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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 19/05/1996
Autor/Repórter: Luiz Zanin Oricchio

'TAXISTA' DO SBT É UMA BARBEIRAGEM

Novela estrelada por Fábio Jr. derrapa no roteiro caduco e na produção indigente

Antônio Alves, Taxista será lembrada, no futuro, como a novela que Sônia Braga abandonou. Se é que Antônio Alves, Taxista vai ser mesmo lembrada algum dia no futuro. Seja como for, o melô argentino do SBT proporcionou a La Braga a rara oportunidade de tomar uma atitude sensata na vida - a outra parece que foi filmar Tieta com Cacá Diegues. Mas ainda é preciso ver o resultado do filme. Sônia justificou a rescisão de contrato com o SBT pela baixa qualidade do texto da novela. Disse mais: que não se tratava de uma adaptação, e sim de uma tradução literal do espanhol para o português. Acertou na mosca.

Sônia tocou no problema mais grave da novela e que deve acompanhá-la até o fim: o roteiro, típico dos anos 70, e que não foi atualizado. E, na verdade, como poderia ser? Difícil pegar um texto antigo (e ruim) e torná-lo moderno (e bom). A não ser que isso seja feito desde o início - e por gente de talento, ainda por cima. Por isso, adaptações de grandes obras antigas podem soar extremamente modernas. Seja porque o texto de partida é brilhante em si, seja porque a versão contemporânea tenha sido pensada por um adaptador competente. Como Antônio Alves está longe de se enquadrar em qualquer um dos casos, sua vocação é o desastre, mesmo.

Aliás, há uma infeliz coerência na concepção da novela. A trama é antiquada e os diálogos cheiram a mofo. Essa parte, digamos assim, literária, tem sua completa tradução na técnica de gravação usada, pelos estúdios argentinos. Os enquadramentos de câmera são convencionais, burocráticos mesmo. A iluminação é precária, como se a produção quisesse fazer economia de refletores. Tudo isso reforça o ar antigo daquilo que se vê na telinha.

Não se trata de minimizar o esforço do elenco brasileiro. Fábio Jr, que faz o personagem-título, andou dizendo que o papel é homenagem a seu pai, que era profissional do volante etc. Tudo bem. Branca de Camargo, que entrou no lugar de Sônia Braga, tenta dar o melhor de si, o que não é muito. Pelo menos mostra beleza física, o que é bom para o espectador. Antônio Abujamra continua muito competente representando Antônio Abujamra. Está à vontade no papel. E vai, por aí. Sente-se o odor das boas intenções, mas, como se sabe, o caminho do inferno está cheio delas.

Agora, não há esforço no mundo que livre a novela do ridículo de certas situações. O diálogo entre Fábio Jr. e Adriane Galisteu, recordando Ayrton Senna dentro do táxi, já é candidato sério a uma antologia de ''perolas da televisão brasileira". Na verdade, mais que pelo abandono de Sônia Braga, pode ser por aí que Antônio Alves, Taxista seja lembrada no futuro.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 96416