PUC-Rio

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 04/12/1990
Autor/Repórter: Jorge Antônio Barros

NOVELA DO SBT ENFRENTA CRISE

SÃO PAULO - O diretor do Núcleo de Teledramaturgia do SBT, Valter Avancini promete oferecer emoções a quem assiste à novela Brasileiras e Brasileiros, que estreou no dia 5 de novembro passado. Depois de afastar o autor Carlos Alberto Soffredini - vítima de um estresse - e assumir o texto da novela, Avancini vai impor novo ritmo à história, além de alguma sensualidade nas relações entre os personagens. Vai apressar também o início da luta livre feminina, previsto para a próxima sexta-feira.

Avancini admitiu que Soffredini "não estava conseguindo desenvolver a contento a novela," depois de "um esforço sobre-humano" que acabou levando-o a um estresse. Soffredini, dramaturgo premiado, 51 anos, reclamou por ter recebido o trabalho em cima da hora - 4 meses antes da estréia - mas reconheceu ter cometido erros, em conseqüência da "paixão e da inexperiência" na televisão. "Dei tudo de mim, mas confesso que nunca tive saco de ver novela; junca tive paciência," afirmou o autor a O DIA.

Vítima de uma estafa, Soffredini - que tem uma das filhas, Renata, na novela, no papel de Isabel - disse que agora pretende cuidar da saúde e considera ter contribuído bastante para a realização da inédita proposta de uma novela que aborda o Brasil dos pobres, a grande maioria da população. Valter Avancini não nega o talento de Soffredini. Por isso, disse que espera tê-lo de volta em outros projetos do núcleo de teledramaturgia do SBT. Soffredini, homem de teatro, também garante que não brigou com a televisão:

Avancini é um grande mestre e aprendi muito com ele - afirma Soffredini, que em São Paulo tem em cartaz a peça Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu. O mesmo gostaria de dizer à televisão.

Com o objetivo de reagir à queda da audiência da novela, Valter Avancini assumiu o desenvolvi mento da narrativa, comandando três roteiristas - Perito Monteiro, Cláudia Tala Verde e Tacus. Os outros três colaboradores de Soffredini foram afastados. Agora, Avancini quer botar uma pitada de sensualidade no cotidiano de Brasileiras e Brasileiros, que tem no elenco belas atrizes como Isadora Ribeiro e Carla Camuratti.

"Sem agredir o telespectador", Avancini quer usar a baiana Teresa de Ogum (Isadora) para apimentar a trama. O empresário de lutas Ângelo (Fúlvio Stefanini) vai se apaixonar pela baiana que vai se envolver com Totó (Edson Celulari). Além de mais tempero nas relações entre os personagens, Avancini quer mais adrenalina, com as lutadoras no ringue da Academia Duras na Queda. As primeiras a se enfrentarem esta semana serão Clarissa, a Mulher Loba (Rosi Campos) e Selma, a Barbarela (Cida Chosta). Avancini não vê a hora de soar o gongo. E salvar o seu projeto.

AUTOR CONSIDERA UMA LINHA DE MONTAGEM - Roteirista do filme premiado Marvada Carne, de André Klotzel, e autor de peças de teatro desde a década de 60, Carlos Alberto Soffredini - que também já escreveu roteiros de pornochanchadas - garante que nunca se propôs a escrever novelas para a televisão. Embora se considere gratificado por ter aceito participar de um projeto inédito como Brasileiras e Brasileiros (argumento de Avancini), o dramaturgo compara a telenovela a um produto de linha de montagem.

- Não conhecia o ritmo da tevê que requer, inclusive, uma readaptação de conceitos de dramaturgia - afirmou Soffredini, acrescentando que, na indústria cultural, a telenovela é um produto sobre o qual o autor pode, muitas vezes, perder o controle da criação intelectual. Segundo Soffredini, o trabalho é submetido a várias interferências, até chegar ao telespectador. Mas ele não se arrependeu de ter ido ao ventre do grande peixe.

Walter Avancini - que acumula uma experiência de 47 anos de rádio e televisão - não nega que a telenovela seja, acima de tudo "um trabalho de carpintaria", no qual é preciso também ter preparo físico, além de dominar uma didática própria. "Fazer novela dá mais trabalho do que três longas-metragens por semana", diz Avancini, confirmando o que um grupo de alemães constatou há cerca de cinco anos, em visita à Rede Globo: "Como é impossível organizar a novela, só é possível fazê-la no Brasil."

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 14091