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O BONDE PAULISTA
Diante do vazio cultural de nossa televisão, qualquer programa que fuja ao nível habitual ou escape à padronização comercial costuma ser saudado com satisfação e, não raro, com um tipo de análise mais promocional do que critica. Já é tempo, porém, de se deixar de confundir a iniciativa com o resultado.
O último Globo Repórter - Do Sertão ao Beco da Lapa - espelha com realismo o que foi dito acima. É vidente que um documentário sobre Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Osvald de Andrade representava a priori uma iniciativa louvável e digna de aplausos. Isto, no tocante ao projeto; a idéia de aproximar esses escritores da espantosa massa que diariamente consome as imagens geradas pela Rede Globo. E resultado? dificilmente poderia ser mais decepcionante.
No fundo Do Sertão ao Beco da Lapa padece daquele velho vicio que destruiu a carreira comercial de muitos filmes do antigo cinema novo. Pretensioso, monótono, o documentário dirigido por Maurício Capovilla e Rudá de Andrade ignora solenemente o público e o nível de informação da gigantesca platéia que tinha à disposição. A visão de Capovilla sobre Guimarães Rosa, então, só se admite em trabalho feito para uma platéia de cineclubistas. Isto no tocante ao enfoque do assunto e ao próprio texto, pois, como realização cinematográfica, é de uma chatice pedante e progressiva.
Filmado pelo próprio filho de Osvald de Andrade, Rudá Andrade, curiosamente, a parte mais interessante do documentário sobre o escritor é a que diz respeito ao lançamento do bonde elétrico em São Paulo. Essa parte, sim, foi bem resolvida através de curiosos flagrantes fotográficos da época. No final, o telespectador, que estava pronto para
conhecer Osvald de Andrade, termina sabendo mais sobre o advento do bonde elétrico paulistano do que sobre o escritor. Curioso, não?
É difícil apontar qual dos três escritores foi mais sacrificado nessa pretensiosa e frustrada trajetória batizada na televisão de Do Sertão ao Beco da Lapa. Em termos de revelação visual, fisica e auditiva, o menos prejudicado parece ter sido o poeta Manuel Bandeira, talvez porque Capovilla tenha seguido o roteiro de Evocação do Recife. Agora, quem quiser ter um retrato de corpo inteiro do poeta, terá de ver o documentário filmado por Joaquim Pedro.
A viagem do sertão mineiro à Lapa carioca, com passagem por Olinda, era uma boa idéia que não contou com um bom jornalista ou um bom cineasta para levá-lo ao vídeo. Ficou no papel.
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