é válida e inteligente, pois tem a intenção de chamar atenção do público para a história do pais - declara.

O fato de estrear na televisão não assusta Sílvio Tendler. Até porque, segundo ele, a minissérie vai dar continuidade a um trabalho que vem sendo desenvolvido há anos no cinema. A integração com Dênis Carvalho e Ivan Zettel é outro ponto considerado fundamental para o bom desempenho do diretor de "Chega de saudade" que, além de andar às voltas com "Anos rebeldes", está defendendo uma tese de doutorado sobre o uso do audiovisual como suporte e difusor da história.

- É sempre bom aprender e eles têm me ensinado muito sobre o assunto. Estou passando por um momento em que a minha cabeça está fervilhando, lotada de idéias. E a televisão veio a calhar, porque é um veículo importante, embora, para mim, não seja o único. Tenho planos de, em breve, realizar um longa-metragem sobre os anos 70, chamado "Utopia e barbárie". E fora isso, há ainda mil e um projetos. O que não dá é para desanimar. Espero, um dia, poder voltar a trabalhar em cinema - conclui Sílvio Tendler.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 58733