PUC-Rio

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 26/01/1996
Autor/Repórter: João Luiz de Albuquerque

BANDEIRANTES QUER APOSTAR EM NOVELAS, MAS REPRISES SÃO DESCUIDADAS E POBRES

Enquanto não chega a nova temporada na TV. á Band, com o Roberto Talma no timão (ainda que o almirante seja o Rubens Furtado), está dando cartão vermelho para seu tradicional turbilhão de transmissões esportivas. A bola, seja lá qual for seu diâmetro ou formato, mudou-se para a televisão por assinatura, junto com os pit stops e a parafina das pranchas coloridas. Para não chover no molhado, a Bandeirantes anunciou que vai investir em outras praias e a teledramaturgia sai na frente. Resta saber para onde suas câmeras serão apontadas: para o estilo superprodução da Globo, ou, quem sabe, para mares nunca dantes navegados? Copiar novela da Globo nunca deu certo. A própria Bandeirantes, SBT e Manchete já tentaram e quebraram a cara. Junto com seus orçamentos futuros. Como gostam de lembrar os certinhos, Pantanal foi exceção à regra. O x do problema, obrigado Noel Rosa, é que as tentativas anteriores para criar um estilo independente de telenovela deram com os burros na água. Para fugir da via expressa global, os pioneiros das outras redes começaram abrindo um caminho de terra batida. Perfeito. Depois do primeiro momento, deviam ter procurado asfaltar a vicinal, com acostamento, pintura de faixas e bela sinalização vertical. Mas, por falta de manutenção, leia-se criatividade, ficou tudo esburacado. Foi assim que nasceu a novela B. Pensando bem, a novela - B.

Dois exemplos deste desencontro estão indo ao ar, como reprises, nos fins de tarde da Band: O meu pé de laranja lima (18h45) e Cavalo Amarelo (19h45). Ivani Ribeiro, autora da segunda novela, adaptou a primeira obra de José Mauro Vasconcellos. De bom, no Meu pé, quer dizer, o dele, José Mauro, é a liberdade total do elenco para usar os sotaques que aprenderam desde o berço. Fala-se o carioca, o paulistano, o paulista e até a beleza que é o caipira do interior do Brasil. Nada de pasteurização verbal. A abertura, uma graça, é de inocência simpática, assim como a trilha musical, certamente virgem de imposições mercadológicas de gravadora. O botijão de gás, na cozinha com filtro de barro, está ligado ao fogão e não ao departamento de merchandising. Mas, ao preferirem um jeito mais chegado ao neo-realismo italiano do que para o Hollywood-feito-para-a-TV, caíram na armadilha latino-americana do famigerado estilo estética da fome, ainda que light. A pobreza visual está em todas, dos recursos e cenários à iluminação tartamuda. As cenas de ação são de um ridículo de cinema mudo malfeito. Como quando o Ford Bigode atropela o menino Zezé. Alexandre Raimundo, o herói infantil, não tem a menor empatia. Será que, crescido, deu certo como ator? A voz da árvore que dá laranja, emprestada pelo Henrique Lobo, não tem o mais leve resquício de doçura. História infanto juvenil, virou um espetáculo para baixo, com ar de tragédia constante, novela de cenho franzido.

Cavalo amarelo foi pelo mesmo caminho, ainda que apresentando um elenco de gente conhecida, como Dercy Gonçalves, Fúlvio Stefanini e Márcia de Windsor. Todos os homens metidos em figurino de figurante, as mulheres desfilando, nas orelhas, pescoços, punhos e colos, deslumbrante coleção de bijuterias da Slopper. O acidente de carro foi gravado com o mesmo amadorismo do atropelamento já citado. De ótimo, só o Rolando Boldrin, em participação especial. Tomara que a Bandeirantes de hoje encontre um novo estilo de teledramaturgia. Só assim, a turma que adora novela deixaria de ser refém do estilo Globo de produção excessiva.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 56406