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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 23/05/2004
Autor/Repórter: Carol Knoploch

HERVAL ROSSANO, UMA METAMORFOSE NA RECORD

O diretor de teledramaturgia da Record, Herval Rossano, colocará mais uma novela de época no ar. Escrava Isaura, sucesso no mundo inteiro - o texto foi adaptado para a Globo por Gilberto Braga, baseado no livro homônimo de Bernardo Guimarães -, é a nova tentativa da emissora para emplacar o gênero. Desta vez, porém, a Record acompanhará de perto a produção. Monta, a toque de caixa, um núcleo inteirinho para iniciar as gravações em 90 dias. "São Paulo é ideal para esta história. Tem várias fazendas de café. A maior dificuldade é encontrar canaviais", declara Rossano, o diretor da primeira versão de Escrava Isaura, em 1976.

Para ele, as novelas de época sempre agradaram ao público. O problema, explica, são as emissoras que não conseguem emplacar merchandisings. "Mas com a Escrava Isaura há a possibilidade de merchandising com o Banco do Brasil, que estava sendo criado na época", conta Rossano, que, aos 68 anos, se sente pé quente. Além da Globo, trabalhou na Televisa. "Fui diretor-geral de novelas por dois anos e obriguei os atores a decorarem os diálogos. Comigo não usavam ponto eletrônico."

Instalado em uma sala vazia, com apenas uma mesa, quatro cadeiras e dois telefones, na Record, Rossano, ex-contra-regra e maquinista do Movimento Artístico Beneficente (escola de teatro), conta que adora A Gata Comeu (1985), se sente responsável pelo abuso da nudez na tela e que um de seus oito filhos faz sucesso no Chile, seguindo seus passos.

Estado - Quem vai contratar?

Herval Rossano - Emílio di Biasi, diretor de teatro que trabalhou com Luís Fernando de Carvalho na Globo. Conhece bem o meio artístico de São Paulo. Não temos orçamento para trazer gente do Rio, mas teremos globais que moram aqui. Os grandes ídolos da teledramaturgia, aliás, são paulistas: Tarcísio Meira, Regina Duarte, Tony Ramos, Francisco Cuoco...

Estado - Quais os outros projetos?

Herval - Cuido de um projeto de cada vez. Quero fazer uma versão de Escrava Isaura, história de domínio público, que não se pareça com a de 1976.

Estado - Remakes rendem comparações?

Herval - Você viu?

Estado ~ Não. Nasci no ano da novela.

Herval - Então... Perguntei a várias pessoas em restaurantes, bares e lojas, taxistas, aeromoças... A maioria nunca assistiu. Este é o meu termômetro.

Estado - Terá alguém da primeira versão?

Herval - Só o Rubens de Falco como o pai do Leôncio. Ele é meu amigo e tem muito talento. Não é porque é um senhor de idade - ele vai ficar p. comigo - que não mereça ter destaque. Ainda estou buscando alguém para o papel da Lucélia Santos. Mas não quero lançar atriz. Você sabe por onde anda a Mel Lisboa? A Lucélia, aliás, foi lançada nesta história. Comecei agravar sem atriz principal. Uma das cenas da Isaura, andando a cavalo, foi feita com dublê. Descobri a Lucélia quando fui ao banco pagar um boleto. Um amigo que indicou. Fui ao teatro vê-la, estava com Milton Moraes, e disse: "Você será Isaura.

Estado - Agora, pensa em quem?

Herval - Como não aceitei ainda, não posso falar. Se comentar, o concorrente contrata. O único com quem falei foi com Gracindo Júnior que tem proposta para uma minissérie na Globo no ano que vem. Devo começar a definir o elenco em 15 dias.

Estado - Você acha que pode ter problemas com a Globo?

Herval - Os direitos da obra são universais. O que a Globo pode fazer é outro remake e concorrer comigo.

Estado - Quem vai escrever?

Herval - Ana Maria Nunes, que já trabalho comigo em vários Você Decide, e mais um escritor.

Estado - E o José Louzeiro, que escrevia 'Metamorphoses'?

Herval - É mesmo, é? Escrevia? Que pena...

Estado - Qual o horário que lhe interessa?

Herval - 18h50. Minha meta é atacar o SBT e preocupar a Globo. Quando fiz Dona Beija (1986) na Manchete, incomodei muita gente. Sou pé-quente!

Ex-diretor de novelas na Globo e na Televisa, ele assume a teledramaturgia da Record e quer emplacar novamente 'Escrava Isaura', que foi dirigida por ele

Estado - E a trilha sonora?

Herval - O Henrique Daniel, que faz trilha sonora para comerciais e filmes, está trabalhando nisso. Não terá nenhuma música da primeira versão. Quero uma música do Chitãozinho e Xororó para a abertura (era 'Retirante', de Jorge Amado e Dorival Caymmi). O Henrique é amigo do meu filho, que é diretor do canal 13 do Chile (Universidade Católica do Chile). Aliás, é o diretor mais conceituado do continente sul-americano. Assinou o maior sucesso latino, Los Machos. Também é Herval Rossano, mas usa Herval R. Abreu para não ser associado a mim, que fui diretor do canal. Essa semana, inclusive, começou nova produção.

Estado - O que acha de 'Metamorphoses'?

Herval - Vi pouco. Aliás, não tenho nada a ver com Metamorphoses e não vou interferir no roteiro.

Estado - Gosta de novela mexicana?

Herval - (risos) Não posso gostar (mais risos). Já foi provado que não dá certo no Brasil. O Sílvio Santos que o diga. O texto mexicano é limitado.

Estado - Por que você foi ao México?

Herval - O Boni mandou descobrir o motivo da grande penetração da novela mexicana no mundo.

Estado - O que descobriu?

Herval - Eles sempre fazem a mesma história, a típica Cinderela. Uma vez a criada de uma fazenda se apaixona pelo patrão; na outra, pelo filho do patrão.

Estado - Qual a novela que fez que adora?

Herval - A Gata Comeu e Maria, Maria (1978). Gosto também de Pecado Capital (1975) e Carinhoso (1973), em que trabalhei como ator, ambas dirigidas por Daniel Filho. Inclusive, fiz uma versão de Carinhoso no Chile.

Estado - Quais os piores programas de TV.

Herval - O ruim é o abuso. E para pelo menos um deles, sou responsável: a nudez. Coloquei a primeira mulher nua na TV, Maitê Proença, em Dona Beija.

Estado - O que está achando de 'Cabocla'?

Herval - Não gosto de ver porque me dá saudade.

Estado - Quem matou Lineu Vasconcelos?

Herval - (risos) A Nívea Maria (sua ex-mulher).

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 98006