PUC-Rio

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 18/05/1991
Autor/Repórter: Maria Helena Dutra

O SUCESSO DA GLOBO E O FRACASSO DO SBT EM MAIS UM CAPÍTULOS DA HISTÓRIA DAS NOVELAS

Fim destes papos. Nesta semana estão acabando duas novelas. Uma de sucesso, mesmo sendo um trabalho menor da Rede Globo, do autor Cassiano Gabus Mendes e de seus demais responsáveis. Mesmo assim Meu Bem, Meu Mal teve certa repercussão. Talvez por estar num horário maltratado, mas ainda mágico, e pela comparação com suas similares em cartaz. Mesmo medíocre, era melhor e as outras. A outra, Brasileiras e Brasileiros, um total fracasso. Outro do SBT, que parece se especializando em fazer vexame no ramo.

A falta de audiência deste título mais a queda de 17% no faturamento desta emissora, causada pela crise do país e pela falta de interesse do público por sua programação pouco inspirada, fizeram encerrar precipitadamente, como também sempre acontece por lá, mais este projeto para o campo de ficção do canal 11. Um sonho de Walter Avancini muito pretensioso pelos seus gastos e ambições sociológicas que jamais combinaram com o perfil da casa e de seu dono. Vamos ver o que essas duas experiências ensinaram para o futuro de endereços e gênero.

Para a Globo, a mediocridade de Meu Bem, Meu Mal só pode ensiná-la a tratar melhor seu horário mais nobre. A partir de segunda-feira ocupado por Gilberto Braga, o herdeiro mais legítimo de Janete Clair, dono de muitos sucessos e poucos fracassos no ramo e no momento de maior audiência casa. É dele também a última coisa relevante que foi feita por lá às oito e meia da noite. O sempre lembrado e valente Vale Tudo. Um melodrama muito bem urdido, realizado com apuro e com inesquecíveis interpretações. Esperamos que todos os méritos desses itens se repitam em O Dono do Mundo, fazendo-nos esquecer as frustrações do recém-finalizado trabalho de Cassiano Gabus Mendes e associados.

Ele deve ter suas razões para ter assinado um tipo de obra como essa. Afinal, é a mais experiente pessoa em televisão ainda em atividade. Foi diretor do primeiro programa do veículo no Brasil e nele já fez de tudo. No campo específico de novelas, tem no currículo, além de muitos títulos com qualidades e repercussões díspares, ter inspirado a feitura de Beto Rockfeller para acabar com o dramalhão e escrito uma das mais perfeitas sátiras políticas do estilo, a marcante Que Rei Sou Eu?

Sabe, portanto, das coisas. Se escolheu um dramalhão descabelado para servir à platéia de agora, é porque teve suas razões. Legítimas, já que obteve sucesso. E também é inegável que todo mundo queria saber como ele e seus escritores auxiliares iam desenrolar e dar fim as suas tramas. Um grande ponto a favor. Mas numa avaliação fria, caso isso seja possível em novelas, dá para perceber que Meu Bem, Meu Mal era horripilante. Com sua multidão de maus-caracteres inúteis e mutilados, sentimentalmente e no campo profissional. Entre esses, um personagem, a Valentina de Yoná Magalhães, que já entrou na categoria dos mais folclóricos do ramo, já que morria de paixão pelo sobrinho, sócio e irmão da secretária e acabava se vingando deles em cima de pobres inocentes. Matou uma e transformou a vida do irmão num inferno por puro capricho. Muito esquisita. A pior de um elenco de doidos sob direção burocrática e interpretações rasteiras. Maior e marcante mesmo só o merchandising que dominou todos os seus capítulos. Sem uma folga e respiro. Descanse em paz.

Mas na Globo, a gente sabe, pouca coisa ou nada vai mudar. Incerto mesmo é o futuro da ficção no SBT. Só que ela é imprescindível à vida de qualquer emissora de televisão. Tomara que Sílvio Santos saiba disso e dê outra chance ao Walter Avancini e muitos outros artistas que precisam de trabalho. Que, se esforcem em paz.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 15353