INICIATIVA MUITO MAL PROGRAMADA
BIG MAC. Cortina de Vidro, que marca o retorno do SBT ao ramo de novela e estreou às sete e quarenta da noite na última segunda-feira, parece um grande sanduíche de lanchonete multinacional. Tem todos os ingredientes já testados na indústria alimentícia do gênero misturados no balcão, à frente de todos, sem qualquer preocupação com originalidades, sabores especiais ou requintes de temperos. Tudo preparado por uma equipe que tem a franquia do título da empresa mas ainda não está suficientemente adestrada para melhorar e temperar esta comida rápida. Tanto que inaugurou a loja de maneira bem intempestiva. Fez rala publicidade, pelo menos no Rio de Janeiro, que é uma das praças que atinge, e colocou sua mercadoria em horário que sua maior competidora tem, nada menos, que o Jornal Nacional. Uma tradição alimentícia do público com maior apelo ainda agora devido às suas pesquisas eleitorais fresquinhas já que a campanha para Presidente da República está na reta final.
Um momento bem pouco adequado para estrear outra novela, voltar a um setor que a estação até agora não teve sucesso e lançar produto de investimento inegavelmente alto. Mesmo sendo ele o resultado de uma produção conjunta entre o SBT e a independente empresa Art Vídeo Produções. Até com os custos divididos, é caro. E tudo indicaria que deveria começar sua vida depois do 15 de novembro. Mas insistiram e ainda tiveram o azar que no dia do primeiro capítulo nem mesmo o TJ Brasil, noticiário da emissora, pôde lhe dar a atenção devida, pois tinha muito que informar sobre a candidatura do patrão Sílvio Santos à Presidência da República.
Mas mesmo na surdina ela começou. O autor é o jornalista Walcyr Carrasco, com o luxuoso auxílio de Bráulio Pedroso, que assumidamente não se esquiva, em entrevista para este jornal, de revelar todas as influências que utilizou para seu trabalho. Além das óbvias caçadas na Globo, e algumas até mesmo na Manchete, tirou muito hamburger do cinema americano. Nos primeiros capítulos, a sua carne foi totalmente fornecida por Adorável Pecadora e Chorus Line. Pena que mal passada, . pois a direção de Guga de Oliveira não soube sofisticar a sua cópia. Embora não seja esta a intenção, ronda o perigo de se tornar chanchada. Principalmente no subtema que une Gianfrancesco Guarnieri e John Herbert absolutamente calcado no Estranho Casal que foi vivido na tela por Walter Matthau e Jack Lemmon. Ainda afastados desta ameaça, os atores se comportaram bem no início. Com destaque para Herson Capri sabendo usar seu charme físico, engraçado é o. sobrenome de seu personagem Stuart Mill, que é o mesmo de conhecido economista e pensador inglês do século passado, o que não deve ser coincidência e Antônio Abujamra no melhor estilo Naji Nahas. E bom ver de volta Luiz Carlos de Moraes ha tanto tempo afastado de novelas. E escutar trilha sonora, embora mal equalizada, fora do estilo comercial imediato da Globo. Mas temo pelo fracasso de uma iniciativa muito mal programada. Com defeitos e vícios de origem, mas mesmo assim, em termos de cotejo, bem superior a O Sexo dos Anjos e Top Model. Por seu mais simpático romantismo sem infantilidades. Mesmo assim, não acredito no sucesso.
