PUC-Rio

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 12/04/1996
Autor/Repórter: Marili Ribeiro

SÔNIA BRAGA DIZ QUE FOI VÍTIMA DE 'TRUQUES BAIXOS'

Atriz acusa produtor e alega que não teve o espaço desejado na trama da novela

SÃO PAULO - Enfiada num impecável terninho preto sob sapatos altíssimos e poucos e elegantes acessórios, uma Sônia Braga com pinta de executiva, confusa e cheia de histórias desencontradas, tentou ontem justificar o que não houve: a sua tão esperada - e festejada - volta às novelas brasileiras através do SBT. A principal explicação da atriz para os desencontros que acabaram por afastá-la das gravações da produção argentino-brasileira Antônio Alves, a taxista residem na baixa qualidade do roteiro. Fato que ela diz ter procurado contornar em várias conversas. Mas não foi só isso. Ela acusa Ornar Romay, dono da Ronda Estúdios, a parte portenha do negócio, de persegui-la. Algo que qualifica como "truques baixíssimos" que acabaram por provocar-lhe um estresse emocional que a levou a uma licença médica. Essa sim teria sido a real causa de seu afastamento. Sônia garante que não abandonou a novela e credita parte do noticiário sobre sua saída a uma campanha de Romay para embaraçá-la.

O próximo passo do que a própria Sônia define como uma "legítima novela mexicana" está nas mãos de seus advogados, que aguardam um contato com Sílvio Santos, responsável pessoalmente por sua contratação. "Até o momento não fomos notificados sequer de qualquer rescisão de contrato. Achamos que o SBT poderia vir aqui hoje para nos avisar'', disse a atriz, ladeada. por um de seus advogados, Marcelo Saraiva. Munida de documentação que diz provar sua freqüência aos sets de gravação, Sônia se queixou muito do tratamento que recebeu, especialmente depois que começou a criticar a qualidade da produção, com um texto confuso. Para ilustrar as críticas, na entrevista de ontem ela citou falas de sua personagem Odile, que na trama é a madrasta má de uma das namoradas do personagem de Fábio Jr., o galã taxista. As queixas quanto à qualidade do roteiro encontram, segundo conta, apoio entre outros brasileiros que participam da trama, como é o caso do próprio Fábio Jr.. Mas o que parece tê-la incomodado foi perceber que sua personagem era secundária. "Não havia espaço para mim na novela", assume.

Odile não tinha o glamour esperado para quem ficou 14 anos afastada da telinha brasileira. "Vou revelar um segredo que foi o Daniel Filho que me ensinou. E preciso marcar a personagem com uma grande entrada, uma espécie de apresentação. A minha primeira cena é sentada num aeroporto discutindo o problema de outra personagem. Não pode ser assim", reclamou. Sônia alega que seu contrato previa um trio de retaguarda composto por maquiador, figurinista e cabelereiro. Ao chegar em Buenos Aires, onde a novela é gravada, não encontrou o que imaginava, exceto a figurinista que tinha a qualidade pretendida por ela.

A partir do momento em que sentiu que suas reclamações não estavam encontrando eco pediu a realização de uma reunião, mas não foi atendida. Ao contrário, recebeu de seu agente americano um fax em que, entre outras coisas, dizia que ''você tem se comportado de maneira que pode ser interpretada como hostil no país que a está recebendo". Nesse ponto, andar descalça pelo hotel, como efetivamente aconteceu, e sair varrendo as ruas de Buenos Aires, podem ser atos apontados como problemas que estariam na raiz da antipatia em relação à atriz. Ela mesmo cogita da possibilidade de ter criado uma imagem negativa, embora não aceite a acusação. Numa associação um tanto quanto embaralhada diz que não faz sentido um empresário argentino "massacrar uma atriz brasileira", enquanto os presidentes dos dois países se sentam na mesa para negociar intercâmbios culturais, como aconteceu na recente viagem de Fernando Henrique Cardoso à Argentina.

Questionada sê o nível de exigências que fez em relação à produção argentina é similar ao que faz nos EUA, Sônia garantiu que sim. A atriz também fez comparações na área do cinema. Para ela, em termos de qualidade artística o filme americano A última prostituta, uma produção de gosto duvidoso, se equipara aos filmes brasileiros que estrelou, entre eles Dona Flor e Eu te amo. Sobre a falta de glamour, o que naturalmente se espera de estrelas como ela, Sônia tem opiniões dispares. Ao mesmo tempo em que acha que "para quem veio de Maringá eu estava maravilhosa descendo de uma limusine com batedores durante o Festival de Cannes ao lado de Robert Redfort para promover o filme Milagro", assume que "nem sempre tive um Ocimar Versolato me vestindo".

FRASES

- "Eu estava super feliz depois de fazer o filme Tieta. Estava imbuída desse espírito nacional de levantar o cinema, de carregar a bandeira do país para onde precisar, de trazer o público para o cinema. Foi nesse clima que o Sílvio Santos me ligou e me convidou para fazer a novela''.

- "Em toda a minha vida, em todos os trabalhos que eu fiz, por que será que eu dei certo? Porque eu sempre exigi. Bati o pé."

- "Tenho uma intuição que me levou a 30 anos de carreira..."

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 31897