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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo Data de Publicação: 20/04/2003 Autor/Repórter: Leila Reis
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MELODRAMA DO SBT É OPÇÃO À SANGUINOLÊNCIA
‘Jamais te Esquecerei’ começa bem porque o público já não agüenta tanto sensacionalismo
Antes mesmo de a Pequena Travessa dar adeus a seus seguidores, o SBT já emendou outra novela mexicano-brasileira – Jamais te Esquecerei – em sua programação e se deu bem. Ao estrear a nova novela enquanto exibia os capítulos finais de Pequena, a emissora conseguiu entregar (como se diz nos bastidores da TV) uma boa audiência para a iniciante. Sendo assim, Jamais registrou na estréia média de 18 pontos no Ibope (na Grande São Paulo), índice esse comemorado na Via Anhangüera com todo o entusiasmo.
Essa “estratégia” foi inventada pelo dono do império do SBT há mais de 10 anos e não tem erro. Antes de se despedir de um dramalhão, o telespectador “engole” o novo e, quando se dá conta, foi fisgado por meses.
Não é só o marketing de Silvio Santos que justifica o bom começo de Jamais te Esquecerei ou das tramas escritas por mexicanos, mas dirigidas e encenadas por brasileiros. O público sabe o que esperar de uma novela do SBT e suas expectativas são completamente atendidas.
Sabe que vai ver um melodrama rasgado, um elenco mediano (geralmente excluído do território da Globo), direção quadradinha e pouca pirotecnia a título de inovação. Assim como na Globo, um grupo de atores experientes segura a trama, amenizando os tropeços dos iniciantes.
O enredo central de Jamais te Esquecerei trata do amor de dois jovens – Beatriz e Danilo – que, quando crianças, juraram amor eterno. A mãe do rapaz (Bia Seidl) é contra o romance porque Beatriz é filha do ex-grande amor da vida de seu marido (Jonas Bloch). Tem uma bruaca que quer casar com o moço e desde criança atazana a vida da heroína.
Essas duas vão convencer o casal que eles são irmãos e, ao longo dos próximos meses, ambos vão se amar sem poder realizar o sonho de serem felizes juntos. Orbitando em volta do amor impossível estão outras tramas paralelas que englobam uma perua (Ana Maria Nascimento e Silva) que trai o marido com o vilão, uma mãe alcoólatra (Clarice Abujamra) que atormenta a vida dos filhos e por aí vai.
Ah, há um haras, com leilões de cavalos e música sertaneja. E esse pode ser o grande diferencial, porque as novelas em exibição na Globo atualmente são todas urbanas.
Mesmo fazendo um produto híbrido (meio nacional e meio mexicano), o SBT cumpre seu papel. Na pior das hipóteses está dando emprego e oportunidade para novatos ingressarem na carreira. Na melhor, corresponde aos desejos de um público que quer o folhetim como opção para a sanguinolenta programação que impera no horário.
O duelo entre os policialescos Cidade Alerta e Brasil Urgente – em que a truculência do conteúdo é reforçada pela beligerância de seus robustos comandantes – respinga na boa vontade até dos telespectadores de estômagos mais fortes.
Para escapar da avalanche das rebeliões de menores, dos suicídios de PMs e dos acidentes trágicos que alguns canais espalham pelo vídeo, parte da audiência encontra conforto em historinhas como Jamais te Esquecerei. E nem repara no figurino horrendo e na trilha quase amadora que embala o calvário de Beatriz e Danilo.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 87431