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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 11/06/1989 Autor/Repórter: Paulo Vasconcellos
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O PULO DO GATO
Giuseppe Oristanio despreza o sucesso que agora faz dele um jovem talento com 16 anos de carreira
As fãs acham que ele é um gato com olhos de gato. Giuseppe Oristanio, 30, nem assim cai na rede de ilusões que a televisão costuma tecer com sofismas de enquadramento, iluminação, glamour. Exemplo: não é porque ganhou um dos papéis principais de Kananga do Japão, a novela com que a rede Manchete joga seu trunfo definitivo na tentativa de se consolidar na área da teledramaturgia, depois de viver o convincente mas secundário italianinho Bruno de Vida nova, na Globo, que pensa estar dando também o pulo do gato. "O sucesso não é coisa séria", garante, apesar dos telefonemas ameaçadores que a mulher Silvana tem atendido, da atenção especial com que tem sido tratado ao comprar verdura na feira, dos olhares furtivos que ganha nos restaurantes. "Estou mais acostumado a não fazer sucesso."
Parece mentira, mas não é. Oristanio está nas telas não é de hoje. Kananga é a oitava novela numa carreira que decolou na televisão meio no susto. "Fui conversar com o Walter Avancini por recomendação de uma produtora teatral e ele foi logo me mandando para o camarim vestir uma roupa e entrar em cena", conta. O ano era 1979, a televisão era a Tupi e a novela, Como salvar meu casamento, com Nicete Bruno e Adriano Reys. O susto, de fato, só começaria aí. A novela até conseguiu monopolizar parcela da audiência, mas a esta altura a emissora já andava afundada na crise. A Tupi faliu e Como salvar meu casamento saiu do ar faltando 10 capítulos para acabar. "Nunca fiquei sabendo como seria o final", diz Oristanio.
Foi assim também, meio por acaso, que entrou para o teatro. "Eu nunca quis ser ator, tinha apenas o lado lúdico bem desenvolvido." Era só do que precisava quando, em 1972, aos 14 anos, abandonou o emprego numa fabriqueta de botas e luvas de borracha para viver no palco o Pedrinho de O sítio do pica-pau-amarelo, numa montagem que ficou três anos mambembando pelo interior paulista. Quatro anos de teatro infantil e peças adultas como Simon, sobre a vida de Simon Bolivar, e Artaud, o espírito do teatro, ganhadora em 85 de um Molière, ajudaram a forjar a paixão pelo sacerdócio de representar, apesar de alguma resistência familiar. "As pessoas acham que só é ator quem trabalha na Globo, no mínimo em televisão. Eu prefiro o teatro", diz Oristanio. "Não tenho talento nato nem nunca tive formação ou cultura para ser ator, mas carrego a arte como idealismo."
É com o mesmo espírito que ele trocou o Jardim Botânico pela Praia do Russel. "É preciso diversificar a televisão brasileira", aposta. Em Kananga do Japão, Giuseppe Oristanio será Danilo Viana, um boa-vida e corredor de automóvel louco por curvas: as do Rio de Janeiro do início do século e as de Dora (Cristiane Torloni), filha de milionários falidos que tenta ganhar a vida no Grêmio Recreativo Familiar e Dançante Kananga do Japão, um cabaré que funcionava na Praça 11 na década de 30. Com Alex (Raulo Gazola), o típico carioca da época, eles formam o triângulo amoroso que vai dar sustentação à trama. "Mas novela é sempre uma obra aberta, em que os personagens podem crescer ou desaparecer", esclarece Oristanio. Deve ser esperteza de gato.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9483