PUC-Rio

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 28/12/1990
Autor/Repórter: Apoenan Rodrigues

CRISE AFETA SBT DE AVANCINI

Baixa audiência muda horários de seriado e novela da emissora

SÃO PAULO - As tentativas de renovação no departamento de teledramaturgia do SBT sucumbiram à crise econômica, antes mesmo de desafiarem o público a entender os lampejos estéticos imaginados pelo diretor executivo Walter Avancini. Com a timidez do mercado publicitário em não querer arriscar a veiculação de anúncios nos programas de audiência incerta, a partir do dia 7 de janeiro a novela Brasileiras e brasileiros e o seriado Alô doçura serão deslocados de horário num último suspiro para conquistar o público. A novela abandona a faixa das 18h e passa a ser exibida às 20h enquanto o seriado, que ocupa o horário das 19h, será relançado às 17h30 com a reprise dos 53 programas gravados desde novembro passado.

"Eu atribuo as mudanças à crise na televisão brasileira, não ao departamento de teledramaturgia do SBT", diz Avancini. "Dois meses são muito pouco tempo para se avaliar novos projetos." Para o diretor, o baixo rendimento das 18h já vinha sendo estudado mesmo antes do lançamento da novela, que vem obtendo a média de 8 pontos no Ibope. "Passamos para as 20h por uma estratégia de sobrevivência", afirma Avancini. "Valem mais cinco pontos às 20h do que 15 às 18h". Mais que uma nova tática, no entanto, as conturbações internas do SBT com relação ao andamento de Brasileiras e brasileiros começaram pelo afastamento do autor Carlos Alberto Soffredini que, segundo Avancini, não se sentia suficientemente íntimo da carpintaria de novela. Um outro motivo seria o desinteresse do público pela sucessão de desgraças, supostamente descritas e inspiradas na estética neo-realista do cinema italiano.

Com a saída do autor, o próprio Avancini assumiu a história ao lado, de Cláudia Della Verde, Perito Monteiro e Tacus, três novos roteiristas que já colaboravam com Soffredini. Ao contrário do que foi noticiado, a novela não mais termina em março e sim no final de abril, conforme o cronograma inicial. Para substituir o horário vago das 18h a emissora programou, nos meses de janeiro e fevereiro, a reprise resumida de Gerônimo, o justiceiro do sertão, de Moisés Weltman, antigo sucesso do rádio adaptado para a televisão há cerca de 12 anos. A partir de março Avancini concentra novas forças em minisséries de baixo custo, que inicialmente vão abordar temas religiosos ao longo de 30 ou 40 capítulos. "É uma visão histórica documental", define o diretor.

O desinteresse do público por Brasileiras e brasileiros, defende Avancini, foi devido ao acomodamento das pessoas diante da "estética burguesa". Mas não deixa de fazer uma autocrítica. "Houve uma falta de talento da nossa parte em tornar aquele universo mais atraente, mais emocional". E emenda: "O Chacrinha demorou pelo menos 18 anos para deixar de ser execrado, aos olhos de muitos, até ser reverendado como o pai do tropicalismo".

Apesar do universo nebuloso, Avancini continua na firme posição de fazer novelas que discutam o ser social, sem o chamado mundo maniqueísta de ricos e pobres. Quanto a Alô doçura, o diretor ainda pretende insistir no mesmo formato: "Nós precisamos atualizar o gênero e diversificar, o público quer outras coisas além de novela". A direção do SBT, ele garante, continuará dando espaço para suas investidas. Afinal, mesmo errando um mito é sempre um mito.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 14243