PUC-Rio

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 14/10/1989
Autor/Repórter: Mauro Ferreira

OS SONS POR TRÁS DOS PERSONAGENS

Ruídos completam as trilhas das novelas

Não tem erro. Quando em "Tieta" Perpétua (Joana Fomm) faz um comentário 'irônico a respeito de algum morador de Santana do Agreste, o telespectador ouve uma vinheta que realça a ironia da beata. A vinheta, breve fraseado musical, é apenas um dos muitos recursos de que dispõe Aroldo Barros, o sonoplasta da novela, para dar vida e som à história.

Realizada após a gravação e edição dos capítulos, a sonorização das novelas tem sido cada vez mais apreciada por crítica e público,. Um marco decisivo para essa valorização foi "Roque santeiro", em 1985, quando o tilintar das pulseiras de Sinhozinho Malta era imitado em todo o País.

Para a satisfação de Aroldo, o responsável pela sonorização de "Roque santeiro", a sonoplastia ganhou mais importância a partir de então. Atualmente, mais do que sons e ruídos, o sonoplasta deve dar unidade às cenas.

E eles dão. Uma vez gravados e editados, os capítulos vão para a ilha de sonorização. Lá, o sonoplasta acompanha a história no monitor, cena por cena, marcando as que precisarão de efeito sonoro.

Armazenados em disquetes laser e fitas (cada disquete guarda em média 80 tipos de ruídos e vinhetas), os efeitos sonoros ficam sob a responsabilidade do "ruideiro", o auxiliar do sonoplasta. Em "Tieta", o "ruideiro" é Jair Pereira.

Ao sonoplasta cabe fazer a mixagem, a junção do ruído (ou vinheta) com a imagem. Além, é claro, da utilização das músicas da trilha sonora, sempre de acordo com a orientação dada pelo produtor musical.

São muitas as opções do sonoplasta. Na TV Globo, o departamento musical faz várias versões instrumentais com base nos arranjos originais das canções. E a chamada trilha incidental. As músicas da trilha sonora recebem, em média, quatro versões dentais: triste, alegre, romântica e tenss.

Por exemplo: se Ascânio (Reginaldo Faria) estiver apreensivo, Barros utiliza a versão "tensa" de "Paixão antiga", de Tim Maia, que serve de tema para o personagem.

- Se a cena não tem diálogo, é preciso colocar música, para não ficar um vácuo sonoro - afirma o sonoplasta.

Neste arremate, vale emendar uma música cantada com sua versão incidental (e vice-versa) encaixar uma canção na passagem de uma cena para outra ou utilizar apenas um trecho da música.

Só não vale esquecer da trilha nacional quando, por volta do capítulo 90, é lançado o LP internacional. Da metade da novela em diante, o sonoplasta dá ênfase nó uso das canções internacionais, mas não deve deixar de utilizar as nacionais ou misturar diálogos e música.

- Um atrapalha o outro - garante Aroldo.

Cada novela tem uma linha de sonorização traçada pelos seus diretores. Em "Tieta", optou-se pela utilização de sons brasileiros e são evitados ao máximo os recursos eletrônicos. "Top Model", sonorizada por Jenny Tausz, com o auxílio do "ruideiro" Francisco Sales, é incrementada com sons modernos, típicos de uma cidade grande. e com .

uma trilha sonora de músicas jovens, a maioria cantadas por roqueiros.

É uma linguagem radicalmente diferente da de sua antecessora no horário, "Que rei sou eu?", também sonorizada por Jenny. Passada no século XVIII, ela utilizava sons de carruagens, espadas e revólveres antigos. Sons que deram muito trabalho a Jenny.

A sonoplasta conta que, para fazer as cenas finais, quando os rebeldes de Avillan invadiram o castelo do rei impostor, ela e a equipe "viraram" três noites trabalhando na sonorização da batalha.

SONOPLASTIA 'ENFEITA' AS CENAS

Autor/Repórter: Christina Martins

Passarinhos cantando, porta de carro batendo, passos nas folhagens. No vídeo esses sons parecem conseqüências naturais das gravações, mas não. Fazem parte dos efeitos sonoros usados nas novelas. E dão trabalho. Que o diga, Sérgio Seixas e Marcos Caetano, responsáveis pela sonoplastia e efeitos sonoros de "O sexo dos anjos". Junto ao produtor musical João Augusto eles fazem o som da novela.

Os capítulos são entregues ao trio apenas com os diálogos. Logo começa o mesmo processo que já acompanha Sérgio Seixas há 15 novelas e I João Augusto há apenas cinco: Sonorizar.

- O som é que embeleza o capítulo. Damos uma polida nas falas, tiramos ruídos ingratos, que o microfone captou durante a gravação e satirizamos certas cenas com arranjos - afirma João.

A produção musical começou bem antes da estréia. Após várias reuniões, escolheu-se a trilha sonora, que, segundo João Augusto, será bem popular, adequada ao horário e à história, "que é uma comédia, bem leve".

O disco "O sexo dos anjos" nacional chega hoje às lojas. Com forte apelo popular, apresenta como carro-chefe "O anjo", do conjunto Yahoo. Tem ainda Lulu Santos com "A dois"; Nico Resende em "Natureza viva"; "Matinê no Rian", do João Penca e seus Miquinhos Amestrados, com participação de Paula Toller; Sandra de Sá, com "Alma gêmea", e Rosana, que canta "Onde o amor me leva".

As surpresas ficam com Cláudia Oliveti, estreando como cantora em "Namorar", e Marília Pêra, com "Amendoim torradinho", tema do menino Cuca. As lambadas da Francisquinha (Heloísa Mafalda) não foram esquecidas. Para representá-las, o lambateiro Beto Barbosa e sua "Adocica". Zizi Possi comparece com "Dedicado a você"; Eduardo Dusek com "Sou eu"; e Escowa e a Máfia com "Amigo do amigo". O instrumental fica por conta de Zé Lourenço, com a sua "Anjos e demônios" .

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 10410