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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 14/07/1986 Autor/Repórter:
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NOVO AMOR
O desafio de substituir D.Beija
Uma novela de apenas 70 capítulos na TV Manchete (Novo Amor). e um seriado com 20 na TV Globo (Memórias de um Gigolô) começam esta noite a disputar a preferência do público. Enquanto ao canal 6 pesa a responsabilidade de sustentar as boas audiências de D. Beija, no 4, o desafio é o de manter o mesmo interesse da minissérie anterior: Anos Dou
''A nova ordem econômica, em que reconhecemos muitos méritos, não pode e não deve substituir, na consciência de cada um, o interesse pela nova ordem constitucional. O que temos visto, por esse país afora, é o apetite voraz de sempre".
Esse discurso poderia sair da boca de um petista familiarizado com o manejo correto da gramática. Não é o caso. Quem está na tribuna do Senado é Marco Antônio, tipo político integro, encarnado pelo ator Carlos Alberto, o mesmo que, no passado, freqüentou o horário nobre da televisão brasileira no papel de galã romântico. Na vida real, Carlos Alberto está tão próximo da política quanto na tela: pensa em candidatar-se à prefeito de Maricá, seu refúgio à beira-mar há quase 10 anos.
Essa cena grandiosa marca o início de Novo Amor, novela que a Manchete estréia hoje, às 21h20min. A política, no entanto, é apenas um dos ingredientes da história escrita pelo paulista Manoel Carlos, 53 anos. Entre os autores brasileiros de teledramaturgia, ele buscou um caminho próprio, exercitado nas quatro novelas apresentadas pela Globo - Maria, Maria, A Sucessora, Baila Comigo e Sol de Verão. Em todas elas, seu texto é marcado pela discussão das relações pessoais. Há quem diga que Manoel Carlos é o melhor conhecedor da alma feminina.
Em seu terceiro casamento, ele acha essa idéia engraçada. Mas em Novo Amor, encadeia a trama exatamente através do comportamento pessoal de várias mulheres. Casadas, separadas, sonhadoras e lutadoras, as personagens femininas de Novo Amor apresentam
multiplicidade comportamental da mulher. Como cenário, o clima urbano do Rio, Brasília e Nova Iorque, tratado numa ótica limpa, sem caricatura.
Um modesto painel do comportamento com multa vontade de acertar - assim Manoel resume sua história. Já estão prontos 55 capítulos que provavelmente irão compor a novela. Nada para um autor que sempre brigou com o trabalho braçal de escrever novelas. Para ele, seriado seria a fórmula ideal para a teledramaturgia.
Não que a novela esteja gasta, isso é uma bobagem. Continua com o mesmo vigor de sempre. Mas, como autor, costumava reclamar da obrigação de encher lingüiça, aliás, a mesma queixa do público. Hoje, por exemplo, gostaria que me pedissem para reduzir Baila Comigo para 40 capítulos. Ficaria uma história ainda melhor.
E, incluindo-se no bolo, dispara: "novelista é um enrolador".
Mesmo tratando de várias mulheres, Novo Amor, como qualquer história, tem uma mocinha: Fernanda, vivida por Renée de Vielmond. Determinada a vencer, brilhará no campo da moda e se instalará num dos vértices do triângulo amoroso composto por Marco Antônio (Carlos Alberto) e Bruno (Nuno Leal Maia), comissário de bordo de linhas domésticas que, acomodado, deixou de lutar por melhores posições. Uma quarta figura se mistura nesse trio, a vingativa Lígia (Nathália Timberg) mulher com quem o charmoso senador mantém um casamento falido há 25 anos.
Nas tramas paralelas serão retratadas as agruras do casal de classe média, às voltas com o orçamento, como é o caso de Mário (Jonas Bloch) e Verônica (Esther Goes). A viúva que preenche sua solidão com paixões desastrosas, a ex-mulher que chantageia o ex-marido e o desgaste do amor conjugal transformando-se em tédio serão vividos por Virgínia (Beatriz Lyra), Isabel (Ângela Leal) Tito (Rogério Fróes) e Marisa (Ilka Soares). Espelhando-a competência profissional feminina, aparece Bity (Sônia Clara), produtora de moda e, no protótipo da insegurança, Tereza (Cristina Aché), irmã mais moça de Fernanda. Ela irá se envolver com Fernão (Diogo Vilella), filho de Marco Antônio e Lígia.
Afastada de novelas desde fevereiro de 1984, quando viveu a Kelly em Eu Prometo, último trabalho de Janete Clair, Renée de Vielmond diz que Fernanda é um papel que nunca fez na televisão.
Sempre vivi papéis muito densos ou as típicas heroínas do horário nobre da Globo. Fernanda parece uma mulher mais real, vivendo o fim do feminismo radical da década de 70 e entrando no desafio de conciliar a vida profissional e afetiva.
Ela gosta do jeito com que Manoel Carlos desenvolve o texto: "escreve para o autor, sem pirotecnia", avalia. E vê boas perspectivas no amadorismo - "no bom sentido" - com que a Manchete se lança na produção de novelas. "Sinto como se estivesse ajudando a implantar uma nova frente de trabalho'', comenta.
Novo Amor entra no ar com um desafio pela frente: manter - pelo menos - os índices de audiência alcançados por D. Beija, o maior sucesso da Manchete em seus três anos de vida. Com o mesmo faro que profetizou o estouro da cortesã de Araxá, Adolpho Bloch acha que nova novela deverá ter uma carreira mais discreta. ''Se ficar com 20% de audiência, ótimo", imagina. Assegurar, no entanto, que Novo Amor é a prova definitiva de que sua emissora não recuará na teledramaturgia: ''Investiremos o que for necessário para exibir produtos de boa qualidade. Produção nacional é nossa meta, nada de enlatados", garante. Manoel Carlos, por sua vez, diz não alimentar maiores ansiedades. E até prefere seguir um sucesso do que um fracasso: "pior seria pegar o horário com 5%", brinca.
Parece que o autor encara D. Beija como uma aliada descartando a imagem de rival. Aliás, antes mesmo de estrear, Novo Amor já se beneficiou de sua antecessora: o departamento comercial da emissora vendeu as cotas de patrocínio com uma rara facilidade. "A sensação dos anunciantes é de que D. Beija abriu um espaço para a novela na Manchete. Dessa vez não tivemos a menor dificuldade em achar anunciantes'', conta Expedito Gross, diretor comercial da rede. Na verdade, a Gessy Lever não pôde comprar os oito segundos diários porque a Casas da Banha antecipou-se. Os patrocinadores nacionais - Melita, Pernambucanas, Philips e Mesbla desembolsaram, cada um, Cz$ 6 milhões 470 mil para ligar suas marcas a Novo Amor.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 6227