PUC-Rio

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 08/04/2014
Autor/Repórter: Patrícia Kogut

'SUPERSTAR' ESTREIA ABRINDO OS CAMINHOS DA TV PARTICIPATIVA

A estreia de "Superstar", anteontem na Globo, fez pensar naquela ideia de que as necessidades utilitárias de algo, quando bem atendidas, enfraquecem qualquer crítica à sua estética. Mesmo assim, é preciso dizer: o cenário feérico do programa é de gosto duvidoso. Porém, por outro lado, em sintonia finíssima com as necessidades da interatividade, um valor do reality.

Feita essa ressalva, vamos ao que mais interessa. Num momento em que a TV avança no terreno da participação do público, "Superstar" é um formato que já chega moderno, provocando uma reflexão sobre os rumos dessa mídia. Explicando melhor: o concurso de calouros de alto nível musical é movido exclusivamente pelos votos do júri - Ivete Sangalo, Fábio Jr e Dinho Ouro Preto e, mais importante, de quem está em casa. Esses espectadores, depois de baixarem um aplicativo gratuito, se registram como jurados. Em seguida, aguardam o início da apresentação do candidato e votam. Quem faz o login via redes sociais pode ter a foto exibida na grande tela no palco. Com isso, sua presença é dupla: através do voto e da aparição "concreta" no cenário, estampada na sua foto.

Todo o conceito de "Superstar" é participativo e cada elemento existe em função dos demais. O reality é um cruzamento de vetores de forças iguais. A frase parece uma fórmula de física de uma aula do Ensino Médio, mas é isso aí.

Houve problemas técnicos e eles foram assunto no Twitter.

Nada que tenha impedido, entretanto, o andamento do programa. A Globo promete melhorias. Vamos ver.

As escolhas musicais foram, de propósito, plurais. Vimos sertanejo universitário, rock, tecnomelody, rap, reggae, entre outros gêneros. Essa diversidade colaborou para a sensação de diálogo em "Superstar": eram ritmos diferentes, mas que, por isso mesmo, complementares. Segura ao vivo, Fernanda Lima foi a boa escolha como apresentadora. Pesou contra ela, no entanto, o uso do teleprompter. "Roda o TP'', dizia, enquanto olhava, o tempo inteiro, para uma direção que não a da câmera. André Marques e Fernanda Paes Leme se saíram bem em outros pontos do cenário, contribuindo para a impressão de que o programa é mais amplo do que o seu palco. Ivete Sangalo foi a jurada que mais se destacou: fez comentários técnicos, mas também falou com o coração, sempre firme, cheia de conhecimento de causa. Uma participação que trouxe credibilidade à estreia.

A força de uma torcida não é novidade. Festivais da canção bem antigos e tradicionais são inflados por elas. Em Viña del Mar, no Chile, existe a El Monstruo. É um público tão atuante e agressivo que, com gritos, vaias ou palmas, consegue aumentar ou abreviar o tempo de palco de quem se apresenta. A novidade é o aparelhamento dessa plateia e a possibilidade de ela interferir, mesmo à distância, de casa. Por todo esse caráter moderno, a piada sobre "o troço subiu", já surrada de nascença, não merece mais uma repetição nas novas edições. Afinal, em "Superstar", tudo foi novidade.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 201269