PUC-Rio
Documento Número: 42723 Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 19/12/1971 Autor/Repórter: [editorial]
QUALIDADE NA TV
Desde que se empossou no cargo, o Ministro Higino Corsetti mostra-se empenhado em melhorar os meios de comunicação. Neste esforço não poderia faltar a colaboração da TV, de todos eles o mais direto e vibrante, o de maior conteúdo e responsabilidade social. O assunto cresce de importância porque estamos às vésperas da televisão a cores.
A estréia está marcada para o dia 31 de março. Em mais uma reunião com os diretores das emissoras, o Ministro das Comunicações salientou a necessidade de uma programação de mais elevado nível. Uma conquista técnica como é a transmissão da imagem colorida não deve coincidir com as improvisações que marcam os programas atuais.
Não foram discutidos os programas a serem apresentados nesta nova etapa da TV brasileira. O Governo, a julgar pelo que foi noticiado da reunião com os representantes das emissoras, pretende deixar o assunto a critério de cada uma. Não há interferência em matéria que compete ao gosto e às possibilidades das direções. Ficou expresso, apenas, da parte do Governo, o apelo para que se aprimore a qualidade.
"Assegurar uma transmissão de alto nível" é o propósito definido pelo Ministro das Comunicações. A Embratel ajudou muito na implantação do sistema. Ainda restam testes a serem coordenados e analisados pela empresa. É natural. portanto, que a este trabalho comum, executado pelas emissoras, Governo e fabricantes de televisores, corresponda uma programação satisfatória.
Atualmente a TV em preto e branco dirige-se, quase com exclusividade, aos públicos incluídos pelos programadores nas faixas B e C. Oferece-se a esta massa de ouvintes o espetáculo de cunho popular que, não raras vezes, deriva para o popularesco. No debate sustentado em torno do assunto não faltou, entre outras explicações, a de que os aparelhos permanecem ligados com maior freqüência naquelas faixas de audiência.
A justificativa parece falaz. Se o público da classe A, que tem maior sensibilidade cultural, desinteressou-se aparentemente da televisão, é porque ela se especializou num tipo de programa voltado para a ressonância imediata. Por outro lado, Os públicos B e C não merecem o tratamento em tom menor que lhes é dado. O popular não significa necessariamente amplas concessões ao chamado gosto da grande audiência, que neste caso, não foi consultada. As pesquisas de audiência nem sempre caracterizam um nível de recepção. Nivelar por baixo os programas, a pretexto de que a massa dos ouvintes assim o exige, é considerá-la indigna de mensagens menos circunstanciais.
A televisão brasileira já está em condições de dosar melhor as suas mensagens sociais, equilibrando o entretenimento saudável com a função educativa que figura também, e principalmente, entre os seus atributos. De outra forma ela estaria desperdiçando seu extraordinário poder de influenciar a massa no sentido dos apelos permanentes. Não é outro, certamente, o pensamento do Ministro Higino Corsetti, ao pedir menos improvisações e mais denso conteúdo qualitativo.
Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 42723