PUC-Rio

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 06/10/1990
Autor/Repórter: Ângela Pimenta

GLOBO PISA EM SP COM ''AMOR E ÓDIO''

Na próxima novela das oito, de Cassiano Gabus Mendes, o mundo do design substitui a ferrugem da Sucata. Um terço das gravações acontece na cidade

Depois do final feliz da ferruginosa e reciclável Rainha da Sucata, a Globo aposta a seguir na virginal fantasia do mundo do design, com seus traços, formas e texturas a encorpar o dramalhão Amor e Ódio, de Cassiano Gabus Mendes. Com estréia marcada para o dia 29, a próxima novela das oito está sendo gravada em regime de urgência em São Paulo e arredores, sob a direção de Paulo Ubiratan. No elenco, os ricos Lima Duarte, na pele de Don Lázaro Venturini, o patriarca do desenho aplicado, e mais José Mayer, como Ricardo Miranda, seu sócio minoritário, Sílvia Pfeiffer, como a megera glamourosa Isadora, sua filha Vitória, interpretada por Isabela Garcia, além de Marcos Paulo, Luma de Oliveira, Yoná Magalhães e Thales Pan Chacon.

Para eles, a equipe de produção já obteve locações de real opulência, como o haras do empresário Abílio Diniz, em Indaiatuba, e o Restaurante La Tambouille. Na mira de Paulo Ubiratan está o Fasano, o mais nobre e concorrido salão gastrômico do País. A cor local paulistana recebe para esta novela um tratamento inédito da emissora. De paulistano, Rainha da Sucata tem de verdade pouca coisa, além de ângulos panorâmicos, os conhecidos stock shots do jargão cinematográfico. Amor e Ódio, ao contrário, terá pelos menos um terço de suas gravações ou todas as cenas externas e locações de ambiência definida, como é o caso dos restaurantes e shoppings, feitas de fato em São Paulo. Isso significa que todo o elenco e a equipe técnica viverão metade dos próximos oito meses na cidade.

Os pobres e remediados contracenam, desde a última quinta-feira, num casario localizado no coração do bairro do Belenzinho, perto da fábrica da Goodyear. Ali, antes que a chuva caísse pesada e a luz se tornasse insuficiente, Jorge Dória, que faz o aposentado Emílio Marques, Cássio Gabus, como o balconista de botequim Doca e a bela e promissora Valéria Alencar como ;tia namorada Dirce (leia texto nesta página) encantam uma legião de mães, avós e crianças. Uma reunião de pais e mestres na escola mais próxima cancelou as aulas do dia. O resultado foi uma audiência ruidosa e curiosíssima para os trabalhos de Amor e Ódio. No fundo de um dos quarteirões da Rua Vitor Siqueira Mingrono, Doca vem aos berros aos encontros da namorada: "Tá louca? Enlouqueceu? Tá pensando o quê? Tá careca de saber que, quando tem alguém no balcão, eu não posso sair de lá!".

Ele se aproxima de Dirce (Valéria) sentada na traseira de um Chevette com uma saia godê de jeans e uma camiseta colada no corpo. Já quase juntos, a moça outra-ataca: "Você tava cantando aquela menina!". Dirce tem ciúmes procedentes. O enredo de Cassiano Gabus Mendes, que será auxiliado pela dramaturga Maria Adelaide Amaral depois do 209 capítulo, prescreve um futuro próspero para o rapaz. Numa virada digna de Pigmalião, ele raspa a barba, trocas as camisetas desbotadas por panos mais caros e ganha um status fino e chique. Sua profissão na nova fase ainda será definida pelo autor. Mas é possível saber de antemão que Fernanda Castro, vivida por Lídia Brondi, e sua mãe Berenice, Nívea Maria, terão responsabilidade na virada do moço.

Como confidente Doca terá Emílio Marques. Foi com ele, ou seja, Jorge Dória, que os trabalhos da equipe terminaram na quinta-feira. Numa gravação noturna, própria para o clima confessional, Emílio, de paletó de pijama, pede que Doca "dê uma forcinha" para a neta, justamente Fernanda/Lídia Brondi. Doca, malandro, mulherengo, mas sensível, quer saber se a moça é bonita. O avô responde perguntando: "Que importa se ela é bonita ou feia? O que eu estou te pedindo é um ato humanitário." Doca discorda:"Não importa pra você, porque ela é sua neta. E pra perder o noivo, como ela perdeu, é porque ela não tá com toda essa beleza não."

Tais diálogos consumiram mais de quatro horas de trabalho. Para a corrida de Doca até Dirce, foi necessário usar uma câmera acoplada a uma grua, que é um braço mecânico de 1.6000 kg capaz de fazer movimentos ágeis de subida e descida. A platéia não se contentava com o anonimato. As crianças queriam se misturar com artistas, equipe e equipamentos. Muitas vezes o produtor João Romita e o diretor Paulo Ubiratan pediram silêncio. Junto do monitor em que acompanhava a qualidade das imagens gravadas, ele se acotovelava com pelo menos 15 moleques.

Ontem as gravações começaram na Sorveteria Swensen's da Rua Padre João Manuel, nos Jardins. Depois, foi feito um almoço de negócios entre Felipe Mello/Armando Bógus e Ricardo Venturini/José Mayer, tudo com a etiqueta e o tempero do La Tambouille. Já guindado à condição de galã, José Mayer viverá um romance com a garota de programa Ana Maria Batista/Luma de Oliveira. Dele o que os inimigos querem é a revelação de um segredo. O moço resiste a seu affair espião, tirando proveito pessoal do caso. "Conheço pouco do personagem por enquanto. Mas à primeira vista sei que ele não é um cara sério. É alguém de bom humor e, às vezes, arrogante. É bom fazer alguém que não seja nem bom nem mau", diz o ator.

A geometria afetiva de Amor e Ódio reserva ao público um inevitável triângulo amoroso, com Isadora/Sílvia Pfeiffer, o designer André Manfrini/Marcos Paulo, e Valentina Venturini/Yoná Magalhães nas três pontas. Viúva de Cláudio Venturini, o herdeiro do império do desenho, Isadora exigirá da iniciante Pfeiffer uma interpretação trabalhosa. Ela contracena com alguns dos mais experimentados atores da TV, como Lima Duarte, Yoná Magalhães e Marcos Paulo. Entre os pecados da megera milionária, há graves faltas conjugais. Moribundo, seu marido Cláudio vai cochichar em seu ouvido um segredo que moverá boa parte da ação posterior. Certamente, não será nada do gênero "eu te amo''. Paulo Ubiratan ainda não escalou o morto pivô, mas pensa em Herson Capri ou Dênis Carvalho para o papel. Falta escalar também duas atrizes jovens para fechar o elenco.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 13575