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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Última Hora Data de Publicação: 18/08/1989 Autor/Repórter: Linda Monteiro
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NASCE UM GALÃ
Raul Gazolla, o Alex de Kananga do Japão", é jovem, bonito e tem todos os ingredientes para causar muitos suspiros na mulherada
A fim de encontrar um belo rapaz louro e de olhos claros para atuar na peça "Essa valsa é minha", Tônia Carrero está até promovendo testes com jovens atores que se encaixem neste tipo físico. O fato vem confirmar, mais uma vez, a escassez de galãs atualmente. Escassez que fez com que a TV Manchete cortasse um dobrado para achar o intérprete do principal personagem masculino de "Kananga do Japão". O ator teria que ser jovem.
bonito, com boa expressão corporal e todos os ingredientes capazes de causar suspiros na mulherada. Depois de muita procura e de inúmeros nomes cogitados, o de Raul Gazolla foi confirmado. O ator, que até então só tinha feito pequenos papéis na telinha, foi escolhido para encabeçar, juntamente com Christiane Torloni, o elenco do maior investimento da emissora na área de teledramaturgia. "Em momento algum senti medo de aceitar o papel. considero-me um profissional preparado e encaro esse trabalho como uma conseqüência natural dos meus 10 anos de carreira", diz Raul, chamado pela própria diretora Tizuka Yamasaki, para fazer os testes para o personagem Alex Ferreira.
E certamente a confiança do ator veio, em maior parte, de sua grande intimidade com a dança, forma de expressão à qual se dedica, desde quando ainda era apenas modelo fotográfico. Afinal, o cafetão e malandro Alex é o maioral nessa arte que faz a alegria das noites da Sociedade Recreativa Carnavalesca Familiar Dançante Kananga do Japão. "A dança me ajudou muito na composição do personagem. Em especial a capoeira, que pratico há 12 anos. Através dela, conheci muita gente que se aproxima bastante do perfil de malandro do Alex. Esses admiráveis capoeiristas são, geralmente, pessoas para quem o dinheiro é fundamental apenas para comer. O mais importante, para elas, é o prazer de sua arte", avalia Gazolla que, para executar com perfeição os passos de dança da década de 30 (época em que se passa a novela), vem, assim como outros integrantes do elenco, fazendo aulas de dança de salão com a professora Sandra Regina. Um trabalho, cujos resultados (excelentes, por sinal) se expressam em cada capítulo onde a dança se faz presente.
Como na semana passada, por exemplo, quando Alex e sua amada Dora (Christiane Torloni) conquistaram os títulos de rei e rainha da Kananga de 1930. Conquista comemorada com um impecável tango dançado pelos personagens, dignos de aplausos até dos altamente entendidos no assunto.
Mas não é só quando desliza no salão que Raul Gazolla se encaixa perfeitamente na figura de um típico malandro da boêmia carioca de outrora. No olhar, na voz. os trejeitos, na ginga de corpo e no sorriso maroto de conquistador, ele é o próprio. E não se preocupa nem um pouco com as críticas de que esteja sendo caricatual ou algo parecido. ''Acho que encontrei o tom do personagem desde o primeiro capítulo. E claro que, com o passar do tempo, a gente se adapta mais ainda e melhora o nosso desempenho, ainda mais com o perfeito e exaustivo trabalho de apoio que estamos recebendo", analisa o ator, revelando estar completamente envolvido com o personagem e a história. "Me sinto muito feliz em participar dessa novela, que, na minha opinião, é um marco na teledramaturgia brasileira. Acho que Tizuka Yamasaki e sua equipe estão inovando, à medida que acrescentam à linguagem de televisão nuances da de cinema", opina, dizendo-se orgulhoso e entusiasmado em trabalhar pela, primeira vez com a conceituada diretora. "E muito bom encarar meu primeiro trabalho como protagonista na TV, sendo dirigido por ela. O meu entrosamento com o resto do elenco também é maravilhoso. Todos são muito carinhosos e amigos, o que fez disso aqui uma verdadeira festa", conta o ator, entre uma e outra cena nos estúdios da emissora, em Água Grande.
Quando não está escalado para gravar ali, Raul Gazolla pode ser encontrado na cidade cenográfica, em Grumari, onde são feitas cerca de 40% das cenas e "Kananga". "Prefiro trabalhar lá. Estar bem perto do mar já é uma oportunidade de renovar as energias", garante. Afinal, desde que vestiu a pele de Alex Ferreira, o ator não tem encontrado tempo para se dedicar às atividades esportivas, que certamente em muito contribuem para que preserve seu belo físico, aos "30 e poucos anos de idade". Quando muito, ele se permite, de manhã cedinho. ''dar uma pedalada" pelas proximidades de sua casa, na Barra da Tijuca, onde vive sozinho. E lá que, quando não está gravando, mergulha de cabeça nos textos da novela. que grava, em média, durante seis dias na semana. "É mole não. Nunca me envolvi tanto com um trabalho. O tempo que sobra, geralmente só no domingo, é para descansar e namorar um pouco. Também sou filho de Deus", brinca simpaticamente, sem se importar em revelar, com naturalidade, o nome da namorada há dois anos - para quem ainda não sabe, a atriz Lucélia Santos.
Aliás, naturalidade é uma característica visível desse leonino com o ascendente também em Leão. Simples e direto, Raul Gazolla não procura camuflar sua alegria com o primeiro grande papel na TV, não nega a importância do veículo para a divulgação e popularidade de seu trabalho, nem tampouco se incomoda com a possibilidade de ser tachado como um belo galã. "Não me preocupo se isso é rótulo ou não. Se o termo não for usado pejorativamente em relação ao meu trabalho de ator, não estou nem aí. Para mim, o que importa nesse momento é que estou ganhando maior experiência em TV, o que não significa que eu esteja hoje melhor como ator do que há dois anos, por exemplo. Apenas estou me familiarizando mais com o veículo", acredita Gazolla, lembrando, com uma deliciosa gargalhada, que até então vinha sendo, na televisão, um "ator só de participações", tendo atuado em novelas como "Selva de pedra", "Ti ti ti", "Fera radical" e, mais recentemente, "Pacto de sangue", todas da Globo.
Mas foi mesmo nos palcos que ele edificou sua carreira, somando, até hoje, cerca de 10 peças em seu currículo, a maioria musicais onde pôde mostrar sua desenvoltura de dançarino. Destes trabalhos, os mais marcantes foram "Splish splash" (sua última atuação nos palcos) e "Chorus line", sua estréia no Brasil. Antes de começar sua trajetória por aqui, Raul havia participado de algumas peças na Europa, onde trabalhava como modelo. "Naquela época, eu nem pensava em ser ator. Quando pintou a oportunidade de fazer uma peça no Sul da Espanha, topei, mais para fazer mais um trabalho e ver como era. Acabei gostando e então comecei a fazer dança por lá mesmo. Até que vim para o Brasil, fiz o teste para 'Chorus line' e não parei mais. Aliás, quero fazer teatro até morrer", frisa, revelando que, entre os "50 projetos" que tem para depois de março, quando terminam as gravações de "Kananga do japão", está o de montar um texto com a direção de Rubens Côrrea, que considera o melhor ator do País. Fora isso, diz estar aberto a propostas, tanto no cinema (onde até hoje só fez, uma pequena participação em "Romance de empregada") como na TV. Neste último veículo, certamente não lhe faltarão bons convites. Afinal, com sua boa pinta e mais a experiência que deverá adquirir até o final deste trabalho, poderá vir a ser o mais novo galã destas terras.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9978