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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Cartaz Data de Publicação: 21/03/1973 Autor/Repórter: Mariza Cardoso
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NASCIMENTO, VIDA E GLÓRIA DE ODORICO
Dias Gomes deixa de lado os entretantos e passa aos finalmentes de sua novela
Queimado de sol, com um forte sotaque baiano, e criando novas palavras para nosso vocabulário, Odorico Paraguassu é a nova coqueluche dos telespectadores. "O Bem-Amado", apresentado às 22 horas pela TV Globo, tornou-se um campeão de audiência em todo o país. Com a promessa da construção de um cemitério - promessa cumprida -, ele foi eleito prefeito de Sucupira, cidade imaginária que revela aspectos da vida do povo do interior brasileiro.
Dias Gomes ("Assim na Terra Como no Céu", "Verão Vermelho" e "Bandeira 2"), o autor de "O Bem-Amado", conta que o personagem central, Odorico, realmente existe:
- Odorico nasceu de uma história que me foi contada pelo falecido Nestor de Hollanda, em 1960. Ele disse que o cantor Jorge Goulart tinha ido fazer um show numa cidadezinha do interior do Espírito Santo e que soube, através de um dos moradores, que o prefeito havia construído um cemitério, mas não podia inaugurá-lo por falta de "pessoal". Gostei da história e resolvi escrever a peça, "Odorico, o Bem-Amado".
Quase folclore - Dias Gomes nunca soube o verdadeiro nome do prefeito, nem da cidade. Mas já esteve com diversas pessoas que disseram conhecer esse fato.
Isso me faz concluir que esse acontecimento é comum nas cidades do interior, ou que existe uma lenda que corre de boca em boca. Mas há um novo boato: comentaram que alguns políticos que estavam acompanhando a novela passaram a colocar a carapuça uns nos outros. E os nomes mais cogitados para servir de inspiração ao personagem do Paulo Gracindo são os de Tenório Cavalcanti e do falecido Benedito Valladares, ex-governador de Minas Gerais.
Da peça à TV - A carreira de "Odorico, o Bem-Amado" começou em 1960. Dias escreveu a peça pensando no Teatro Brasileiro de Comédia, mas nessa época ele levava outro espetáculo do autor, "O Pagador de Promessas" (que estreou esta semana, com sucesso, em Atenas, Grécia). Mas o novo texto de Dias Gomes foi recusado, pois o diretor do TBC, na época, Flávio Rangel, preferiu encenar "A Revolução dos Beatos".
Mas em 62 a revista "Cláudia" me encomendou um conto para sua edição de natal e mandei "Odorico". Em seguida a peça quase foi filmada. E, finalmente, ela estreou em 1965, em Salvador, indo depois para Pernambuco.
No Rio, foi encenada em 1970 pela companhia de Procópio Ferreira, no Teatro Princesa Isabel, excursionando pelo país logo em seguida, onde teve grande sucesso.
Mas quando fiz sua adaptação para TV introduzi algumas modificações. A novela deve à peça apenas a idéia central e deverá ter, no final, novas formas. Uma novela dura quase nove meses, o que corresponde a mais de 50 peças de teatro. Criei novos personagens, tais como Juarez Leão, Zelão das Asas, Nezinho do Jegue, Seu Libório, Zeca Diabo. No teatro, Odorico era casado. Na TV, ele é viúvo e tem dois filhos. Quando fiz a adaptação usei o nome "O Bem-Amado" porque acreditava na importância da peça. Mas as alterações tinham que ser feitas para atender à TV, com sua linguagem.
Numa "tentativa de recriar a a linguagem", Dias Gomes deu uma lista de palavras para Paulo Gracindo usar como Odorico. Estas são algumas delas: emboramente, ciganagem, cachacista, embonecamento, apenasmente, desmiolamento, reservoso, desesquecido, providenciamentos, considerandos, mau-caratista, agoramente e deslembrado.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 807