PUC-Rio

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 08/07/1995
Autor/Repórter: Marili Ribeiro

AULA DE HISTÓRIA

A atriz Lucélia Santos volta a lutar por liberdade na novela 'Sangue do meu sangue', que estréia terça-feira no SBT

Um dos maiores sucessos da TV brasileira tinha Lucélia Santos no papel de uma heroína do Brasil Imperial que se debulhava em lágrimas enquanto lutava por uma causa nobre, enfrentando a oposição de um personagem reacionário, interpretado por Rubens de Falco. A dobradinha, que tornou a novela Escrava Isaura (Globo, 1976) sucesso internacional, está de volta na regravação de Sangue do meu sangue, história de Vicente Sesso adaptada por Paulo Figueiredo e Rita Buzzar, que estréia no SBT nesta terça-feira, às 19h45. Desta vez, Lucélia é Júlia, abolicionista do Segundo Império que tem como antagonista o próprio pai, Mário, banqueiro escravocrata vivido por Rubens.

Afastada há sete anos das novelas, a atriz retoma aos sets de gravação na versão da história exibida pela primeira vez em 1969, na TV Excelsior. "Tive que adiar vários projetos como produtora, mas é saudável a proposta do SBT de criar um núcleo de dramaturgia em São Paulo", justifica ela. A trama - nova aposta do SBT no filão das produções de época - também marca a volta à teledramaturgia longa de Rubens de Falco. "Meu afastamento foi resultado da falta de papéis dignos do talento de atores maduros", justifica o ator.

O bom resultado de Éramos seis (1994) e o razoável desempenho de As pupilas do senhor reitor (1995) deram ao diretor do Núcleo de Teledramaturgia da emissora, Nilton Travesso, aval para investir ainda mais na nova versão de Sangue do meu sangue. A infra-estrutura se sofisticou, garantindo até um trabalho de preparação psicológica para os atores realizado por Mona Lazar. Cada capítulo custa em média R$ 39 mil e só na cidade cenográfica foram gastos R$ 600 mil. O diretor também foi buscar talentos conhecidos. A estratégia inverte a tendência da maioria das emissoras de aproveitar caras novas e traz de volta os rostos consagrados. A versão 1995 de Sangue conta ainda com o apoio da historiadora Ana Luiza Martins.

A novela se passa em duas épocas. No primeiro bloco, com 20 capítulos, são explicadas as origens dos dramas, por volta de 1872. Pula-se então para 1883, quando são desenvolvidos os demais 160 capítulos. Vários focos de tensão conduzem a trama. O grande vilão é Clóvis Camargo (Osmar Prado), que atormenta a vida da mulher Júlia. O ator, aliás, não esconde a empolgação. "Venho estudando criteriosamente cada fala, porque o Clóvis tem muita habilidade com as palavras. Não tem escrúpulos para chegar onde pretende", revela Osmar.

Uma misteriosa escrava, Zulmira (Angelina Muniz), está no centro da trama como a verdadeira mãe da criança candidata a herdeira do banco de Mário. O principal conflito romântico acontece a partir dos desencontros da elegante Pola Renon (Bia Seidl) e Carlos (Jayme Periard). Ele, um contador do banco casado com Helena (Lucinha Lins), é dado como morto num incêndio. Ao descobrir que a família vive melhor com seu desaparecimento, desiste de voltar à vida e adere a um grupo de saltimbancos."Terei de sobreviver ,como um mambembe, o que será instigante", diz Jayme.

Irene Ravache faz aparição-relâmpago na novela, vivendo a princesa Isabel. "Veio a calhar", garante. "Quero cuidar do meu netinho, Carlos Eduardo. Nos últimos anos, enfrentei uma maratona de trabalhos se sobrepondo." O elenco traz ainda Vera Zimmermann, Bete Coelho, Guilherme Leme, Denise Fraga, Tarcísio Filho, Cacá Rosset e Othon Bastos. Por sua semelhança com Dom Pedro II, o empresário Sylvio Band será o imperador.

O RIO RECRIADO - Cidade cenográfica do SBT reproduz a capital do Império

Autor/Repórter: Rose Esquenazi

A Rua do Ouvidor, a Praça 15 e o Arco do Telles ficam agora em São Paulo. É tudo de mentirinha, mas a cidade cenográfica de Sangue do meu sangue, no Anhangüera, município de Osasco, tenta recriar com fidelidade o espírito do Rio do século 19. Um dos méritos é do cenógrafo João Nascimento Filho, responsável pela obra, que reproduziu os prédios públicos, a igreja, o jornal, a confeitaria, o café-concerto, o hotel, a prisão e as residências. João é filho de um demolidor carioca e vivia passeando com o pai pelo casario antigo. Agora, em vez de derrubar, ele constrói.

Como esta é a terceira novela de época do SBT, já existem em São Paulo várias empreiteiras especializadas em carpintaria, pintura, montagem e escultura para recriar .um mundo que não existe mais "No Rio era tudo importado. Dos .materiais de construção aos móveis e objetos de decoração", revela João. Do orçamento total de uma novela do SBT, 50% vão para a cenografia. É um investimento alto, mas sempre menor que os sonhos de um cenógrafo.

A equipe descobriu artesãos que reproduzem todos os tipos de móveis antigos e também uma serralheria que imita gradis de outros séculos. Artistas plásticos recriaram as pinturas da época, o lay-out do jornal Gazeta da Tarde, os avisos dos muros, detalhes que se misturam a peças autênticas. No Banco do Brasil, carimbos, tinteiros e cofres revelam como a agência devia ter poucos clientes.

A casa de Pola (Bia Seidl) mereceu tratamento especial, com jardim de inverno e uma grande fachada. A Confeitaria Castellões parece ser o lugar ideal para tomar um refresco naquelas tardes do Rio. O café-concerto também é um cenário interessante, principalmente quando se percebe que certos efeitos, como o piso pintado em silk screen, fica idêntico ao original de ladrilhos hidráulicos. As carruagens deram mais trabalho e tiveram que ser feitas a partir de estruturas semelhantes. Afinal, Petrópolis fica longe de São Paulo. Mas não é o rigor absoluto que vale, e sim a atmosfera de um quadro de Debret ou um passeio inspirado em livros do escritor Joaquim Manoel de Macedo.

PERSONAGENS

- Júlia (Lucélia Santos): filha de Mário, casada com Clóvis e mãe de Maurício, é a heroína abolicionista.

- O Clóvis (Osmar Prado): casado com Júlia, é gerente do Banco Transcontinental, do qual o sogro é o presidente. Começa a história dando um desfalque.

- Dr. Mário (Rubens de Falco): pai de Júlia e Juca, e presidente do Transcontinental. A filha casa-se sem a sua permissão, a mulher morre de desgosto e o filho, além de ter uma filha com uma concubina, vive bêbado.

- Juca (Guilherme Leme): médico, Filho de Mário, está deixando um sanatório para recuperação de alcoólatras no início da trama.

- Heloisa (Ângela Figueiredo): trabalha num sanatório especializado em alcoolismo. Conhece Juca e se apaixona por ele.

- Princesa Isabel (Irene Ravache): filha do imperador D. Pedro II, abraça a campanha abolicionista e em 1888 assina a Lei Áurea.

- Helena (Lucinha Lins): mulher de Carlos e mãe de Lúcio, Cíntia e Ricardo. Apaixonada pelo marido, sonha com a casa própria e luta pelo bem-estar da família.

- Carlos (Jayme Periard): marido de Helena e contador do banco. Envolvido por Clóvis, é vitima de uma explosão e dado como morto.

- Lúcio (Jiddu Pinheiro/Tarcísio Filho): filho mais velho de Carlos e Helena, arrojado, aventureiro e destemido. Companheiro de José do Patrocínio, integra-se ao movimento abolicionista.

- Pola Renon (Bia Seidl): atriz de renome internacional, viúva do rico joalheiro Maurice Renon.

- Viviane (Vera Zimmerman): sobrinha de Pola, apaixona-se por Lúcio e tenta desmascarar Clóvis.

- Machado (Othon Bastos): tesoureiro do banco e conselheiro do presidente.

- Lourenço (Ewerton de Castro): sucessor de Renon na joalheria. Ama Suzana, mas não se declara.

- Mariana (Yara Lins): viúva e mãe de Carlos.

- Zulmira (Angelina Muniz): escrava e mãe de Maurício, foi violentada por Clóvis. Para ser libertada, dá a Júlia o filho recém-nascido.

- Ricardo (Wagner Santiosteban/Rubins Caribé): filho de Carlos. Apaixona-se por Fabrício, que na verdade é Cecília.

- Fabrício/Cecília (Bete Coelho): abolicionista, se veste de homem para freqüentar o mundo masculino. O Maurício (Douglas Aguillar/Delano Avelar): filho adotado de Clóvis e Júlia, apaixonado por Cíntia.

- Cíntia (Carmem Caroline/Flávia Monteiro): filha caçula de Carlos e Helena. Se apaixona por Maurício, que reencontra anos depois.

- Salomé (Jussara Freire): se faz passar por meretriz e depois se transforma em Clementina, empregada de Helena.

- Raposo (Cacá Rosset): ator famoso, perdeu a mulher e a filha enquanto lutava no Paraguai.

- Natália (Denise Fraga): florista cega, mora no Beco dos Mendigos e se apaixona por Machado.

- Solange (Suzy Rego): amante de Clóvis.

- Major Paranhos (Paulo Figueiredo): soldado na Guerra do Paraguai e responsável pela prisão de Clóvis.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 28789