PUC-Rio

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 24/01/2010
Autor/Repórter: Joana Dale

SOLTANDO OS BICHOS

O rosto é angelical e o jeito é doce, mas Paola Oliveira dá conta do recado como a malvada e estilosa Verônica na trama das seis

“Já estou ficando com ruga na testa de tanto fazer cara de má... Mas só sei tirar foto rindo”, confessa Paola Oliveira, enquanto se encolhe na poltrona para não mostrar a economia de pano do vestido, durante o ensaio fotográfico para a Revista da TV. A atriz, de 27 anos, exagera sobre as consequências de sua primeira vilã, a dissimulada Verônica de “Cama de gato”. Depois de encarar duas mocinhas de época seguidas, em “O profeta” e em “Ciranda de Pedra”, Paola agora vive uma experiência completamente diferente — dentro e fora dos estúdios.

— Quando você faz a mocinha as pessoas são fofas. Sendo vilã você só tem o retorno do público se sentir que está sendo odiada. E eu nunca fui tão feliz por ser odiada desse jeito! O bom da Verônica é que dá para botar todos os bichos para fora — analisa Paola, que chegou uma hora e meia atrasada à entrevista com dupla justificativa: no dia anterior, a gravação entrou madrugada adentro e, mais importante ainda, não dava para acordar e ir de rosto lavado ao encontro da equipe de reportagem. — É muito difícil ficar bonita de manhã cedo.

Paola foi um dos primeiros nomes escolhidos por Duca Rachid e Thelma Guedes, autoras de “Cama de gato”, para integrar o elenco da novela das 18h. Responsável pelo remake de “O profeta”, a dupla conheceu a atriz em 2006, quando ela viveu sua primeira protagonista, Sônia.

— Quando terminamos “O profeta”, tivemos a ideia de oferecer esse desafio para ela. Quando a gente propôs, ela topou na hora! — lembra Duca.

Na trama, Verônica é a ex-mulher do perfumista Gustavo (Marcos Palmeira). Desde a estreia da novela, em outubro, a mimada e ardilosa vilã já fez o que pôde: encomendou a morte do então marido; casou-se por interesse com Alcino (Carmo Dalla Vecchia), o melhor amigo do ex; chantageou o próprio pai, Severo (Paulo Goulart); e atualmente anda jogando o seu nada suave veneno para conseguir separar Gustavo e Rose (Camila Pitanga).

— Ela tem um poder de sedução grande e sabe usar sua carinha de anjo para enganar. Na verdade, a Verônica é movida pela mágoa que guarda do pai. Severo sempre foi um péssimo marido e pai. Ficou rico depois do casamento, ao herdar a fortuna da mulher, que ele mesmo tratou de esbanjar em noitadas e maus negócios — explica Duca.

A autora ressalta que, em cena, Paola usa a doçura das mocinhas que interpretou nas novelas anteriores a seu favor. Um quê de Sônia e outro da jogadora de tênis Letícia, de “Ciranda de Pedra”, podem ser lembrados, principalmente, nas cenas em que Verônica está ao lado de Gustavo. Duas caras é pouco para a malvada.

— A impressão que dá é que ser vilã é mais dinâmico. Você não corre o risco de ficar chata, bem diferente de quando é mocinha e precisa lutar para fazer o cotidiano com graça. A Verônica trata o Gustavo de um jeito, o Alcino de outro, o pai de uma forma completamente diferente. Ela é uma pessoa totalmente articulada. Interpretá-la é um exercício diário — diz.

A atriz bebeu em diversas fontes de inspiração para criar a personagem. Além de estudar as famosas vilãs da teledramaturgia brasileira, Paola viu e reviu o filme “A mão que balança o berço”, de Curtis Hanson. A fama de estudiosa, por sinal, corre solta nos bastidores das gravações.

— A Paola é uma pessoa que dorme relativamente pouco e estuda muito. E está sempre com disposição. A gente que é de outra geração fica fascinado com o poder dela de trabalhar. E a menina ainda vai sair na escola de samba — diverte-se o ator Paulo Goulart, pai de Paola no folhetim.

Goulart está se referindo ao fato de a atriz ser, pelo segundo carnaval, a Rainha de Bateria da Grande Rio. Há dez anos, diga-se de passagem, era bem improvável que a então estudante paulista viesse a vestir a glamourosa coroa da agremiação de Caxias.

— Morava perto da Vila Matilde e meu pai me proibia de ir aos ensaios da Nenê de Vila Matilde. Nunca consegui passar nem perto do portão da quadra da escola. Para mim carnaval era um sonho distante — recorda.

Única filha mulher da ex-auxiliar de enfermagem Daniele Helena e do policial militar aposentado José Everardo — todo mundo na família tem nome composto: ela é Caroline Paola e os irmãos, Leonardo Vinícius e Juliano César — a atriz sempre foi tratada com a (super)proteção do pai. Aos 17 anos, quando começou a fazer comerciais para bancar a faculdade de Fisioterapia, ela penou para explicar a ele como funcionava o mercado publicitário:

— Meu pai tinha ciúmes. E cuidado. Não sabia se esse mundo era direito até que começou a ver meus trabalhos na revista e entendeu que existia uma profissão ali. Esse temperamento sempre foi motivo de brincadeira entre os amigos dele. Uma vez meu padrinho deu o maior susto perguntando: “Viu sua filha na ‘Playboy’?”. Ele quase teve um ataque do coração! Na verdade, eu estava em um anúncio na contracapa da revista.

Desde a estreia de Paola na TV, em “Belíssima” (2005), novela de Sílvio de Abreu, José Everardo deu uma relaxada. Mas nem tanto. Em 2008, quando a atriz estrelou o filme “Entre lençóis”, do diretor colombiano Gustavo Nieto Roa, em que protagoniza cenas de nudez e sexo em um quarto de motel com Reynaldo Gianecchini, o pai da moça preferiu não ver o trabalho da filha.

— Ele me perguntou sobre o que era o filme. Expliquei que era dentro de um quarto, ousado, assim, assado... Eu, então, pedi para o meu pai ficar tranquilo com as minhas escolhas — conta Paola, fazendo pausa para reflexão. — Acho que a gente tem que se arriscar em algum momento... Os grandes atores, inclusive os do teatro, se arriscaram em algum momento da carreira. Foi o meu primeiro filme, achei que seria uma boa oportunidade, mas confesso que não é fácil. Posso ir agora para outros caminhos. Hoje prefiro lidar com papéis como o da professora maluquinha.

Baseado no livro homônimo de Ziraldo, “Uma professora muito maluquinha” é um infanto-juvenil estrelado por Paola que tem estreia prevista para o segundo semestre deste ano. Foi durante a gravação do longa, aliás, que a atriz conheceu o atual namorado, o ator Joaquim Lopes. Desde setembro, o casal desfila de mãos dadas pela cidade. Nesses passeios, até Joaquim nota a reação do público sobre a vilã.

— Os comentários são sempre positivos ou em tom de brincadeira, do tipo: “Dá um jeito nessa Verônica. Ela está muito má...” — revela Joaquim.

DESFILE DE PRETINHOS NADA BÁSICOS - Cobiçado pelas telespectadoras, figurino da vilã de ‘Cama de gato’ inclui vestidos de grife e peças inspiradas na ‘art déco’

Desde a estreia de “Cama de gato”, em outubro, Verônica só aparece em grande estilo nas cenas da novela de Duca Rachid e Thelma Guedes. A vilã destila veneno por todos os núcleos da trama das 18h e, de quebra, ostenta um estilo elegantérrimo.

— Ela é uma vilã completamente situada na questão da moda. É simplesmente chique. Tem simplicidade nas formas, mas é chique no conteúdo — define a figurinista Labibe Simão.

As linhas retas e as formas geométricas do estilo art déco foram referências usadas pela figurinista para a composição do guarda-roupa de Verônica.

— Comprei fivelas em antiquários para usar como cinto. E o relógio dela, dourado quadradinho, também é totalmente déco. O acessório foi achado em um brechó e só deu para aproveitar a caixinha. Tivemos que fazer pulseira nova, tipo bracelete — detalha Labibe sobre um dos objetos mais cobiçados pelo público, segundo os números da Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) da TV Globo.

Labibe também partiu rumo ao shopping para pinçar peças de grife para os trajes da vilã. Tons pastéis não tiveram vez na paleta de cores da personagem. Verônica só usa cores fortes e marcantes — (muito) preto, vermelho, vinho, cinza — ou não cores — o nude e o branco. Um dos pontos fortes do closet da executiva da Aromas, empresa de perfumes da qual é vice-presidente, é a coleção de vestidos pretos, longos, médios e curtos. As peças vestidas por ela deixam de ser básicas por detalhes em decotes e mangas estruturadas.

— É uma personagem má que faz papel de boa, por isso não quis vesti-la com roupas românticas. Preferi deixar uma postura executiva. Seca, rígida.

SOFISTICAÇÃO DO ESMALTE AO SALTO ALTO

. BOCA: Batom salmão Yves Saint Laurent. A quem interessar possa, anote o número: 147. E mais lápis da Mac. O nome da cor? Cedar.

. UNHAS: Esmalte laranja, da Colorama. Nome de batismo: Canela.

. ARMÁRIO: Um dos figurinos mais cotados foi o vestido preto com mangas de babadinhos. A peça foi comprada na Laranja Lima. Outra roupa cobiçada pelo público são as pantalonas brancas, escolhidas nas araras da Mixed.

. SALTO ALTO: Verônica nunca desce do salto. A equipe responsável pelo figurino da novela comprou pares em grifes internacionais como Christian Louboutin e Prada, e garimpou outros em brechós.

. ACESSÓRIOS: O relógio dourado quadradinho, assimétrico, foi encontrado pela figurinista Labibe Simão em um brechó carioca. Já o bracelete de ouro que o acompanha foi feito sob encomenda.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 162132