MIÉLE DEIXA MANCHETE E VOLTA AOS MUSICAIS
Estou me sentido amarrado neste banquinho". A frase de Mièle refere-se ao programa que grava na TV Manchete, Ela & Ele, que sai do ar em abril, para alívio do apresentador. Agora ele quer "alçar novos vôos" e já. prepara o terreno para aterrissar na TV, caso se concretize um contrato ambicioso com o diretor artístico da emissora, Carlos Alberto da Nóbrega, para dirigir uma série de programas na estação de Sílvio Santos. Serão 4 programas (um musical, um jornalístico, uma produção envolvendo todo o elenco do SBT, e outro, surpresa) a cargo da MIK Som, a produtora independente de Mièle, que deverá trazê-lo de volta à cena dirigindo musicais.
O projeto se enquadra na lei que estipula em 30% da programação a produção independente e está na pauta de negociações da TVS há 1 mês. O apresentador mandou um texto gravado para a avaliação de Carlos Nóbrega, Guilherme Stoliar e o diretor comercial do SBT, Rubens Carvalho, como afirma:
- Não há nada definido, pois não fechamos contrato, mas procuro esse espaço e estou me coçando para voltar a dirigir musicais e outros programas. Sinto falta das externas, do balé, de mais movimentação. E hoje minha produtora tem capacidade para fazer qualquer produção de TV, pois é uma mini-estação: tem estúdios, unidades portáteis de vídeo, caminhões, antenas e pessoal especializado. Agora, mais importante do que produzir tudo isso como diretor de criação da MIK Som é voltar 30 anos no tempo e retomar os musicais, como diretor e também com o ator. Venho tentando vender o projeto com ou sem a minha presença, mas certamente isso implicará na minha ida para a TVS.
Gravando sem contrato com a Manchete, Miéle afirma não ter qualquer queixa da emissora. Já se sentindo no ritmo dos novos programas, ele faz sigilo dos novos projetos, mas fala sobre o empresário Sílvio Santos, com quem mantém apenas uma "relação diplomática": "Admiro muito sua iniciativa de incentivar a abertura de mercado de trabalho para tantos artistas".
Miéle se recorda com saudades dos tempos em que dirigia os programas de jazz e bossa-nova, ao lado de Ronaldo Boscoli, nos primeiros anos da TV Globo, antes de Walter Clark. Noite de Gala, Se Meu Apartamento Falasse, O Fino da Bossa e tantos outros, que dirigiu também na Record, na fase áurea do trio Miéle/Elis/Boscoli.
Com A Praça da Alegria, no papel que hoje é de Carlos Alberto da Nóbrega em A Praça é Nossa, ele passou para a frente das câmeras. Aí seguiram-se Sandra & Miéle e Batalha dos Astros, na Globo, onde ele também dirigiu os musicais da primeira fase do Fantástico, há 15 anos.
Mas o grande sonho é "um dia convencer uma estação a fazer um musical com o mesmo orçamento de Grande Sertão: Veredas: Com a mesma tecnologia, empenho e talentos". Ele acredita que a tevê brasileira está passando por uma transformação, embora não seja saudosista a ponto de achar que na sua época se fazia melhor. "Isso pareceria bronca do cara de 50 anos".
Referindo-se a uma possível crise ("vide a mudança de Jô de emissora e a briga de Chico Anysio"), Mièle diz que o humor está mudando de cara. "Os homens da TV tratam mal os humoristas antigos. Mas são eles que garantem o público dos shows e até dos programas de televisão. Não sei se o caso do Chico Anysio é um reflexo disso, mas acho que a TV vai passar por uma grande virada em breve".
Sempre brigando pela qualidade, na televisão ou na música, Mièle vê com muita desconfiança o rock descartável. "Outro dia fui gravar com um grupo para o programa da Manchete, e na hora de o pessoal tocar mesmo, simplesmente foi impossível gravar. Guardamos a fita. Se eu tivesse uma boa mídia pegava quatro rapazes de Marechal Hermes, colocava uns cabelos neles e chamava-os de P4. la estourar. Só penso no futuro. Os garotos da bossa-nova hoje são os nossos maiores maestros. Será que isso vai acontecer com os garotos de hoje? E a TV, ela irá também pelo mesmo caminho?
