PUC-Rio

Jornal/Revista: Folha de S. Paulo
Data de Publicação: 16/06/1991
Autor/Repórter: Sônia Apolinário

ROBERTO MARINHO DEU GLOBOSAT PARA BONI E SEU AMIGO AMERICANO

. Emissora não foi regulamentada

. Sistema é mais caro que o UHF

O presidente das Organizações Globo, jornalista e empresário Roberto Marinho, 86, disse à Folha que a GloboSat, nova emissora de TV por assinatura que está sendo anunciada pela Globo, é um "presente" dele para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Joe Wallach. Os três são sócios na nova emissora em partes iguais.

Boni é vice-presidente de operações da Rede Globo, onde trabalha há 24 anos. Wallach, americano naturalizado brasileiro, veio da Time-Life para estruturar a Rede Globo em 1965. Trabalhou na emissora por 15 anos, como superintendente-executivo.

A GloboSat é um serviço de quatro canais de televisão por assinatura, no qual a imagem é captada diretamente do satélite por uma antena parabólica. Apesar de ainda não estar regulamentado pela Secretaria Nacional de Comunicações do Ministério da Infra-Estrutura, começou a ser veiculada semana passada uma campanha publicitária sobre a GloboSat.

A campanha começou no mesmo dia em que entrou em funcionamento em São Paulo a TVA, dos grupos Abril e Machline. "A Globo reagiu ao anúncio do nosso lançamento apenas para atrapalhar-, disse o vice-presidente do grupo Abril para TV e vídeo, Roger Karman.

Na opinião do vice-presidente e diretor de operações da GloboSat, Marcos Kruel, 40, a propaganda não despertou confusão, mas "ansiedade" no público. Segundo ele, a programação da GloboSat será definida esta semana. A única coisa certa é que um dos canais vai exibir filmes 24 horas por dia. Os outros vão ser ocupados com notícias, esporte e eventos especiais, mas ainda não se sabe de que forma.

A GloboSat não tem nada a ver com os quatro canais de TV por assinatura concedidos à Rede Globo ano passado. O projeto é uma iniciativa de Boni e Wallach. Os dois executivos entraram com o know-how. Em 85, Wallach organizou, em San Diego, nos Estados Unidos, a Telemundo, uma rede de TV em língua espanhola, com emissoras em Miami, Nova York, Los Angeles, San Francisco, Chicago, Houston e Porto Rico.

Marinho teria entrado com a verba. O investimento previsto é de US$. 25 milhões. O "presente" a que Marinho se refere pode ter relação com o fato da GloboSat pagar US$ 400 mil, por mês, pelo aluguel dos quatro canais de satélite, antes mesmo de o serviço ser regulamentado. Os canais teriam sido alugados em maio.

de satélite disponíveis no Brasil. Um eventual concorrente só poderia entrar no negócio quando o novo satélite brasileiro for lançado no espaço, daqui a dois anos.

Como o serviço não está regulamentado, não se pode exigir concorrência para se alugar um canal de satélite. Entretanto, a regulamentação é necessária para iniciar a venda de assinaturas.

Se conseguir a regulamentação, a GloboSat será o único serviço de TV por assinatura no país a usar o satélite. As outras TVs utilizam a frequência VHF ou UHF. "Esse é o modo que deu certo no mundo todo e sai mais barato para o consumidor", disse Paulo Areas, 31, diretor financeiro da RPC-TV, emissora em UHF que entra no ar no Rio até o final do ano.

Há uma estimativa de que a GloboSat custe, para o consumidor, cinco vezes mais cara que as outras. Pelo tipo do satélite brasileiro, a GloboSat só poderá ser captada por uma antena parabólica de sete metros de diâmetro.

Por causa do tamanho da antena, ela terá que ser instalada no alto dos edifícios. Será preciso, para isso, que todos os moradores concordem. "A GloboSat vai ser para uma parte seleta da população", disse Marcos Kruel.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 15668