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PUC-Rio
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Jornal/Revista: ISTO É - Gente Data de Publicação: 04/03/2004 Autor/Repórter: Rodrigo Cardoso
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A DONA DA NOVELA
Dona da Casablanca, que produz a nova novela da Record, ela colheu 150 histórias sobre cirurgia plástica antes de sugerir o tema para a emissora
Em 1966, Odete de Souza Pinto, mãe do cirurgião plástico Ewaldo de Souza Pinto conheceu Lenir, então com 21 anos. Um defeito no queixo, o nariz adunco e comprido faziam de Lenir uma pessoa tímida. Odete apresentou a moça ao filho, que a levou à mesa de cirurgia sem receber pelo trabalho. Lenir ganhou auto-estima com a operação, tornou-se funcionária da secretaria de turismo de São Paulo e, mais tarde, foi estudar na Sorbonne, na França. Após quase duas décadas sem dar notícias, Lenir ligou para Ewaldo e contou que havia caído de um iate, nas Bahamas, e não encontrou um médico que conseguisse refazer seu queixo. “O iate era do marido dela. Aí, ela contou que havia se formado em Direito e trabalhava na Bélgica. E veio até mim em um jatinho particular”, conta Ewaldo. “Cirurgia plástica muda a vida da pessoa. Ela é feita na alma e não no corpo.”
Essas e outras histórias, sobre os benefícios das plásticas, foram relatas por Ewaldo à cliente e amiga Arlette Siaretta. Sócia-proprietária da Casablanca, império de 10 empresas que formam o maior complexo de audiovisual do País, Arlette colheu cerca de 150 histórias sobre cirurgia plástica. Planejava fazer um seriado, chegou a oferecê-lo a emissoras, mas não vingou. Em meados do ano passado, a empresária comentou com a cúpula da Record as histórias do cirurgião Ewaldo. Assim nasceu Metamorphoses, novela que tem como tema a cirurgia plástica e estréia no domingo 14.
Filha de um marinheiro e uma dona de casa franceses, nascida em Kouribga, no Marrocos, Arlette está desde setembro embalando Metamorphoses. Para não desgrudar da cria, trabalha sábados e domingos, delegou a administração da produtora e nem mesmo cheques tem assinado – dois escritores, porém, abandonaram a novela reclamando da interferência de Arlette no trabalho deles. “Vamos revolucionar a tevê, imprimir um padrão de qualidade só visto em cinema”, diz ela, que está investindo R$ 120 mil na produção de cada um dos 144 capítulos. “Queremos montar um centro de teledramaturgia.”
Com 11 anos no mercado, a Casablanca finaliza 80% dos filmes publicitários do País e possui equipamentos idênticos ao que o diretor americano George Lucas usa na produção de efeitos especiais. “Montei a Casablanca depois que li num jornal o (publicitário) Nizan Guanaes reclamando que as campanhas dele não ficavam com qualidade, porque faltava um lugar para finalizá-las.”
Nizan, primeiro cliente de Arlette, esteve, em 2002, à frente da campanha publicitária para presidente de José Serra, do PSDB, e Arlette, por trás das câmeras. Ela respondia pela produção, finalização e transmissão da campanha. O casamento não deu certo e até hoje Arlette cobra na Justiça R$ 32 milhões pelos serviços, valor que o PSDB achou exagerado. “Eles acharam que tinham mais credibilidade do que eu”, diz ela. “Eu estou tendo paciência, mas sou teimosa e vou receber.”
Primeira de cinco irmãos, Arlette viveu no Marrocos até os 11 anos. Era boa aluna e, costumeiramente, retornava para casa antes do final das aulas. “Com o terrorismo na Argélia, caíam bombas nos países vizinhos, que suspendiam as aulas.” A família mudou-se então para Paris. Formada em relações públicas, ela aportou no Brasil nos anos 70. “Aqui tinha o cheiro, o ambiente, coisas parecidas com as lembranças da minha infância.” Depois de trabalhar na Colgate-Palmolive, conheceu Pedro Siaretta, dono da Diana Cinematográfica, uma das maiores produtoras dos anos 70. “Ele teve a feliz ou infeliz idéia de me dar emprego. Seis meses depois nos casamos.” Numa reunião com diretores da Colgate, foi interrogada: “Como você virou dona?”. E respondeu: “Casando com o dono!”.
Mãe de Patrick, 30, Arlette distrai-se com cinema, praia e livros. Na infância, gostava de andar de bicicleta, mas sempre foi desastrada. Os mais próximos sabem que andar de carro com ela ao volante é um risco. Nos anos 70, depois de um acidente de carro, sofreu um corte no nariz e o reconstruiu com uma plástica. Foi a única experiência com o bisturi, garante. Graças a ela, ganhou um nariz novo, a amizade do cirurgião Ewaldo e começou a dar vida à Metamorphoses.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 95392