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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 24/12/1997 Autor/Repórter: Telmo Martino
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ABAFADOS NA SAUNA DA MÃE JOANA
Mesmo que já não ocupe mais o terceiro lugar, J. Silvestre mantém a tranqüilidade ao perguntar sobre dinossauros a um menino, em seu "O sonho é o limite". Já o Ratinho nada tem de tranqüilo. Está uma pilha em seu delírio de que pode derrubar o Faustão no Ibope. Traz até a reprodução de uma primeira página do jornal "Notícias Populares", que deixou o "Domingão" para trás quando levou ao palco um homem grávido.
É esse tipo de arma que o Ratinho escolhe, quando chama alguém para duelo. Pelo jeito, nenhum médico aceitou até agora examinar o grávido. Na platéia, uma mulher bem falante acha um absurdo essa atitude da classe médica. "Pode até ser um tumor o que esse homem tem". Homem grávido de um tumor dá Ibope? Não se sabe, mas mantém vivo o assunto. E por falar em médico, será que é aconselhável para a saúde dos telespectadores ver o "Show do Ratinho"? "Só em casa", dirão os médicos. Porque lá no auditório, o apresentador e a platéia estão totalmente desidratados, suando em bicas, enquanto se abanam com a mão, um pedaço de papel e - que luxo! - uma ventarola. Todo mundo sabe que paulista acha humilhante usar ar-condicionado. Vão ser varridos da face da terra pelo sopro sufocante do El Nino.
O Ratinho chama um intervalo ou um número musical e foge para trocar de camisa azul de colarinho branco. A gravata vermelha continua. Tudo inútil. Em menos de dois segundos, ele está todo molhado outra vez. No último domingo, os jornais anunciaram que o "Show do Ratinho" começaria às 13h. Só que o Faustão começou o dele ao meio-dia e, sempre de camisa seca ficou, até o começo do jogo da seleção do Romário. Sabendo disso, o Ratinho também resolveu madrugar e - ele gosta - competir.
Uma das novidades do Ratinho é ter um júri permanente (alguém morreu de tanto rir dessa novidade). Cada um dos jurados se exibe mais do que o outro, gesticulando e trocando de expressão facial. Mas a gente só presta atenção na Pathy Lane (uma espécie de Elke Maravilha de traje e peruca Chanel) e no Leão Lobo (os cabelos grudados de tanto suor), que conta fuxicos, oh!, tão venenosos do Gugu Liberato. O júri faz mesmo a linha light. "Você veio de Tiririca gay?" pergunta um deles, enquanto o menor e mais esquelético Papai Noel fica ao lado, de plantão.
De repente, o Ratinho faz uma boa ação e localiza para uma neta o avô que desaparecera há muitos anos. Como não há surpresa no reencontro, também não há emoção.
Aparece uma mulher querendo cantar. "Vai treinar primeiro", manda o Ratinho. A mulher treina e reaparece. Canta que é um horror. A Pathy Lane, com esse nome de namorada de Super-Homem, gonga. A Mãe Joana está mesmo em péssima situação financeira. Alugou sua casa para o show do Ratinho. A Pathy Lane gonga e fica acariciando o bastão. Sempre de olho nos porretes, Leão Lobo comenta: "Essa mulher gostou do porrete. Não larga mais". Os jurados se odeiam, como sempre. Só que os do Ratinho não disfarçam.
Vira e mexe, o Ratinho sorteia um carro. É Gol que não acaba mais e um BMW branco. "É branco porque eu acho mais bonito", diz o Ratinho, é claro. De repente, um comercial evangélico, garantindo que gente que se converte vence na vida. "Se não parar o calor, jogo a roupa fora", desabafa o abafado Ratinho. Entra um mágico japonês de 11 anos de idade. Traz uma casinha pequenina e nela coloca uma menina. Depois de tudo fechado, enfia várias espadas de samurai. Depois tira tudo e a menina aparece de roupa trocada. Assim como o Ratinho, ela sentiu calor no esconderijo.
Uma bandeira bem maior do que a do Gugu é mostrada com vários bagres no lugar do sabonete. O rapaz que pegar o bagre com o selo da Record ganha um carro ou qualquer outro prêmio menos barato. Os rapazes mergulham e Pathy Lane fica toda estridente. "Vocês se lembram do Kid Vinyl?", pergunta o Ratinho sem esperar a resposta. Traz o Kid Vinyl que canta "Tique-tique nervoso" e "Sou boy". Mesmo quem não se lembra se mexe. O Ratinho dança de verdade, com muita coisa na memória.
"Quem quer peru?" Só que o peru está vivo. Ainda bem que tem uma cozinheira na platéia que agarra bicho com jeito, como se fosse depená-lo ali mesmo. Aparece o pessoal da "Boquinha da garrafa", mas importantemente desfalcado. Um rapaz pede para que quebrem telhas nos ombros e na barriga dele. Quebram. Ratinho desfila outra vez com a manchete de que bateu a Globo na audiência com o homem grávido. É o seu troféu favorito.
Um outro rapaz está querendo ser enforcado com hastes de madeira, que parecem cabos de vassoura. Quebra todas com pescoço. Mulher procura filho que o pai levou há 12 anos. Papei Noel desempregado ganha brinquedos para dar para as crianças. Nasce um novo camelô? Nenhum médico quis examinar o homem grávido. Estão insistindo no assunto para bater a Globo. "Enfrento a classe média".
O nível sobe. Entra o Jorge Benjor com a Banda do Zé Pretinho. Esse mundo todos conhecem. Quando ele ataca de "W-Brasil", todo mundo canta e dança. A casa da Mãe Joana virou uma sauna. Vamos embora que os reis do ringue querem brigar. Vamos embora, antes que batam na gente como já fizeram com a Globo. Esse Ratinho bem que podia ir a Londres ver "A ratoeira", da Agatha Christie. Ainda está em cartaz, funcionando como nunca.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 36189