PUC-Rio

Jornal/Revista: VEJA
Data de Publicação: 13/09/2006
Autor/Repórter: Marcelo Marthe

MÉNAGE À TROIS

Cidadão Brasileiro virou um campo de testes para seu autor. Tem diabo e namoro gay

Quando criou o personagem Nilo, o noveleiro Lauro César Muniz esperava que ele desempenhasse o papel de um médico machão no folhetim Cidadão Brasileiro, da Record. Ao conhecer seu intérprete, o ator Thiago Chagas, Muniz mudou de idéia. "Logo percebi que ele era um rapaz suave", diz. O autor partiu então para um plano B: transformou o personagem em gay. Não satisfeito, fez dele um dos vértices de um triângulo amoroso bem arrojado para os padrões de um folhetim. Nilo tem um casamento de fachada com Julieta (Vanessa Goulart) e um caso com Agnaldo (Gustavo Haddad) - um enfermeiro. Este, por sua vez, se relaciona também com Julieta. Até a semana passada, contabilizava sete filhos com a moça - feitos, diga-se, com total anuência e estímulo de Nilo (que não dispensa um drama: no primeiro parto da mulher, teve um ataque de nervos e pediu ajuda ao namorado: "Ai, Agnaldo, vou desmaiar"). Os três vivem juntos numa relação aberta em uma cidadezinha interiorana dos anos 50 e 60.

O homossexualismo é um tema difícil na televisão. Ele ainda choca boa parte dos espectadores, e qualquer deslize na abordagem acarreta rejeição, como ocorreu em várias novelas. Em Cidadão Brasileiro, Muniz ousou na proposta, mas não na forma. Não houve beijo nem cena de sexo. O romance dos rapazes fica óbvio, mas sua consumação só é sinalizada de forma sutil. O máximo que se viu foi uma cena em que os três se deram as mãos e Julieta beijou a ambos. Com essas medidas, evitou-se a polêmica. Apesar da média de 10 pontos de ibope, a novela é zero em repercussão.

Veterano autor da Globo, Muniz encontrou em Cidadão Brasileiro um campo livre para testar limites, já que ganhou autonomia da Record para escrever o que quisesse. "Eu me soltei mesmo", diz. "Até porque a emissora está aberta a novas experiências." E como. Além do ménage à trois, Muniz também vem tocando num tema titilante para os bispos da rede. O personagem Victor (Jayme Periard) comanda uma seita e é mensageiro do demônio. Para dar um certo ar intelectual à coisa, o noveleiro inventou a história mirabolante de que o clássico da literatura alemã Fausto, de Goethe, seria um livro de revelações diabólicas. O tal bruxo, que era careca na fase anterior da novela, ressurgiu com uma longa cabeleira e ternos amarfanhados depois de um salto de dez anos na trama. Em Cidadão Brasileiro, o diabo, definitivamente, não veste Prada.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 123893