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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 02/06/1996
Autor/Repórter: Luiz Augusto Michelazzo

AS HISTÓRIAS QUE VALEM OURO

O vice-presidente do SBT acredita que o público não está tão atento a requintes de qualidade

Braço direito e sobrinho de Sílvio Santos, o vice-presidente do SBT, Guilherme Stoliar, diz que está disposto a investir tudo em teledramaturgia. A recente estréia de três novelas "Colégio Brasil, "Antônio Alves, taxista" e ''Razão de viver" - revela, entre outras, a intenção da emissora de conquistar o público mais visado pelos anunciantes: mulheres com mais de 25 anos. Ele conta que a direção da empresa pretende abocanhar 30% de um mercado que vai crescer 15% ao ano até 2001 e esclarece detalhes de um código de ética que impede que um canal faça propostas a estrelas que compõem o cast de outro enquanto os contratos estiverem em vigor.

O GLOBO: Por que o SBT decidiu investir pesado em teledramaturgia?

GUILHERME STOLIAR: Novela ainda é o melhor produto da TV brasileira, o que dá mais público, o que rende mais dinheiro. Vale lembrar que novela brasileira, indiscutivelmente, é a melhor do mundo. Queremos melhorar nossa posição num mercado que vai crescer 15% ao ano, durante cinco anos. O SBT tem 15% do mercado e quer chegar a 30%, faturar US$ 600 milhões nos próximos três anos. Isso não é muito, nem é ameaça.

- É verdade que as novelas já não atingem o público de alto poder aquisitivo, que estaria migrando para as TVs por assinatura?

STOLIAR: As pesquisas mostram que novela é o programa preferido nos 32 milhões de lares com aparelho de TV. No Brasil, televisão é lazer de massa. Os lares com TV por assinatura não chegam a um milhão. E a novela atinge o público mais procurado pelo anunciante: a mulher com mais de 25 anos. Não é por acaso que temos três novelas no ar.

- Se o SBT tivesse US$ 500 milhões para investir, aplicaria tudo em teledramaturgia?

STOLIAR. O Sílvio Santos jogaria TUDO em novela; ele é muito entusiasmado com teledramatugia (risos).

- E você consegue controlar a chave do cofre?

STOLIAR: Eu penso de forma administrativa. Investimos US$ 100 milhões na construção das novas instalações na Via Anhanguera, para onde todo SBT se mudará até o fim do ano. De 1981 a 1991 pagamos dívidas e a partir daí começamos a operar com lucro. Em 1994 investimos em jornalismo, em 1995 em esporte, e os dois vão razoavelmente bem.

- Agora é a vez da novela. O SBT está mesmo de olho no elenco da Rede Globo?

STOLIAR: O SBT está sempre, tentando contratar gente da Globo, buscando os que acham que estão ganhando mal, os paulistas que querem voltar para São Paulo. Mas não é nada fácil tirar gente da Globo, uma empresa que atua com bastante firmeza.

- Isso não é antiético?

STOLIAR:Temos um código de ética assinado por todas as emissoras de televisão na ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) no qual todos se comprometem a não tirar do outro um profissional que ainda esteja com contrato em vigor. O que se faz, como foi o caso da Angélica, do Gugu ou do Benedito Ruy Barbosa, é fazer antecipadamente um contrato que comece a valer tão logo termine o compromisso do artista com a outra emissora.

- Mas afinal, o Benedito Ruy Barbosa vai para o SBT?

STOLIAR: Ele assinou conosco para escrever duas novelas a partir de 1998, quando termina o contrato com a Rede Globo.

- Porque o SBT interpelou o Benedito Ruy Barbosa para se explicar judicialmente?

STOLIAR: Ele tem um contrato com a gente e já recebeu US$ 1 milhão. Queríamos explicação sobre as notícias divulgadas pela imprensa de que ele teria renovado o contrato com a Globo. Mas não tenho dúvida de que ele honrará o compromisso e até 2001 já terá escrito as duas novelas.

- O SBT completará 15 anos no ar em agosto próximo. Quais, na sua opinião, foram os maiores acertos e erros da emissora?

STOLIAR: Tivemos um grande numero de pequenos acertos. A novela "Éramos seis" foi um deles, o Projeto Anhanguera, outro. Quanto aos erros, também foram vários e pequenos. Um deles é o de não conseguir fazer novela com custo menor que o da Rede Globo. Estamos pagando pelo aprendizado, mas vamos chegar lá.

- Por que a parceria com a Ronda Estádios, da Argentina, para realizar "Antônio Alves, taxista", quando é sabido e comprovado que vocês fazem novela melhor que eles?

STOLIAR: Nós temos interesse em exportar novelas para a América Latina e para o mercado de língua hispânica. Esse território é totalmente dominado pela Televisa mexicana, seguida da Ronda. Ambas exportam mais que a Rede Globo, porque contam com textos mais universais.

- Mas vocês continuarão a parceria, apesar da opinião geral de que "Antônio Alves, taxista" é uma novela de má qualidade?

STOLIAR: A imprensa pune muito "Antônio Alves". A novela tem boa audiência...

- Na sua opinião, a novela é boa?

STOLIAR: Isso de comparar é relativo. O problema é que a qualidade da novela brasileira é excelente por "culpa" da Rede Globo, que faz o melhor produto do mundo. Mas os números mostram que o público nem sempre está muito atento a alguns requintes de qualidade. "Antônio Alves, taxista" vem alcançando índices de audiência em torno de 10 pontos, iguais aos de "Colégio Brasil" e "Razão de viver", cujas produções são simplesmente impecáveis.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 99895