PUC-Rio

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 26/03/2003
Autor/Repórter: Amelia Gonzalez

REALISMO FANTÁSTICO NO HORÁRIO DAS 18H: SURPRESA NO AR

O pessoal que já precisa se preocupar com os cabelos brancos há de se lembrar da cena de Dona Redonda, personagem da novela "Saramandaia" (1976), que explodiu em plena praça de tanto comer. O autor Dias Gomes e o diretor Walter Avancini lançaram mão do realismo fantástico em teledrama e fizeram o maior sucesso na época. Na estréia de "Agora é que são elas", nova trama das 18h, Ricardo Linhares, o autor, pensou e Roberto Talma, o diretor, executou uma cena que fez lembrar aquela de Dona Redonda. Desta vez foi uma praça inteira da cidade fictícia de Formigas que explodiu.

Talvez pudesse ter tido um pouco mais de realismo e menos de fantástico. O carro sendo engolido pelo asfalto ficou ótimo, as pedras explodindo também. Os atores é que ficaram meio perdidos na confusão. O ibope ainda não mostrou um resultado contundente: média de 28, pico de 31 pontos na estréia. Se os números também vão explodir, como garante Talma, só o tempo dirá. Mas se o objetivo era surpreender o público do horário, acostumado a tramas melosas, Talma e Linhares conseguiram. Boa surpresa!

Quem duvidava que Miguel Falabella (Juca Tigre) era capaz de fazer drama também ficou de queixo caído. O ator enterrou Caco Antibes, personagem que interpretava em "Sai de baixo", e está ótimo no papel de um sujeito que não é malandro, é perverso; não é engraçado, é irônico; não é um megalomaníaco; realmente tem poder e faz uso dele da pior maneira possível. Já Marisa Orth, a Van Van, no primeiro capítulo só teve chance de mostrar seu lado meio Magda (mulher de Caco Antibes no humorístico). Impagável o discurso sobre sua carreira.

Vera Fischer, a Antônia, bem... é a Vera Fischer de sempre. A câmera abusa dos closes para deleitar o público com a beleza inesgotável da atriz. Já ela abusa um pouco no figurino. Uma mulher rural, calçando botas, não assiste ao parto de uma porca com aquele decotaço. E sabe o que mais? Vera precisa se soltar, acreditar mais em seu trabalho do que na sua beleza. Quem sabe isso acaba com aquele jeito meio robô de se mover no cenário?

O resto do elenco também não fez feio. Que bom que Maurício Mattar (Pedro) parou de falar sussurrando. O porte do ator e sua boa química com as crianças ajudam a costurar bem o personagem criado por Ricardo Linhares. Aliás, o autor já apresentou muito bem todos os perfis, o que é ótimo para o público, que já sabe com quem estará lidando. Um ponto a favor de Linhares, que, com esta novela, faz seu segundo vôo solo (o primeiro foi "Meu bem querer", de 1998). Até onde se viu, Formigas ainda vai ter muito o que explodir.

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 86741