PUC-Rio

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 22/09/2001
Autor/Repórter: Leila Reis

'PORTO' É UMA COLAGEM DE VELHAS HISTÓRIAS

A boa audiência da novela das 8 mostra que o telespectador dispensa novidades

Antes de referendar a competência da Globo como fábrica de novelas, o bom desempenho do Porto dos Milagres em seus derradeiros capítulos, com média de 53 pontos no Ibope (cerca de 5 milhões de telespectadores na Grande São Paulo) mostra que a TV é suficientemente esperta para repetir velhas fórmulas e satisfazer ao conservadorismo do público.

É engraçada a campanha eleitoral dos adversários Félix Guerreiro (Antonio Fagundes) e Guma (Marcos Palmeira), nos moldes dos programas obrigatórios da vida real, mas a bem-sucedida Porto dos Milagres não passa de uma colagem de várias tramas anteriores do próprio Aguinaldo Silva.

Assim como em Roque Santeiro, Pedra Sobre Pedra, Riacho Doce, Tieta e A Indomada, a baianidade na trama inspirada (bem livremente) em Jorge Amado é sintetizada pela mistura de sensualidade, misticismo e coronelismo. E ilustrada pelas mesmas personagens pitorescas: políticos corruptos, carolas empedernidas, prostitutas respeitosas e puritanas sempre a ponto de pegar fogo à menor aproximação masculina.

De tão batidos, alguns tipos credenciam-se a escapar os limites das novelas. É o caso da esposa que descobre ter vocação para quenga que, quarta-feira, foi parar na Rede TV!. Luciana Gimenez colocou em cena no seu Superpop, três moças de lingerie fazendo trejeitos constrangedores e pretensamente eróticos. O auditório escolheu a mais parecida com a Socorrinho, personagem de Mônica Carvalho na novela da Globo.

Portanto, Porto dos Milagres é um prato requentado, mas nem por isso enjeitado. Assim como as crianças, que quanto mais vêem um desenho mais querem revê-lo, o telespectador - bem ao contrário do destemido Guma (Marcos Palmeira) - parece sentir-se mais à vontade nadando em águas conhecidas. E como a regra é não arriscar, as redes seguem reeditando o que já foi testado no ibope.

Mesmo assim, não é justo responsabilizar o público pela falta de criatividade no gênero mais bem acabado da TV brasileira. Por mais soberano que seja ao assumir o controle remoto, ele só pode escolher o que está entre as opções do cardápio de cada dia. E faz tempo, bastante mesmo, que a variedade desapareceu do repertório das novelas das 8.

O exagero parece ter sido percebido finalmente pela Globo. Depois da overdose de sol, sal e Odoiá Iemanjá, de Porto, ela prepara a estréia de uma história que trata aborda a clonagem de seres humanos e do modo de vida muçulmano, assunto este contemporâneo em vista dos últimos acontecimentos.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 72522