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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Folha de S. Paulo Data de Publicação: 01/07/1990 Autor/Repórter: Sônia Apolinário
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FAUSTO SILVA NEGOCIA IDA PARA MANCHETE
O apresentador Fausto Silva, 40, se reúne amanhã à tarde com o vice-presidente de Operações da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, para acertar com a emissora a renovação de seu contrato, que vence em novembro. Caso a proposta da Globo não agrade o apresentador do "Domingão do Faustão", ele pode se transferir para a Rede Manchete. Na terça-feira, Fausto Silva tem uma reunião marcada com diretores da Manchete.
"Não tenho motivos para sair da Globo. Adoro a Globo, mas consegui me projetar fora dela. Minha máxima é: a profissão é sagrada, o local de trabalho é um acidente", diz ele. Embora afirme que não gosta de entrar em leilão, o apresentador admite que "os números" farão o papel de fiel da balança. Atualmente, segundo a Folha apurou, Fausto Silva recebe um salário de Cr$ 600 mil da Globo, que, acrescido de porcentagem por merchandising e promoções realizadas seu programa, chega a Cr$ 2,5 milhões. "Dinheiro não é importante. O fundamental é conciliar o que se vai fazer com o que se vai receber", diz Fausto. Segundo ele, nas reuniões da semana passada só foram discutidas as propostas de trabalho.
Que, são semelhantes. A Globo quer aumentar a duração do "Domingão do Faustão" dos atuais 210 minutos para 240 minutos. Quando o programa estreou, em março do ano passado, tinha 180 minutos. Além disso, a emissora quer que Fausto participe de um novo telejornal noturno, uma espécie de "talk show", previsto para estrear no final do ano, no lugar do "Jornal da Globo". Para 1991, ele ainda apresentaria um programa aos sábados à noite. Na Manchete, o "Domingão do Faustão" seria todo ao vivo, no auditório paulista da emissora, e exibido das 17h às 20h. O apresentador também faria, semanalmente, um programa noturno de entrevistas.
Na última quinta-feira, Fausto almoçou em São Paulo com o diretor-geral da Rede Manchete, Expedito Grossi, e o diretor-geral de programação da emissora, Nilton Travesso. No dia seguinte, ouviu a Globo, numa reunião com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. "A Globo leva uma vantagem nessa negociação porque já estou na casa e estou satisfeito. Mas a Manchete pegou o gosto de fazer TV e pegou legal. Tenho que aproveitar minha boa fase porque a vida é como roda-gigante: um dia se está em cima; em outro, embaixo", brinca Fausto Silva.
'MARGINAL' VIRA INSTITUIÇÃO NA GLOBO
Autor/Repórter: Inácio Araujo
Os ouvintes de boa memória lembram do tempo em que Fausto Silva era apenas o "Capitão Gay", apelido que ganhou de Osmar Santos no início dos anos 80, na rádio Globo, quando o personagem criado por Jô Soares fazia sucesso na TV. A imagem de Fausto ainda não era conhecida do público, mas não era difícil imaginar que o então repórter esportivo não era propriamente raquítico.
Fausto foi um repórter à altura do apresentador de TV que seria depois. Num momento em que a crônica esportiva substituía o estilo militar por um tipo de intervenção mais lúdica, ele foi um coadjuvante mais que aplicado, tanto nas transmissões de jogos como no programa "Balancê", onde a estrela era Osmar Santos.
Na TV, Fausto Silva se aperfeiçoaria. Primeiro na Record, desde 1984, depois na Bandeirantes, desde 1986, desenvolveu no seu "Perdidos na Noite" um humor baseado na intervenção cortante e numa capacidade rara de fazer a pobreza da produção trabalhar a seu favor, e não contra. Sua "irreverência" era, a rigor, um olhar crítico afiado, que lhe permitia buscar sentidos novos em situações que rumavam para o rotineiro.
É verdade que em 1989, quando passou à Rede Globo, o modelo já estava botando a língua de fora. O tipo "quem não pode fazer nada avacalha" virou uma maneira como outras. A Globo lhe deu o que não tinha tido até então: público maior e produção menos miserável.
Em troca, Fausto Silva deveria realizar uma operação delicada: desbancar Sílvio Santos da liderança no domingo, ajustar-se ao padrão da Globo e, ao mesmo tempo, tirar-lhe a poeira. Só esta última parte não foi completamente sucedida. Embora uma só de, suas tiradas valha mais do que cem anos de "TV Pirata", por exemplo, o Faustão atual parece enfiado numa camisa-de-força.
Não se trata necessariamente de autocensura. Como marginal, Fausto fazia da TV um veículo de experimentação. Depois, virou uma instituição dentro de outra instituição, a TV, que existe pela repetição de sentidos. E sentido dado é sentido morto.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 12690