PUC-Rio

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 07/07/1996
Autor/Repórter: Luiz Carlos Merten

'RAZÃO DE VIVER' REPETE LADAINHA DO SBT

Novela traz uma galaria de personagens estereotipados como o rico malvado e o pobre bonzinho e ainda esbarra na direção, interpretação e no texto

O núcleo de teledramaturgia do SBT poderia se chamar 'usina de reciclagem''. Desde que decidiu ingressar no filão das novelas e criou o tal núcleo, a emissora não faz outra coisa sendo, adaptar velhos êxitos. Não sai nada de original lá de dentro.

Razão de Viver é uma adaptação da novela Meus Filhos, Minha Vida, de Crayton Sarzi, Ismael Fernandez e Henrique Lobo, que o próprio SBT já apresentou em 1985. A nova novela está sendo escrita a mão por Analy A. Pinto e Zeno Wilde, com colaboração de Nara Gomes e supervisão de Chico de Assis.

É trama atual, o que representa novidade em relação às outras novelas da emissora, que investiam no filão de época (Eramos Pupilas do Senhor Reitor e do Meu Sangue). Também são atuais Antônio Alves, Taxista, a pior de todas, realmente risível - Sônia Braga é que foi esperta fora dessa fria -, e Colégio Brasil, a mais razoável, pelo menos tecnicamente, das três.

Segundo os autores, Razão de Viver exalta e valoriza a mulher brasileira, seus anseios, sonhos e frustações. Na ótica tacanha da teledramaturgia da emissora, isso significa colocar Irene Ravache repetindo a mãe coragem de Éramos Seis. Com todo o respeito pela atriz, é chata (a novela, não ela).

Ou melhor, ela também é chata. Irene Ravache encarna no SBT a mãe brasileira de origem humilde. Você conhece o tipo: abnegada, corajosa, cheia de amor para dar. Amor pelos filhos, naturalmente. No outro extremo, este o núcleo dos ricos, com a mãe representada por Joana Fomm. A filha é bêbada, mas ela pouco tempo tem para se ocupar da cria. Está sempre enganando o pobre marido. São estereótipos: pobre bom, o rico ruim. No meio do caminho, estão os personagens acessórios. A novela tem Paul Gazzola. Claro, ele só pode fazer papel de cafajeste.

Outro dia levou Ana Paula Arósio para uma gafieira. O núcleo de teledramaturgia do SBT deve ter pensado: se a gafieira funcionou em Explode Coração, com o 'Stop Salgadinho' que virou bordão nacional, por que não repetir a dose? Além do quê, pobre adora sambão. É a ótica das emissoras. Quebrou o maior pau lá dentro e Gazzola saiu com pinta de herói aos olhos da deslumbrada Ana Paula.

Razão de Viver é ruim, não porque seja mal dirigida e interpretada - o que é -, mas porque há uma absoluta incapacidade dos autores em tornar qualquer dos núcleos atraente e, menos ainda, de amarrar todas as tramas em algo realmente sólido. Não estamos falando de grande arte - o folhetim, segundo Balzac e outros cobras do gênero. Estamos falando de dramaturgia televisiva, um gênero que às vezes se eleva a níveis bem interessantes. Não é preciso comparar Razão de Viver com O Rei do Gado. Está faltando, competência no SBT.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 102364